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sábado, 9 de janeiro de 2010
A cidade
Andando, pela beira rio, fazendo minha caminhada matinal, encontro um papel amassado, jogado no lixo. Abaixo e pego com curiosidade, talvez um bilhete de uma amante, ou alguma falcatrua. Somente algumas anotações de algum pretenso escritor. Cheio de erros de concordância e pontuação. Transcrevo aqui na íntegra.
A minha literatura é universal. Explico: Em qualquer crônica, deixo lacunas para que o caro leitor altere à sua maneira, os nomes dos personagens, cenários no intuito de torná-los mais verossímeis e, assim eles (Os personagens) se apresentarão a todos, mais autênticos e humanos e por isso mesmo, a maioria das vezes, inescrupulosos e cínicos.
Numa pequena cidade (Aqui nessa lacuna, poderão colocar qualquer uma, por exemplo, Ubá, fica ao vosso critério), logo após o pleito a ala vitoriosa, (pois nessas cidades só tem os que mandam e os que obedecem), promove o primeiro debate, se podemos chamar assim, pois nessa assembléia estão presentes somente os vereadores de um partido só e o povo (Aqui não tem como substituir, pois (“povo” é povo aqui e na caixa prego), que os elegeram. E essa reunião discutirá as principais “obras”, o leilão de cargos, enfim o desmando geral.
Não critico aqui o povo (pobre) o verdadeiro o que trabalha, este é humilde, simples, bom, por isso mesmo acreditam em tudo, na sorte, na tele sena, mega-sena, quina, e outras maldades. Até eu que sou mais bobo, naqueles dias de poesias, faço minha fezinha.
Pois bem e m toda divisão há confusão, igual à partilha de bens. Há sempre brigas e fofocas uns querem mais, falam mal, se chutam, e vira um pandemônio, mas que no final chegam a um “ponto” em comum. Prestem atenção: Esse comum não é de comunidade.
Na câmara recém construída, os afilhados prancheados, a gordura ultrapassando os limites das poltronas de couro legítimo, compradas sem licitação aquelas caras de bonachão, nunca pegaram no pesado, suas mãos são mais lisas do que bumbum de nenê, sorriem imbecilmente já imaginando a sala que vão ganhar para fazer nada, com ar condicionado e uma secretária sorridente nos quatro anos de desgoverno.
Os diálogos que virão, estes suguei, de um conto antigo, mais ou menos do século dezoito e La vai pedrada. Singular como soa atual. Tais homens por incrível que pareçam não progrediram emocionalmente. Por isso peço-vos, leiam com prazer, pois a leitura é para tal, mas não custa nada, um pouco de reflexão. Conselho gratuito: Reflitam na hora de votar, nem que seja para eleger o síndico de seu prédio, ou a garota da laje tão em moda, nas colunas sociais.
E se o tal candidato são daqueles que pagam para saírem em colunas sociais, dão tapinha no ombro, vivem com os dentes no quaradouro desconfiem. O melhor jeito de descobrir: Se o tal é daqueles que para falar primeiro coçam a garganta, imposta a voz, olha para um ponto perdido sem olhar nos olhos corram dele. Se vão a todos os velórios até naqueles que não sabem nem o nome do santo, olha para todos os lados, fingem tristeza desses fujam.
E se, contudo, com todos esses cuidados, elegemos um (lacuna), para nos governar, só nos resta rezar para que eles não tomem o que é nosso, a honra, pois o dinheiro o parco dinheiro já nos tomaram no início de ano, com inúmeros impostos, só nos resta encher a cara como faço, todos os domingos. Não faço apologia à bebida. Desculpem-me leitores, mas as que eu bebo eu pago, às vezes a vista outras no “pendura” com o garçom meu amigo e canto aquela musica “deixa a vida me levar, leva eu”.
Aí vão os diálogos ouvidos por alguém que não quis se anunciar (sicrano), naquela pequena cidade que demos o nome de Ubá para exemplificar, mas fique a vontade para trocar, aí estão às lacunas, é só preencher com o nome devido.
-Senhores, senhoras presentes! Conclamo todos para nesse primeiro dia de nossos mandatos, para unirmos esforços e trabalharmos furiosamente em prol da comunidade desta nobre cidade de povo carinhoso. Quando, um dos nossos filhos, em viagem pelo mundo, principalmente nas praias capixabas, orgulhar-se da boa terra e passarem a chamar “ubabão” ou coisa que o valha. Para isso é necessário fazermos uma obra, não subterrâneas como os opositores querem, mas algo grandioso, para nos orgulharmos de citar- La fora nossa origem, com a boca cheia, não somente do suco da manga, mas também de muito orgulho.
-Apoiado!
É inadmissível senhoras do “corte grande” bairro de nossa linda cidade que municípios vizinhos e bem menores, insignificantes, em toda essa zona, cheias de mendigos, indústrias aquém das nossas, tem em suas praças, obras magníficas...
-Vergonha!
E riem de nossa cara com toda razão. É só oferecerem algumas benesses, para que percamos algumas indústrias. E ainda nos acusam de ingratos.
Outro: - Meu caro... Pausa. Continua olhando para o teto: - essa coisa de honra, estou pouco me lixando, são todas conversas para boi dormir. Faz-se ouvido de mercador e pronto. Mas a obra essa é importante.
-Meu bom Deus! Se construíssemos em uma de nossas praças um chafariz e jorrando cascatas sobre a estátua de um de nossos vultos, iluminados por fachos de luz. Hem! Hem! Seria orgulho de nossa terra querida. Um grande benefício para toda comunidade, principalmente para a rede de hotelaria, bares e afins e principalmente para nossos bolsos.
Nisso começou umas risadas e burburinho.
-A pura verdade outro falou. Até para nossos pobres que passariam ao largo envergonhados do luxo.
Aplausos quase botam a câmera abaixo. A obra fora votada em primeira instância, urgentíssima.
O prefeito esse momento de êxtase voltou os olhos ao púlpito e além nas montanhas, prenunciando a inveja dos municípios vizinhos. O vereador conversava com o vizinho: “Todos os cargos foram repartidos”. O padre impostava as mãos, pois a igreja matriz fazia parte do complexo central. O único jornal (lacuna) deu manchete, extraordinária, de página inteira; aumentaria seus comerciais.
E tudo chegou aos termos ou quase. Depois de construído o chafariz se descobriu que a mina de onde retirariam a água tinha secado e pior não acharam um vulto da cidade verdadeiramente honesto.
Não haveria a grande inauguração, falada aos quatro cantos através da rádio e colunas sociais? Como saciar as senhoras que fizeram seus vestidos em confecções de fundo de quintal, e pediam segredo, como se fosse de grandes estilistas? E o colunista que já fizera sua lista de “mulheres luz” amealhando uma boa “grana”, pois todas pagaram à vista? E os discursos que já foram escritos por um rimador que se dizia poeta, e sentava-se na primeira cadeira da academia? E a benção do pároco, que já havia recebido de antecedência, e já tinha separado litros e litros de água benta? E os pastores que iam fazer um descarrego, livrando a praça do mal?
Inauguraram assim mesmo. Cortaram a fita, que por sinal foi à primeira dama, com uma tesoura banhada em ouro, seguida por aplausos e discursos. Na hora de benzer quando o padre jogou a água benta, dizem que ela fritou como se fosse um ácido sulfuroso, e no descarrego, ouviram-se vozes do além. Disseram que foi um mendigo que com raiva de ter sido deslocado de sua morada, pois vivia ali no banco da praça, tinha jogado água oxigenada e as vozes eram os filhos gritando atrás do muro onde foram jogados.
O dito por não dito, não desconfio nem acredito. Só sei que todos que estavam presentes hoje são todos louros com os cabelos oxigenados. E a praça, essa já tentaram de tudo para revitalizá-la, mas não tem jeito. Servem somente para os apontadores de bicho, mulheres da vida fáceis e aposentados e esses dificilmente pagam impostos.
Até hoje, ao entardecer um velho homem, - igual ao filósofo que andava com uma lanterna na mão, e quando questionado respondia: Procuro um homem honesto, passa sob o chafariz, ilumina o próprio rosto, dos outros e cabisbaixo, olhar perdido, some na escuridão.
Autor(lacuna).
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