Sonho
Acordei
sobressaltado: um sonho numa cidade assombrada.
Lá
estavam meus avós sentados em cadeiras
de balanços.
Sem
pressa.
Tricotavam.
Riam petulantes. O relógio da sala batia doze vezes.
Não
deram por mim.
Nesse
instante das badaladas, pararam de ri, escutando ou pensando algo.
Olhei
o relógio.
No
meio da sala um carrilhão.
E
o tempo que não passa... E o tempo que não passa...
Ah!
O tempo. Há o tempo.
Meu
gato Mimi deitado no tapete.
Umas
bolas de gude num saco de balas.
Uma
caiu e girou pelo canto da parede.
Encontrei!
Encontrei!
Encontrei
minha bolinha colorida, encontrei!
O
pião! O pião! A linha unia as pontas das lembranças.
Ninguém
deu por mim.
Mimi
correu atrás dando tapas ao vento.
Saltou
a porta e saiu.
No
centro da praça um parque.
No
coreto a banda tocava.
Música!
Música!
Veio
voando com o vento.
Uma
roda gigante.
Um
carrossel cheinho de cavalos brancos,
Vazio
e girava.
Corri
e sentei-me num alazão.
O
carrossel girou e girou tão rápido que eu quase perdi o fôlego.
Pensava
comigo:
“Não
temas desfalecer, pois é só um sonho,
Um
sonho mirabolante,
De
uma criança encantada.”
E
o carrossel girou... Girou...
Sabia,
eu sabia que no meio da sala,
O
relógio não parava.
TIC
TAC TIC TAC
TIC TAC TIC TAC
TIC TAC TIC TAC
TIC TAC TIC
TAC TIC TAC
TIC
TAC
TIC…
Meus
olhos jamais vira coisa igual.
O
cavalo me levou para todos os continentes.
Voava
entre as nuvens.
Nuvens
doces de algodão doce,
Doce
vida que já foi.
O
vento bateu a porta,
Corri
de volta para casa.
O
relógio parado.
A
cena parada.
Pausado.
Já
não eram meus avós, mas meus pais.
Os
cabelos branquinhos... Branquinhos que dava dó.
O
dó que eu tinha era que eles não estavam na mesma dimensão.
Nem
prestavam atenção.
Mamãe
balançava-se na cadeira,
A
cabeça tombada de lado sonhava,
Papai
ouvia seu rádio, atento as notícias...
Nem
me viram chegar.
Entrei
pé ante pé,
Só
Mimi miou como fazem os gatos, desconfiados.
Segurei
o ponteiro das horas e o tempo parou.
Nesse
momento o vento,
sempre
o vento,
Entrou
pelas janelas, bateu portas e panelas,
E
um redemoinho foi tudo metamorfoseando,
E
num átimo,
Criança eu fiquei jovem, fiquei moço, fiquei
velho,
E
o relógio da sala voltou a funcionar.
A
sala vazia,
Só
o
TIC TAC TIC TAC TIC TAC TIC TAC...
Indefinidamente até eu acordar.
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