Foto retirada do site https://br.123rf.com/photo_12488692_casal-se-beijando.html?fromid=Rk9NNVppOXZ2aXF0QVBTSGRqNFVaQT09
Do Lar
Casados há
pouco, eram como dois pombinhos. Viviam se beijando pela casa. Já tinham
experimentados todos os cantos para o amor. Muitas vezes pegávamos suspirando
“o amor é lindo”. E assim se passou longos anos.
De resto que Marina agora mãe de gêmeos, achou
por bem arrumar uma empregada, tinha muito trabalho, estava fazendo a faculdade
uma pessoa para ajudá-la nos afazeres.
O marido era
empresário no ramo de exportação e passava quase o dia todo fora. Ele
prontamente aprovou, seria também uma companhia. Ele disse. As amigas é que
não. Disseram:
-Outra
Mulher em casa! Menina! Lá em casa não. Nem morta!
A outra:
- Ainda por
cima tão linda! Vejo falar tantas coisas, tem muito homem aí com filhos fora
que a trouxa da mulher só sabe no velório. Como dizia meu pai, o porco e homem
só se conhece depois de morto.Comigo não jacaré!
Marina não
deu ouvidos, afinal confiava em seu marido. E dele tinha sempre ouvido coisas
boas do tipo, um homem elegante respeitador e de família.
Assim se
passaram os anos. Os filhos formaram e na formatura estava lá, a babá que os
criara. Recebeu de gratidão buquê de flores e menção no convite.
Era um
convite preto, de veludo, com letras desenhadas em dourado muito bonito por
sinal, devem ter gastado uma grana. Dizia na folha interna:
“Agradeço
aos meus pais Marina e Sérgio, pelo apoio e dedicação,
“Aos amigos por nos aguentarem esse tempo todo
sem reclamar,
“Aos avós
tão fofos,
As
namoradas,
“E
principalmente a Patrícia, nossa segunda mãe, esse anjo que caiu do céu em
nossa família, obrigado por toda amor, dedicação e paciência”.
Marina
sorriu no dia, vendo os gêmeos dançando a valsa com Patrícia.As namoradas
enciumadas.
Marina, num
vestido longo da cor azul, enfeitada de pedras, deixava partes dos seios a
mostra, sem lascívia, somente parte física
formosa que os gêmeos mamaram até os três anos. Pareciam dois bezerros,
ela dizia rindo, com os dentes
branquinhos e o lábio rosado. A festa estava linda ela falava e seus olhos
brilhavam. As amigas estavam iradas. Uma chutava a canela das outras. Apontavam
com acenos.
No outro dia
não falavam outra coisa.
-Como pode
tanto “topete”! Tomando o lugar da mãe
na hora mais sublime e orgulho, que é a hora da valsa.
Marina dava
gargalhada.
-O que é que
têm meninas, eles a adoram! E ela é uma querida!
-E você não
tem ciúmes?
-Mas de que?
Ainda mais que sou péssima partner. Piso sempre no pé de quem eu danço.
Diferente de
Sérgio. Ele sentiu um baque. Não demonstrou. Na hora até aplaudiu
demoradamente. Foi até exagerado. Continuou sozinho depois que os outros
pararam. Tinha tomado uísque a mais. Depois da valsa, ele saiu do salão para fumar
um cigarro, eu o observei bem, os ombros
um pouco caídos. Debruçou-se no parapeito e ficou olhando as roseiras. A menção
do seu nome foi mínima, ele que morria de trabalhar ficando até tarde no escritório,
para dar-lhes todo o luxo, carros, faculdade particular, e quem ganhara os
elogios, os holofotes, merecido claro, mas ele merecia mais.
Assim
decidiu que a partir daquele dia, iria dedicar mais tempo à família, e naquela
mesma segunda- feira fechou mais cedo o escritório de importação e exportação e
veio com seu carro pela avenida, sentindo-se mais leve, a brisa do ar estava
gelada, choveu, as luzes da cidade refletiam as cores vivas nas poças do
asfalto repetindo cenas de filmes. Estacionou na garagem. A luz do quarto
estava acesa. “Será uma surpresa e tanto para Marina! Ela vive me cobrando, que eu trabalhos demais,
que isso e aquilo...
Subiu os
últimos degraus assoviando a música tocada em seu casamento. “Can I Have
This Dance”. Lembrava bem.Marina estava linda de branco. Foi à maior festa dos
últimos tempos.
Empurrou
levemente a porta. Só as luzes do abajur. Um vinho aberto pela metade, duas taças.
Na cama um casal inusitado:
Marina e
patrícia beijavam-se loucamente. Ele nem sequer foi notado.
Fecha a porta.
Entra no
escritório e dá um tiro na cabeça.
Isso foi tudo.
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