Foto tirada do site: https://www.significadodossonhos.inf.br/sonhar-com-crianca/
Ladrões de sonhos
Naquela
manhã de agosto Pedro deparou-se com uma caixa. Uma caixa vazia. O que esse
objeto está fazendo aqui, ele questionou. Uma caixa tem a forma retangular. De cor
marrom. De papelão. De fora dava para vê
duas laterais do mesmo tamanho e duas larguras da mesma forma. Vista
de dentro, se ele diminuísse do tamanho de um polegar, veria quatro paredes paralelas,
um teto e um piso. E se vista por uma de
suas arestas veria três faces.
Nada
de extraordinário a não ser comprovar que, para cada coisa há no mínimo três pontos de vistas. E assim sucessivamente.
Então,
fique sabendo caro leitor, se lançares uma opinião seja qual for acerca de algo
que jura ser a verdade absoluta, haverá outras tantas da mesma forma.
E
foi por isso, portanto, que o seu grande sonho era ser escritor. Tantas
possibilidades de contar a mesma história. Mas só tinha um, porém. As grandes
idéias só surgiam em sua cabeça nos sonhos. Acordado ele era apenas um
mequetrefe de frases incoerentes e desconexas.
Assim decidiu essa manhã, anotar as idéias que
surgissem e para isso arranjou um caderno e o colocou na cabeceira da cama, “para
que elas não fujam ao acordar”.
Assim
as anotações avolumaram-se rapidamente e encheu graciosamente inúmeros cadernos. Só parou quando percebeu que tinha episódios para
toda a vida. A partir daí resolveu separá-los e editá-los da melhor forma
possível, precisando para tanto passar a limpo e assim correu para a papelaria
da esquina.
Quando
cruzava a rua da frente de casa, um carro descia no sentido contrário. Só deu
tempo de fechar os olhos. Pimba! Acertou-o
ao meio. Essas cenas para matar os personagens, se parecem mais tirados de
filmes de terceira categoria. Não é necessário nenhum gênio para criá-las. Mas
com Pedro não foi assim fácil. Depois do acidente vamos encontrá-lo suando frio
em sua cama, desconsolado. Não sabia se chorava ou se sorria. Ficou puto
da vida por não ter desconfiado de nada. Ou seja, havia mais de ano que
dominava seus sonhos. Pressentia quando
estava dentro de um e assim podia ousar. Chegou ao cúmulo de atirar-se de um prédio de dez andares. Sabia que ao abrir os braços voaria como
heróis da revistas em quadrinhos.
Como
não percebeu dessa vez? Como se deixou
levar por caminho leviano, sem desconfiar de nada? Essas questões o deixaram deprimido. E o pior
foi compreender que os cadernos e todos os textos se evaporaram em uma fina
névoa do sonho. “Esses sonhos são orquestrado pelo anseio de seu ego ávido por confetes e purpurinas, dissera o psiquiatra
que o atendeu.
E
naquela manhã por conseguinte, levantou
sem esperança alguma de lembrar todas aquelas lindas histórias que havia tão
bem copiado naqueles cadernos. Uma tristeza enorme o abateu.
Depois
da alta, pois ele andou um tempo meio atarantado, levantou-se e tomou um banho
de água fria para retornar a lucidez. E ate beliscou-se na esperança de estar
sonhando novamente.
Dura
realidade. A água fria escorreu pelo seu rosto, pelo seu corpo e caiu no ralo
um liquido azul anil.
-Azul! Azul!
E
olhou as mãos toda manchada de tinta. Sobre a escrivaninha uma caneta com a carga gasta.
-
Então não foi sonho? Isso que eu penso que é realidade é que é o sonho?
Saiu para a rua sem destino. Correu para o lugar de seus sonhos, que era a
livraria que ficava na esquina de sua casa. A moça sentada na cadeira, os cabelos
pretos e lisos em seu espaldar ele debruçou-se por trás, leu por cima do ombro esguio dela e
sentiu o suave perfume das páginas dos livros. Ângela, era o nome da moça, sorria com o
prazer da leitura. Sempre quando ele
chegava, ela fechava o livro marcando a página com o indicador da mão direita e
levantava seus olhos negros e fixavam nos dele.
Logo
Pedro percebeu no poema que ela lia um de seus textos, ou seja, todos os seus textos estavam ali distribuídos e silenciosos nas estantes.
De
modo que, tudo o que ele sonhou escrever
estavam ali, nos livros dos outros.
Eram
eles os ladrões de seus sonhos?
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