quarta-feira, 22 de maio de 2013

Considerações de um vagabundo




                              

                 Considerações de um vagabundo







Desde pequeno sobrevivo aos trancos e barrancos. Seu Joaquim meu pai, disse: esse moleque vai longe. Depois que sobrevivi a uma diarréia monstruosa e fui atropelado por um jegue, peguei sarampo catapora e caxumba. Pequeno sitiante das bandas do açude grande meu pai é um sobrevivente nessas terras secas, aprendi com ele.

Um pedacinho de terra que não dava para botar dentro nem duas rês, pastou,plantou e sustentou por longos anos toda a família de quinze pessoas e mais o dono da terra que era tudo a meia. Incrusível minha mãe. Essa gente não presta. Ele vinha quando a gente tava preparando as coivaras. E tome vara.

Todo mundo sabia incrusível meu pai, aproveitando-se na hora de assinar o contrato. Fazia uma camaradagem. Patrão sempre come o empregado. De um jeito ou de outro. Nada muda. O empregado toma sempre no fiofó.

Por isso saí mais cedo de casa. Estudar não podia. Os livros eram caros e o tempo que demandava, não carecia. Trabalhar pesado não queria. Burro de carga não sou. Logo que fiz quinze anos parti para a capital para tentar uma vida melhor. Não queria ter a mesma vida de meu pai, trabalhando de sol a sol como burro de carga. E nas dificuldades comer calango. Isso não queria.

Na rodoviária foi um chororô danado. Parecia que tinha morrido alguém. E eu si rindo, pois senti que estava nascendo. Ruma de gente besta! A viagem todinha fiquei olhando a rodagem pela janela. Um poste passava, dois postes, mil postes. Cercas infinitas. O mundo esta cercado. Vivemos reclusos, dentro de nós mesmos. Nem eu me conheço. Quando via uma casinha perdida na solidão do mato lembrava os meus e pensava: ô povo besta danado, viver nesse deserto e ainda por cima, seco. Depois dava vontade de chorar. Temos que viver duma forma ou de outra, feliz ou infeliz que se foda.

Assim que cheguei à cidade grande procurei um emprego que não fizesse muito esforço, mas eles queriam experiência e eu não tinha. Então depois de muito bater cabeça, peguei uma caixa e flanela e comecei a engraxar sapatos. Era o que eu podia fazer por enquanto. Dava pouco dinheiro. Era da mão pra boca. E no início não sabia, depois fui pegando a manha para deixar um sapato polido. Tinha o troço de esquentar a tinta. E além de polir os sapatos as pessoas querem ser polidas também, chamadas de doutor, puxar o saco mesmo. Questão de ego. Tinha um neguinho companheiro meu que sabia fazer isso muito bem. Aqui doutor, senta aqui, colocava uma espuma na cadeira, e ia perguntando pela família dele, essas coisas que nunca me interessou. A família dele que se fodesse. Fodam-se todos. Tomar no cu.

Nisso eu não conseguia juntar quase nada. Dava só para comer. Passei assim uns dois anos. Depois resolvi diversificar o negócio. Vi alguns vídeos sobre economia e resolvi ser flanelinha à noite para complementar a renda. Saí à procura de um lugar (o ponto é item principal dizia no vídeo) e vi que a coisa estava difícil. Finalmente descobri uma praça mais distante do centro porque as outras já tinham seus donos. Já estava toda loteada entre os flanelinhas e os traficantes. Eram os donos da rua.Nunca vi uma praga maior. Eles chegam a tirar um bom dinheiro. “Ô patrão vou olhar seu carro”, se o cara é uma munheca damos um arranhão no possante pra ele aprender. Roubar não queria nem traficar também. Isso eu não faço, porque sei que destrói muito lar, e se pego a cana é grande, embora os lares já não sejam os mesmos.

E porque os drogados ficam iguais zumbis nem parece gente, rondando ali ao redor da praça, perdidos. Tem jovens, mulheres e idosos. Dá dó, todos imundos, os olhos sem brilho, só pensando no diabo da droga. E são capazes de tudo para consegui-la.

Uma vez uma garota chegou para mim e pediu-me dinheiro. Se eu tivesse algum puto no bolso não daria por não ser de acordo. “Não der-lhes o peixe. Ensine-os a pescar”. Deve ser assim o ditado. Puta que pariu para os ditados. Antes só que mal acompanhado. Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje. Dizes com quem andas que direis quem tu és. As aparências enganam. Porra! Porra! Que ensinamentos! Aí ela veio com uma conversa fiada, que podia fazer qualquer coisa comigo principalmente chupar meu pau. No tempo estava carente, longe de tudo e aceitei só para confirmar o serviço. Nisso acendeu uma luz em mim que clareou minhas idéias. Eu poderia montar esse tipo de negócio, afinal dizem que é a mais antiga profissão do mundo e se ainda não acabou é por que dá lucro.

Levei-a para um quarto e realmente ela não fez feio. Parecia chupar um sorvete de casquinha. A boca parecia aquelas coisa de desentupir pia. E quando lambia fazia uma cara de completa felicidade. Conversei com ela depois sobre o negocio e ela prontamente aceitou. Primeiro começaria com três, ela e mais duas amigas que conhecia. À medida que fossem melhorando a clientela, aumentaríamos o plantel. Lembrei das vacas do meu pai. Dei uma gaitada.

Dito e feito. E o negócio foi concretizado. Alugamos uma casinha de meia água, que tinha lá nos fundos um quarto grande com uma cama de casal e banheiro onde seria feito o principal.

Uma sala com TV, uma vitrola, uma poltrona, mesa de centro e revistas para a clientela lê. Aparece todo tipo de gente, inclusive poetas e escritores. Até senadores já recebemos. Ali as meninas ficam conversando ou dançando, sempre em movimento. Os homens são fisgados pela visão.

Vez ou outra quando o movimento esta fraco elas saem para a rua e assim a propaganda é ambulante. Mais um ponto para esse negócio. Hoje não. O negócio ficou bom. Tem até dois seguranças para segurar as arruaças. Tem freguês que quer sair sem pagar.

Tem hora que fico matutando comigo.

Pra você ver, investimento quase zero, não paga impostos, só uma vez ou outra molhamos a mão de algum detetive. E o sexo é combustível para todos. Vivo ou morto, principalmente os seres humanos. Sabedor das safadezas deles, Deus criou logo dez mandamentos. E eles mesmos foram criando diversas regras, leis, tabus para frearem seus instintos e perversões.

E não só de amor é feito o mundo. Deus quando criou a mulher foi feita para servir-nos. E o sexo seria de bom grado. Mas muitas vezes as mulheres inventavam desculpas para não irem para cama com seus homens. Uma hora uma dor de cabeça, preocupações com isso, com aquilo outro, indisposição, etc, e etc.

E aí é que deve ter surgido a primeira prostituta, rapariga ou quenga. O homem pediu o favor à outra e a mulher deve ter dito assim: Faço! Mais tem que pagar! Dizem que é desde antes de Cristo. E esse negócio perdura por séculos e séculos sem fim. Mas não é uma vida fácil como dizem por aí. Receber todo tipo de homem em coisa tão íntima. Vôte! Até na bíblia tem um caso assim. Madalena, com certeza perambulava por ali aproveitando a multidão que assistia ao calvário de Cristo, quando viu Ele esparramar-se pelo chão. Condoendo-se Dele pegou de uma toalha e enxugou-lhe o rosto. Ele teve boas palavras com ela, que seus pecados seriam todos perdoados e disse mais ainda, que se alguém dali não tivesse pecado que atirasse a primeira pedra. E ela com certeza sabia cuidar dos sofrimentos humanos.

Sofremos sim e acho incrusível pela nossa culpa. Criou-se tanto tabu a respeito do sexo que surgiram daí todas as perversões, os estupros, a pedofilia e toda a safadeza existentes.

Inventamos o casamento, um homem não pode ter duas mulher, tem que se vestir para cobrir as vergonhas etc e etc. Muita regra.

Ou o inverso. Não sei dizer. Sou só um vivente nesse mundo sem eira nem beira. Nenhum estudo. Queria tanto aprender ler. Nem desenhar meu nome eu sei. Assino com o dedo quando é preciso. E antes eu era doido para ser poeta. Até aprendi a aboiar. Fazia versos de ouvido de ver os outros, nas vaquejadas ô tempo bom. Se tivesse tido uma chance. Apenas uma chance. Mesmo assim gosto de livro. Pego para sentir o cheiro, ver as gravuras. Ou então ficar vendo as letrinhas uma atrás da outro no seu silêncio.

Eu por exemplo quando menor vivia com os olhos baixos, sempre procurando ver por debaixo das saias. Tinha uma senhora de todo respeito, toda vez que ela se abaixava eu ficava de olho comprido nas mamas dela. Um dia guiaram minha mão por paragens desconhecidas, que assustei com o toque. Subi os dedos trêmulos pelas pernas roliças, ávido por chegar a algum lugar desconhecido, mas sabido. Quando então, senti espinhar minha mão. Hesitei um momento. A curiosidade foi maior. Quando olhei, algo assim como uma língua, uma cara de gato fazia careta para mim. Tantos sentimentos nessa hora incrusive o medo.

Já havia visto em revistas, mas era só em desenhos. Serviu para dá experiência a estranheza.

Depois devagar fui perdendo o medo e agora gosto muito de ficar alisando a cara do gato. Puxo até pelos bigodes. Até do cheiro já meio me acostumei. Deve ser assim, pois se não tivesse catinga a gente não saia de riba. Né verdade? E é uma coisa que vive em nossa mente, uma obsessão. Por quê?

Tento explicar do modo que vejo as coisas. E as coisas proibidas e escondidas chamam mais a atenção.

E isso tudo anda escondido. Se andasse descoberto como os bichos não seriam assim não. Já vi todos os bichos no oitão de casa. A vaca Malhada quando deu cria, eu fiquei olhando com nojo, o bezerro sai pelo chibiu da vaca todo sujo, e ela lambe, e quando ele fica limpo se equilibra e anda. Já o homem nasce totalmente dependente.

Aqui na capital um dia fui numa praia de nudismo. Achei muito estranho no início. Quando conversava com uma mulher, não tirava os olhos do escuro de entre as pernas delas. Enquanto os outros jogavam vôlei, andava para cima e para baixo, parecia até fingimento, mas depois a gente ver que fica normal. No final do dia eu já conseguia conversar tranquilamente, olhando mais nos olhos dela, na cara dela, sem tanta atenção nas partes baixa. Vem com o tempo e a experiência.

E esse negócio de sexo parece muito como contar uma história. Os bons contadores têm esses truques. Não vai diretamente à parte principal. Arrodeia o assunto por várias páginas, como se diz, cozinhando em fogo brando, com cuidado de não enjoar o ouvinte. Depois finaliza com algo forte e rápido para prender a atenção. Conheci um assim desse jeito nessas bandas de onde vim. Eh! Contador porreta! Os meninos ficavam tudo sentados em volta, e era princesa pra ali, gigantes pra acolá, e a gente ia sonhando, e até esquecia as safadezas. Menino só pensa em safadeza num sabe.

Então eu passei para as meninas as malícias dos contadores de histórias e escritores em geral. E elas aprenderam direitinho. Tiram devagar a roupa, fazem caras e bocas, e depois termina rápido, pois tempo é dinheiro nessa profissão.

E o negócio vai bem. Já aumentamos o plantel e temos mulheres para todo o gosto. Uma japonesa, uma loira uma negra, uma mulata, travesti e homo sexuais em geral. O homem é tão escroto que acha que há diferenças entre as raças. Por isso temos que ter diversidade. Acha que entre a loira e a negra, a mulata e a japonesa há diferenças. E não há. Aliás, quando morei na roça os sitiantes de lá, substituíam as próprias mulheres por mulas. E ninguém reclamava.

Mas voltando ao assunto, tinha clientes de todas as classes. Tinha juízes, advogados, médicos, comerciantes, deputados, senadores etc e etc. Penso que é porque em casa eles têm vergonha de fazer todas as safadezas que fazem aqui. Tem muito mulher em casa que não dá o que seu homem deseja. Aí eles procuram fora.

As posições papai e mamãe são as menos feitas. Aqui se fala em posições de todos os tipos que um dia vi num livro de um japonês. Chama-se camasutra. Foi a japonesa que trouxe. É um livro grosso com desenhos de todas as posições sexuais que podem ser feitas. Uma melhora a penetração, outra rela mais no grelo, outra a mulher manda e assim por diante. Diz- se que eles sabem meter muito bem. Só não se compara com o paraibano não. Aqui sabemos usar a macaxeira muito bem.

Tem um “cara” aqui que não vou falar o nome por motivos óbvio. Nesse negócio o principal é o segredo. O tal cara quando goza quer que a mulher faça xixi sobre ele. E paga por isso. Se em casa fizesse uma proposta dessas, sua mulher pediria até o divórcio. Outro gosta de vestir as roupas das meninas. E passeia pelo quarto. E todos têm algumas particularidades. Esquisitices. E o mundo é esquisito. E põe esquisito nisso.

Comprei um videocassete quatro cabeças e varias fitas de sacanagem. Foi um bom investimento. Eu particularmente não gosto muito, acho que não tem história, enredo essas coisas primordiais. Vão todos tirando as roupas e preenchendo os orifícios.

Para me agradar essas fitas teriam que ter uma história, que não fosse tão crua assim como se está matando um porco. Derruba ele, uma gritaria diabólica, enfia-lhe o punhal na garganta e fica socando, socando e socando. Depois estrebucha vira os olhos em caretas horrendas.

Um dia desses vi um filme que no início me agradou e lembrou minha infância um pouco. Era um médico que examinava as pacientes. Ah! Chiquinha, só você teve coragem. Nenhuma outra teve. Mas a mulher na fita extrapolou. Arreganhou-se toda. Você não Chiquinha! Lembro bem. Ficou estirada na maca improvisada, gelada, coração em desabalada carreira, e eu mudo, vendo-lhe o risquinho no meio das pernas.



E se eu fosse contar todas as peripécias que nesse tempo vi, encheria mil páginas de um livro ou daria para enganar o rei das mil e uma noites com mil histórias sem fim. Mas o que quero dizer é que o ser humano é muito estranho. Ele é capaz de criar tudo. Se deixar até deus. Vi falar que tem povos politeístas e monoteístas. Um cara um dia me explicou. Tem de tudo nesse mundo. Tem até ateu. Ateu não acredita em Deus. Um ateu que eu conheci ele dizia bem assim: “O mais importante do mundo, está dentro de uma calcinha”. Não sei se ele tem razão. Acho que quebrado todos os tabus o homem viveria melhor. Mas por enquanto é melhor ficar tudo assim como estar mesmo porque as igrejas permanecerão cheias, os psiquiatras terão seus serviços, os hospitais não conseguirão atender toda demanda, o casamento se manterá firme e, principalmente esse meu negócio de putas, andará assim de vento em popa.



sexta-feira, 17 de maio de 2013

A voz do povo

                A voz do povo


Essa coisa de profissão, coisa danada de errado. Pia só. Quem trabalha pouco ganha muito e quem trabalha muito ganha pouco. Eu trabalho que só cachorro, ganho, mal, mal dá pra comer. Meu serviço é roçar pasto.  Ô serviço excomungado de ruim. Corpo arde, dói e dói.  E quando de morro acima, ui- ui moço, com embira, pior é.  Sol a pino, meio dia, quentura dos diabos, inferno.   Exame de maribondo, vixe, ai -ai.  Deus acuda. Trabalho honesto, bem sei.  Não se ganha o merecido.
E as professorinhas.  O que ganham? Amém. Pouco com Deus é muito. A primeira minha foi na rua do rio. Assunto que pais não entendiam. Hoje toda escola ensina.  Sexo. Foi assim.  Cheguei lá desconfiado sabe. Movimento fraco.  A nêga Fulô ouvindo umas músicas lá dela. Na janela, olhar perdido.  Baixinha, nariz grande e anca larga. Um bundão ó.  No quarto, bobão ela foi logo dizendo pra mim:
              -Não se avexe não bichinho. Tire a roupa vai. Coloque ali no canto.
 Devagar, envergonhado. A cueca eu fiquei.  Dois buracos.
             -Mais menino! Deixe de besteira!Eu falei tu-do.
Tirei e joguei em cima da mala com a ponta do pé.  O pinto dormia! Pois ela pegou assim pelo pescoço como se fosse um passarinho e ficou um tempão alisando, beijou até. Aí eu esqueci que tava na presença de uma mulher, num sabe. Faz de conta que eu to no mato com os bichos, pensei.  Isso de ensinar é muito importante. Serve pra toda vida. Se serve. Mas que ganham mal, ganha.
Agora tem esse tal de esporte menino.  No Brasil é futebol. Nos Esteites é basquete. Na índia gostam de deitar-se em cima de pregos.  Aqui no sertão nosso maior esporte é sobrevivência. Pois pegue um desses caras do sul e coloque aqui pra eles verem! Não agüentam nem uma semana.
Mas no futebol  os hôme ficam taludos, umas pernas ó, parecem cavalo. Mas o salário, ai quem dera! Quem dera! Uma fortuna. Mais com eles não implico não, vôte. Tem precisão pra nós divertir, pra largar essa tristeza que de vez enquanto aperta em nós. É ou não é? Ficamos olhando vinte e dois home correndo atrás de uma bola, e quando a bola entra na rede gritamos que nem louco. Essa é nossa principal diversão.
E esse ano é ano de copa num sabe. Gastaram uma nota pra construir os campos. Quando pequeno eu me vestia de amarelo e ficava o tempo todo dizendo que eu era Pelé. Isso na escola. No recreio ficava o bucho roncando, pro mode que nem merenda tinha. Nem tinha carteira também. Parei de estudar por isso. Acho que foi o sonho de querer ser jogador. Mas como ser jogador sem nada para comer.
Eu fico tiririca da vida é com os políticos, num sabe. Ou raça de gente excomungada, sebosa mesmo.  E para ser político não precisa grandes especializações não. Ainda mais com essa “democracia” e qualquer um pode se candidatar. Só precisa de uma cara de pau e a arte da mentira. Oxente!  Significa: Demo(Diabo), cracia (não sei não,mas num deve ser coisa boa não).Tiro por exemplo o Vereador Babão.  Daqui mesmo da cidade. Nunca estudou na vida, não tinha nada, andava procurando biscate pelos cantos, sempre falando, isso ele era falante. Quando instalaram aqui esse tal de sindicato dos pescadores e afins ele comprou uma vara de pescar e nunca tinha pescado nada, espie. Não sabia amarrar o anzol numa linha. Mas em vez de peixe começou pescar voto, e logo se tornou presidente. Para a política foi um pulo. Agora tem casa própria, comprou umas terrinhas e os filhos todos estudam na capital.  Mais olha mesmo! Não fez nem o Mobral.
De política não entendo muito coisas, como também nunca vi um honesto bem de vida, rico. Isso nunca vi. Até home honesto ta difícil hoje em dia. No tempo do meu pai sim os home era diferente.  O negócio naquela época era fechado na palavra. Não precisava assinar papel algum. Era no pelo do bigode. Hoje tem cheque, promissória, cartão de crédito... Mais óia, ninguém paga ninguém não. Deus mesmo que não era besta criou logo os dez mandamentos.  Era para se precaver.  Que o home é um ser cheios de sentimentos e tale e coisa e coisa e tale.  Tem a inveja, arrogância, egoísmo, gula no todos sete pecados capitais. Mais quem tem medo do pecado é só o pobre.  O político não. Geralmente ele quer só eles e mais ninguém. Sem concorrência na praça. E depois do pecado, eles têm dinheiro pra comprar o padre, o pastor e paga todos os centavos de seus pecados.
 O político é bem semelhante à puta, quenga mesmo. Óia só.  Tá vendo as filhas de seu Justino. Pois intão! Aquelas gostosuras mesmos. Foram para a capital e de lá mandavam sacolas cheias de dinheiro. Trabalho honesto? Umas sonsas. De onde vinha o dinheiro? Da prostituição certo é. E os pais queriam saber? Neneca de piripituba. Poucos olham de onde vem o dinheiro. Isso é a pura verdade. Aqui mesmo quando moravam foram sempre umas enxeridas.  Aquelas saias apertando as carnes, os seios quase pulando fora! Se dessem um pum rasgava tudo.  E olhavam pra qualquer homem, solteiro ou casado. Não faziam distinção. A distinção que fazia era se rico ou pobre. Não foi uma delas que teve um caso com o juiz? Confirma? E que por isso mesmo acharam por bem que elas fossem estudar fora( a sociedade do povoado, arre!),  que não podia atrapalhar a santa família essas porras todas que o padre falou no sermão. Pois então. Lá nessa profissão delas, recebe homem de todo tipo. É ou não é como os políticos?
Por isso tenho minhas dúvidas. Não sei não mais esses estudos dos meninos não vai ter serventia não. É dinheiro jogado fora. Tem exemplo aqui na família mesmo, home.  Não precisa ir muito longe não. O Cardo meu irmão mais velho, coitado, estudou tanto para ser piloto, chegava aqui, quando era estudante novo, com aquele uniforme branco, até briava no sol. Pois intão.  Aqueles óculos ray-ban na cara parecia ator de Hollywood e as mulheres ficavam doidinhas nele. Pareciam umas éguas em volta do potro. Potro alazão. Ele tinha aqueles mapas, dizia que voar era um sonho, essas coisas de romantismo mesmo.
Aí seu menino, veio à guerra e ele foi para a Itália, alegre e nunca mais voltou.  Que dó me deu. Nem viveu.   Aproveitou a vida por pouco. Depois a guerra acabou, inventaram os heróis e aí ele ganhou um busto no centro da praça até. Mas para que serve? Hem! Hem!  Poleiro de pombos, isto sim.  Vive todo cagado, o coitado.
E aí, nos dias festivos (Dia da independência ou padroeira da cidade), vem neguinho de anel no dedo, diploma na parede reverenciá-lo. O que adianta isso?  Os filhos por muito tempo passaram por necessidades. Fome mesmo, menino.
Aí digo: Isso de ser herói é uma merda só. É bom no cinema. Nas novelas.  Lá na fita o mocinho vive todo tipo de aventura e no final ainda come a mocinha. É ou não é? Eu sempre gostei de filmes de índio. E torcia para eles. Batia palma quando conseguiam arrancar escalpos. Quem mandou o americano querer possuir suas terras? Bem feito. Os americanos é um povo metido seu menino. Em tudo eles põem a colher.
Mas a realidade é outra coisa. É dura. Quando veio a noticia de sua morte toda a família ficou chocada. Só ficaram as lembranças. “O enterro foi lindo, com as salvas de tiro diziam”, como se existisse enterro bonito. Enterro é enterro ora. O sujeito fica ali quietinho, sem vontade, sem liberdade, e a terra depois vai consumindo. Depois ninguém se lembra. Aposto que ele queria era está vivo. Isso sim.
Voltando  aos políticos, na época das eleições vem com aquelas caras de paus, de tapinha nas costas, ir a enterro de desconhecidos, rir pra todo mundo.  Uns desqualificados.  Uns sem vergonhas.
Depois que são eleitos dá isso aqui pro povo, ó. Eu sofri essa humilhação.
Pois veja bem. Babão veio aqui em casa, sentou na minha sala, tomou do meu café e jurou que se eu arrumasse uns votos pra ele, ele arrumava uma colocação pra minha filha, coitadinha. A patroa fez umas pamonhas, um cuscuz, essas coisas para agradar. Arrumei uns quinze votos. Juntemos toda a família que é humilde uns cinqüenta mais ou menos contando os agregados. É certo que só quinze votaram. Na família de pobre tem os invejosos. A coitada ficou bem feliz com a esperança do cargo. Pois foi só ser eleito que ele começou a botar difiliculdades. Era um pobrema aqui outro acolá e o tempo foi passando.
Que não dependia dele, essas nomeações vem do governo estadual e muitas vezes é federal e que tem toda uma fila de pessoas graúdas essas merdas todas fáceis de falar.
E eu fui ficando arretado com ele.
Antes ele era encontrado em qualquer botequim, nas feiras livres, nas filas de bancos, nas lotéricas. Depois de eleito o safado, nem na igreja vai mais. Minto. Ele agora só vai ao boteco de seu Chico. Incrusível eu até hoje não entendi essa amizade.  Diz que adora os tira gostos de seu Chico, aquelas merdas dormidas, que as baratas passeiam por cima. Pia como são as coisas!  E eu doido pra pegar ele de jeito.
Pois num foi Seu Chico mesmo, homem, que disse na cara dele assim de supetão tudo o que eu queria dizer:
          -Olha seu Babão, você pode inté ficar com muita raiva de mim, mas agora a partir de hoje, só voto em branco?
Quando falou isso, olhou até pro chão e cuspiu de lado e todos achavam que ia dá o maior quebra pau. Eu mesmo menino fiquei cavoucando o dedão onde tinha se enfiado um bicho de pé. Fiquei curtindo aquela coceirinha gostosa e se rindo do que seu Chico tinha falado, esperando a reação dele. Isso porque todo mundo sabe, incrusível seu Chico, que ele é defensor das causas das minorias: negros, gays e índios. E eu juro menino, de pé junto, que eu não sou racista não. Inclusível meu irmão por parte de pai é bem escuro num sabe, e olha que pretinho bom.  Alma de branco. E isso de racismo dá inté cadeia hoje. Pois então. E Babão parece um tisil de preto. Daqueles que alumia. Escurinho que nem só. Pois então. Era coisa para briga ou não?
Todo mundo fez aquele silêncio esperando ele estourar de raiva. Até o bêbado Niquinho filho de Maria Helena, balançou pra esquerda e prá direita e disse somente: Êita!
Mais que nada.  Babão ficou só opiniando que não era certo, que o eleitor devia escolher um candidato para depois poder cobrar dele, essas coisas que político fala com aquela voz macia de enganador que votando em branco o sujeito está jogando o voto fora, essas besteiras todas. Incrusível todo esse discurso, ele tem aquilo, como posso dizer, “retórica” isso mesmo seu menino retórica, todo político tem.  Aí eu levantei do tamborete, calcei os chinelos e disse arretado:
         -Não venha com essa história pra boi dormir não seu Babão. incrusível só voto em branco também. Chega de votar em qualquer preto safada, sem vergonha e comunista.
Aí seu Babão foi ficando vermelho, engasgou, gritou, bufou e veio pra cima de mim. Aí entrou a turma do deixa disso.
 Cheguei à seguinte conclusão.  Babão já era um deles. Tinha tudo, na cara.
O que não tinha era vergonha. E fica dito.

sábado, 4 de maio de 2013

Criação








O artesão na solidão da criação escolhe a matéria, o barro.

Mil idéias na cabeça.

Molha a terra, põe para descansar a luz da lua,

No crepúsculo amassa, diluiu, acrescenta e vai dando forma.

Cilindros, esferas, triângulos, vai desenhando,

No final a obra. Arte semi-acabada, o que falta.

O artista necessita dá alma a sua arte.

Faz o perfil físico- psicológico.

Sopra-lhe no rosto. Eis o homem.

Que abre os olhos e anda.

De quatro.

Observa a obra completa.

O artista nunca está satisfeito.

No mesmo minuto que para os deuses são séculos,

Corta e acrescenta na obra.

Olha de longe, olha de perto. Observa.

Agora o homem anda ereto.

Não satisfeito por certo,

Cria de várias cores e aspectos,

E no seu interior, bem nas células,

O grande segredo das espécies.

Orgulha-se do que faz.

Obra e criador se misturam.

Conhece-se o autor pela obra?

Ou a obra sobrepuja-se ao autor?

A sua semelhança.

Quando o homem se vai,

Resta ao autor olhar as mãos

sujas de barro.

Música em Do menor










Música em Do menor





Tenha Do de mim poesia.

Fa -La para ela ,

SI- MI ama,

Ama-me no

Sol –Fa.

Soneto





Soneto





O soneto é parente do verso,

Próximo da poesia,

De mim desafeto;

Não é irmão,

Não é mulher,

Não é mãe:

É só neto.



Rio


Foto do site escritosdealicen.blogspot.com



Ah! Ah! Ah! Rio sim.

Rio, rio e rio.

Rio de tudo e todos,

Ai de mim,

Até Rio de janeiro;

Rio do rio incólume em seu leito,

Rio da vida, uma piada.

Rio dos sérios e dos inocentes,

Rio de águas estagnadas,

Enfim rio: Corrente de água doce,

Pura ou poluídas.

Rio de riso solto,

Rio de tudo e todos,

Rio de mim.

Dó ou pena




Dó ou pena





Seremos pó,

Até tu ema,

Que dó

Cheio de pena,

Que dilema!

Unidos, pois,

Poema.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Virulência






Cansados, da violência diária, certo dia eles resolveram morar num condomínio fechado. Armando, sua esposa e dois filhos pequenos. A vida sorriu para eles. Investiu na bolsa de valores, a grana que sobrava- o que não era pouco-, defendendo o direito dos cidadãos, já que era um advogado famoso e moravam num país que não respeita as leis estabelecidas em constituição, havendo assim muitas questões a recorrer, abrindo um vasto caminho para os bacharéis conseguir a riqueza e tudo que o dinheiro pode comprar.


E o prazer da vez era uma cobertura grandiosa em plena avenida atlântica. O edifício era de alto padrão, muito luxuoso sobremaneira que escapou da sua esposa uma interjeição do tipo:

-Nós merecemos! Fizemos jus a tudo isto. Apesar de que a verdade depende de várias coisas e modifica dependendo do ponto de vista. E seus olhos eram sempre cobertos por óculos escuro sendo assim o prisma que eles viam era outro.

E essa frase viera a calhar e tirou o peso da consciência, ciente que a grande maioria não tinha nem o que comer muito menos onde morar.

-Que os sociólogos ou filósofos pensem no caso e escrevam muitos livros sobre isso. Não me dizem respeito. Não é de minha alçada. Dissera na ocasião.

Mudaram no outro dia. A vista era esplêndida. Via toda a praia, o horizonte juntar-se ao céu, e até ouviam as gaivotas na pesca diária. Tinha um playground de fazer inveja a qualquer hotel de cinco estrelas, com todos os apetrechos que a vida moderna necessita como academia, piscinas, uma normal e outra aquecida, jogos de toda a natureza e espécie. Resumindo: Se quisessem ficar internados, sem sair para coisa nenhuma estavam bem servidos.

E foi o que fizeram. Quase tudo era feito pela internet e isso lhes deu grande tempo de prazer. Dissera um dia Armando ao telefone com um amigo enquanto fumava um charuto e divagava:

-Nos furtamos de fazer aquelas coisas chatas de pequeno burguês... O que? Ora amigo,como ir à padaria bem cedo... Rá rá rá rá...

Sentou-se na poltrona e puxou o cinzeiro.

...encontrar pessoas que falam o mesmo assunto todo dia, não é?Que chatice isso! Entendeu Roberto?! Estou ou não estou com a razão. Imagine você sair para uma caminhada, parar numa praça com o cachorro a tira colo e ser importunado por um desconhecido. Hem! Hem! Ou ir à banca de jornal ler as manchetes em jornais e ouvir comentários da novela das oito.

Deu uma tapa na poltrona e riu as gargalhadas.

-Além do mais notei que houve um ganho de saúde, sabe? Não respiramos mais o ar contaminado das grandes cidades. Entendeu Roberto? Deu um grande trago no charuto e soltou a fumaça devagar saboreando o perfume do fumo. Tchau! Roberto, depois nos falamos mais. Venha conhecer nossa maravilha. Desligou o telefone e foi à janela.

Armando não sabia é que depois de certo tempo os filhos já burlavam a segurança. Saíam todas as noites para verem os golfinhos ou os namorados. Às vezes banhavam-se nas águas mornas da praia.

-Venha Paulinho, não tenha medo. Gritava o filho maior para o menor.

-Tenho medo Pedro.

-Deixa de ser bobo. Vamos brincar de pique esconde. E brincavam muitas vezes até de madrugada.

E assim uma noite conheceram o filho do dono da barraca. Era da mesma idade de Pedro. Chamava-se Francisco, mas podiam chamar de “Chico”. Navegaram dias em sua prancha vermelha. Tinha um grande escudo do Flamengo. Daí para levarem para dentro do prédio foi um pulo. Chegavam à frente da guarita e o menino pedia:

-Deixa eu! Aí, em frente à câmera impostava a voz e imitava Pedro. A porta se abria. Paulinho caia no chão de tanto ri.

Esse grande aparato de tecnologia agradou em cheio os meninos. Servia bastante de brinquedo para eles. Para entrar na primeira portaria tinha que se identificar numa guarita onde dois homens vestidos de preto falavam entre si, abrindo e fechando portas mecanizadas. Câmeras por todos os lados. Na segunda guarita o portão que dava para as garagens era acionado pela voz dos moradores. Tudo era visto pelo lado da aparência. O menino vestia-se com as roupas de Pedro.

Já no interior os elevadores, um panorâmico era acionado pela digital de cada um. Uma voz feminina e agradável falava os andares e uma fragrância saía com o ar condicionado, escolhida justamente pelo primeiro que entrava.

Logo depois Armando subiu pelo panorâmico assoviando e escolheu uma fragrância francesa enquanto concluía com os seus botões, depois de muita observação e estudo que era impossível alguém entrar e sair sem ser percebido. E se alguém tentasse imediatamente seria rechaçado.

Uma verdadeira fortaleza observou.

Com o passar do tempo, -isso é próprio do ser humano, - é comum brincarem de burlar alguma delas. Ele mesmo na infância já brincara com a morte muitas vezes. Mesmo temendo-a. Quando por acaso um segurança pegava alguém em flagrante davam risos robóticos e sinalizavam como a dizer: “Tudo bem, podem brincar! Vocês são quem nos pagam! Aqui realmente é muito seguro”.

“E posso dizer que vários anos eu dormi o sono dos justos.” Pensava Armando nesse momento.

O silêncio era total já que todo o edifício era bem calafetado. Para se ouvir o som da cidade tinha que sair para a varanda e aí sim com toda segurança ouvir as sirenas à noite, as freadas bruscas, gritos e disparos de armas, das noites vadias e loucas das cidades grandes. As metrópoles.

A primeira vez que Francisco entrou disse:

-Esse prédio parece um hospital! Riram dele. Parece esterilizado, completou.

O prédio parecia esterilizado mesmo. Era o que diziam nas vezes que perguntavam sobre seus endereços: Diziam com desdém.

“ Moramos naquele prédio esterilizado”.Fora o nome ideal que encontraram para ele. Corredores frios e limpos. Não se tocava nada com a mão. Até as descargas dos sanitários eram feito através da voz.

Nas poucas vezes que Armando ia para a empresa, saia diretamente do heliporto construído na cobertura. Gostava dessa visão. Via toda a enseada, as avenidas entupidas de carro, o corre- corre das pessoas indo ao trabalho, tudo pequeno, visto a distancia, dessa perspectiva os problemas diários são diminutos. Lembrou-se do que o filho menor dissera dias atrás:

“Parecem formigas os infelizes!”.

Olhou a lua. Em volta de nuvens esparsas. Um bom dia para amar. Passou pela sala e viu o filho jogando. “Deve ser aquele jogo violento que a mãe não gosta”.

Passou direto para o quarto. O chuveiro escorria preguiçoso pelo corpo da mulher. Pela porta de vidro embaçado via a penumbra dela, uma visão fantasmagórica em movimento.

Sentou-se na cama, colocou duas pedras de gelo em um copo, de uísque e bebericou um pouco. Quando a mulher saiu, o viu assistindo aqueles filmes medonhos de sexo explícito. Duas loiras faziam de tudo para agradar um homem.

“Hoje vou ter que imitá-las!”.

-Prepara uma doze para mim amor!

Desvencilhou-se do roupão fazendo menção de uma dança do ventre. Depois se sentou na cama, bebeu o resto do uísque e gelo nos lábios o beijou entre as pernas.

-Hum! Que delícia!

Armando gostava de vê-la assim de calcinha, a penugem na nuca, o rego da coluna e os pés nus. Ela levantou-se de um salto.

-Aonde vai?

-Trancar a porta a chave. Um dos meninos pode entrar.

-Já tranquei! Vem amor, fazer carinho do jeitinho que eu gosto.

Armando puxou-a para si dando-lhe um beijo no ventre.

-Ah! Tenho cócegas. Observou a calcinha. O desenho de uma gata. “A safada já estava pronta”.

Nisso ouviram um estrondo e a porta arreganhar-se derrubando o abajur. “Logo agora que eu ia gozar”. Puta que pariu! Lamentou-se.

Continuaram no movimento mais um pouco. Paulinho tem dessas coisas. Quando tinha um pesadelo ou coisa parecida. Estava a meia luz. Lembrou-se que ele ficou na sala jogando videogame. Só deu tempo da mulher se enfiar na calcinha e ele puxar a cueca perna acima.

Encontravam-se agora na mira de um revólver e o pivete que estava atrás da arma riu. Não se sabe se do filme ou da calcinha. O pivete puxou o boné para cima da cara e gritou:

-Para fora os dois!

A mulher vestiu o roupão. Estava boquiaberta. “Como conseguira entrar?” perguntava-se.

O pivete corpo franzino, cabelo desalinhado caindo na testa, por baixo de um boné vermelho e tênis da Nike.

Enquanto isso Pedro, desligava o telefone depois de ouvir o seguinte: “O menino já saiu para entrega à meia hora.” Já deve está chegando pensou.

Deitou-se novamente colocou os fones no ouvido, aumentou o volume e acompanhou a letra da música.

Na sala Paulinho alheio a tudo lutava desesperadamente para zerar o jogo que prometera a si que não passava daquela noite.

Foi quando os três chegaram à sala e o encontrou compenetrado na luta. Um homem bem armado corria por corredores tentando escapar a todo custo, enquanto inimigos apareciam de todos os lados. Quando o homem acertava os alvos, o choque era devastador. Arrancavam cabeças, membros e voavam para o alto misturado a muito chumbo e sangue.

-Caralho! O pivete exclamou apontando a arma. Vou fazer o mesmo com vocês se não me derem o que quero.

Paulinho olhou para trás assustado. Nesse instante um homem saiu sorrateiro de trás de um barril e acertou o outro em cheio.

Game over.

O pivete tomou o controle das mãos de Paulinho.

-Assim é que se faz.

Deu start. Tudo começou. Agora o homem portava uma pistola de grosso calibre e á medida que ia matando ia passando de fases e conseqüentemente ganhava bônus. Trocava-os por armas cada vez mais letais.

-Uaaau!

Paulinho acercou-se dos pais. A cara de espanto. Nunca havia chegado àquela fase. Admirava o pivete. Inimigos de toda parte, do ar dos dois lados, do chão. E o pivete com mãos ágeis aniquilava todos. Esqueceu até o revólver pênsil no bolso de trás da calça jeans.

Fora passando as fazes. Chegou ao chefão. Um gigante de uma gargalhada horripilante. Mudava de lugar com uma velocidade impressionante. Aqui ele perdeu quase toda a vida. Foi quando o Paulinho tomou-lhe o controle da mão. Deixasse com ele agora. O pivete ficou observando, enquanto Paulinho eliminava todos sem dó. O macete era atirar quando o gigante parava de rir, e os olhos ficavam vermelhos. No meio da testa.A barra de vida começou a diminuir. Foram cinco minutos frenéticos. Finalmente o gigante parou de sorrir deu um berro estrondoso e caiu de costas morto. Uma música japonesa tocou e bônus e mais bônus enchia de vida o herói.

-Toca aqui! O pivete gritou batendo na mão de Paulinho. Riram. Os pais também riram.

De repente uma voz ecoou.

-Atenção senhores moradores! O sistema de segurança fora burlado. Todos fiquem em seus apartamentos em segurança até segunda ordem. Não andem pelos corredores. As luzes se apagarão agora. “Já era hora”, pensou Armando.

Todas as luzes foram apagadas exceto os monitores.

O pivete pegou a arma e saiu correndo.

Nos monitores homens armados entravam em formação militar, com toucas ninjas e óculos apropriados para o escuro.Vasculhavam os corredores.

Armando e a mulher estáticos.

Foi com alívio que viram o garoto, com o boné da Nike, se esgueirar colado a parede. Na primeira porta alvejou um policial que aparecera em sua frente. Um segundo tombou com um tiro certeiro na testa. Outro atirou uma granada, que ele empurrou de volta com uma velocidade estrondosa. Carne e sangue para todos os lados.

Isso durou meia hora mais ou menos. O pivete deu muito trabalho, pois conseguira pegar a arma e os óculos de um policial e os alvejava mais facilmente na escuridão.

Desceu para o playground. Um guarda apareceu na porta e foi alvejado no peito. Outro pulou a piscina e no ar mesmo fora abatido. A água tornou-se vermelha.

O pivete finalmente fora alvejado e caíra de bruços.

Lamentável. Falavam. A quanto anda a violência. Uma velhinha falou.

Todos desceram silenciosos como saindo de um grande espetáculo. Boquiabertos. Muitos curiosos.

O policial verificou se o pivete estava morto. Com um movimento da bota preta, chutou-o e o boné Nike caiu de lado e mostrou seu rosto alvo e frio. Sem vida. Era Paulinho.



10/03/2013



quinta-feira, 14 de março de 2013

Autocracia



                                                         Foto tirada por mim

Porque todos sem exceção buscamos o poder? O poder sobre o filho, o colega, a mulher o vizinho, a natureza, a ciência, a religião, a idéia, do nada, do tudo. Em todas nossas ações desde a tenra idade o buscamos de uma forma ou de outra. Se no choro da criança ou nos gritos de adultos. Segundo a etimologia L., POTERE, “poder, ser capaz”, de POTIS, “potente, capaz”.


A história da humanidade está repleta de guerras memoráveis com um único fim: O poder. Seremos insaciaveis? Queremos mais e mais e mais. Desde a concepção onde o espermatozoide mais capaz penetrará no óvulo formando o embrião.

E é de longa data essa luta. Desde antes de Cristo. Na época dos faraós, bem antes deles e bem antes ainda, lá nos primórdios. Desde os homens da caverna.

Tal coisa estaria no âmago dos seres vivos? Seria nosso pecado ou nossa redenção? Estaria em nossas células? Em nossos gens?

No reino animal no grupo dos irracionais é assim também. Exemplo: O leão mais forte e mais valente lutará para ter o poder nas mãos ou nas garras sobre os da sua espécie. Vemos isso tranquilamente na natureza. E constantemente tem lutas mortais para se manterem no topo.

Instintos de sobrevivência dirão. Para terem as fêmeas mais jovens e saudáveis com que perpetuarão a espécie. Para eles essa seria a resposta. Para eles tudo bem.

Mas nós somos racionais. E o que define o ser humano não é a razão? E então?

Porque essa busca constante? Eu mesmo aqui tento com a persuasão, inserir em vossas mentes meu ponto de vista e minhas idéias. E isso também é poder. O quarto poder é a mídia. A imprensa.

Os constituídos são: o executivo, legislativo e judiciário. Embates tremendos nesses três poderes. Interna e externamente.

A primeira tentativa de poder está escrito na bíblia. Foi quando Adão quiz ter todo o conhecimento do universo. Fracassou, pois sua luta era com Deus. E com Ele ninguém “brinca” , ja dizia os mais velhos.

Outra luta não menos famosa é a entre Deus e o diabo. Quem detem o total poder sobre os homens? Tais histórias enchem páginas e mais páginas da literatura e de diversas artes.

E quem já não pensou dessa forma: “ Se eu fosse Deus...” Quem nunca desejou a onipotência? O poder absoluto e supremo.

A humanidade é mestra na luta pelo poder. Na história tem milhares de guerras desde a idade média até os dias atuais. E até o fim essa luta continuará. Indefinidamente. Faz-se necessário a pergunta:

Porque o homem almeja tanto ao poder? A Autocracia(Poder absoluto). Pelo ego? Pela educação? Pelo prazer? Pela fama?

Ou a culpa seria da sociedade tão competitiva? Temos na mente desde criança que para vencermos temos que ser os melhores, os mais ricos, os mais aquilo e aquilo outro. Não é assim que falam repetidas vezes em nossas vidas?

Quem não ouviu essa frase? “Veja seu irmão, comeu tudo e você nada?” Frases simples que orienta-nos a buscar ser o “fodão” o poderoso.

Lembrei-me de um filme que vi. A onda ( Die Welle), de 2008. Na sala de aula quando o professor falou sobre a quase dizimação dos judeus pelos nazistas um aluno falou: Que tal fato ficara marcado na história, mas que jamais aconteceria novamente.

O professor para demonstrar fez um experimento até certo ponto “inocente”.

De uma sala de aula de alunos de pensamentos diversos ele transformou em um grupo coeso guiado por um líder. Depois ele vai inserindo noções de disciplina, coletividade, identidade, ideologia e poder. Pediu para escolherem um nêmesis. O que é isso? Explico com a ajuda do dicionário.

némesis
(grego némesis, -eos, retribuição, ira devido a injustiça)
s. f.
1. Deusa da vingança. (Com inicial maiúscula.)
2. Acção.. de retaliação ou de vingança.
3. Pessoa que se vinga ou quer vingança.
4. Adversário ou obstáculo difícil de derrotar.

Sabedor que os jovens são ávidos em fazer parte de um grupo, ter uma causa, sentirem importantes e necessários.

Pediu para que formassem uma organização. Inventaram uma sigla. E essa sigla dia após dias foi conseguindo membros. Quando surgiam dissidentes eram excluídos. Criaram hierarquias. Cresceu. Milhares de adeptos.

O que aconteceu?

Aqueles estudantes que criticaram os alemães por deixarem o nazismo praticar todas as coisas que sabemos pela história, se tornaram idênticos, cheios de iras e preconceitos. O final do filme tem esse texto espêndido:

Texto extraído do filme A onda, que fala sobre a Autocracia:

“Vocês trocaram sua liberdade pelo luxo de se sentirem superiores. Todos vocês teriam sido bons nazi-fascistas. Certamente iriam vestir uma farda, virar a cabeça e permitir que seus amigos e vizinhos fossem perseguidos e destruídos. O fascismo não é uma coisa que outras pessoas fizeram. Ele está aqui mesmo em todos nós. Vocês perguntam: como que o povo alemão pode ficar impassível enquanto milhares de inocentes seres humanos eram assassinados? Como alegar que não estavam envolvidos. O que faz um povo renegar sua própria história? Pois é assim que a história se repete. Vocês todos vão querer negar o que se passou em “A onda”. Nossa experiência foi um sucesso. Terão ao menos aprendidos que somos responsáveis pelos nossos atos. Vocês devem se interrogar: o que fazer em vez de seguir cegamente um líder? E que pelo resto de suas vidas nunca permitirão que a vontade de um grupo usurpe seus direitos individuais. Como é difícil ter que suportar que tudo isso não passou de uma grande vontade e de um sonho”.

Nos dias de hoje a nêmises poderia ser:

Preconceito de pessoas de uma região; de raça; de crença ou escolha sexual.

É para pensar. Todos os dias. Para sempre.





sábado, 9 de março de 2013

Não importa se o céu é vermelho, furta cor ou azul



                                                              Foto da revista veja

Morreu um verdadeiro socialista! Gritavam as pessoas na televisão palavras de ordem. Outros endeusavam o morto. Era uma corrente vermelha de caras tristes. Muitos as lágrimas.


Tomava meu café quando ouvi a noticia da morte do presidente da Venezuela Hugo Chávez.

Pensei com meus botões. Socialista? Socialista?

Corri ao dicionário. Estava lá:

Socialismo s. m.


Sistema daqueles que querem transformar a sociedade pela incorporação dos meios de produção na comunidade, pelo regresso dos bens e propriedades particulares à coletividade, e pela repartição, entre todos, do trabalho comum e dos objetos de consumo.

Esse sim o significado verdadeiro da palavra. Era assim que eu acreditava em minha juventude. Um rio sem afluentes. De águas puras. Sem nenhuma vertente que pudesse poluí-la.

Não o socialismo que ele falou de Chaves ou praticado na Cuba de Fidel, na Rússia de Vladimir Putin. Esse não é o socialismo dos meus sonhos, nem aqui nem na China. Desculpe o trocadilho.

Mas sem exceção, todos esses países que citei acima e outros que não estão aí por serem de importância menor como a Argentina de Cristina Kirchner (que só enxergam o próprio umbigo) e o da Coréia do Norte, Kim Jong (que só se preocupa com os Estados unidos) á corromperam.

E o que fazem para se manterem no poder?

A maioria a força. O toque de silêncio.

Outros usam e abusam dos programas sociais.

Todos esses não passam de ditadores salvo algumas exceções.

Creio que no mundo moderno em que vivemos essa velha luta do socialismo contra o capitalismo não é a mais relevante para o povo, ou nunca foi, pois como diz a música do Titãs: A gente não quer só comida. A gente quer comida. Diversão e arte.

Assim, continuei tomando meu café quieto. Pensei. Essa onda passará.

Pois hoje eu sei que: Se o povo tem trabalho digno, educação, saúde e segurança de qualidade, não importarão se o céu é vermelho, furta cor ou azul.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Filhos são eternos

                                                            


                                                                 Filhos são eternos






O que mais temia na vida aconteceu. Morri. A coisa foi de um jeito totalmente imprevisto. E geralmente quando menos se espera. Já havia sonhado caindo de precipícios, nadando em corredeiras, voando sem asas, atravessando labaredas. Sobrevivi a tudo isso. Hoje, um dia qualquer quando dei por mim já havia acontecido. É como um estalo.

Mas o pior não fora isso, a morte propriamente dita, e sim o ódio que passou a crescer dentro de mim de meus familiares. E esse ódio é tanto mais, quanto mais próximo as pessoas.

Minha família era constituída de um pai, uma mãe e um irmão menor.

Meu pai é um homem honesto, trabalhador, cumpridor de seus deveres. Minha mãe do lar abdica de tudo para cuidar dos filhos e meu irmão tem cinco anos, criança ainda, está na idade dos questionamentos e grande curiosidade.

Tudo se passou como de praxe. Foi um acidente na esquina de casa, quando fui buscar uma bola perdida. Perdido ficou eu quando o carro passou sobre mim. Foi morte instantânea como dissera o paramédico que primeiro chegou para atender-me.

Fora o assunto principal toda a semana nos noticiários, nos bares e botequins. Minha escola deu luto de três dias. Meus colegas ficaram traumatizados e as professoras passaram como dever de casa uma redação subjetiva de como estavam se sentindo.

Meus colegas escreveram frases banais de despedida e solidão instintivamente para livrarem-se de seus medos.

Eu de minha parte fiz um rascunho mais ou menos assim: “Eu me sinto agora um velho açude de águas insalubres e estagnadas. O que desejo é que chova tanto e em demasia, que primeiro molhe o rosto das pessoas na rua, e que elas pensem, estou molhado até a alma, e que os riachos escorram enchendo os rios, que os rios transbordem, e essa onda, esse acúmulo de água ao chegar de encontro dessa parede que me mantém reprimido, arrebente-a com estrondo, soltando meus soluços e gemidos.” Não achei grande coisa. Sentimentos reprimidos.

O enterro fora de manhã. Fazia sol e a brisa balançava levemente as folhas das palmeiras. Um passarinho desceu e pousou no fio de luz bem quando eu ia passando e saudou-me com seu canto. Bem te vi bem te vi bem te vi.

Meu pai me levava com o cenho fechado. Do outro lado meu tio e alguns conhecidos. Minha mãe não pode vir. Estava muito abalada. Meu irmão ficara em casa.

A oração do padre deu-me um falso conforto, como uma poesia declamada ao vento. E a magia das palavras fora terrível quando ouvi a terra marrom cair sobre mim.

Senti-me terrivelmente só quando ouvi os passos se distanciarem e os gemidos ficarem mudos.

Ai era eu e eu e mais ninguém. E quando ficamos assim vem à temeridade. Todos os questionamentos de séculos. Passa-se um longo filme aos olhos.

E aí fora o meu maior sofrimento quando voltei para casa. Entrei pela sala vazia, fui direto ao meu quarto, quando cheguei meu irmão dormia de bruços e parecia que o travesseiro estava todo molhado.

Quando entrei parece que ele sentiu, pois nesse momento virou-se e ficou olhando perdido para o teto. Seus olhos estavam vermelhos. Depois olhou em volta estranhamente como dizendo, afinal esse quarto agora é só meu e de mais ninguém.

Levantou-se da cama e eu já sabia o que ele faria. Pegou meu caixote onde guardava meus segredos e o abriu descaradamente. Pegou de um bilhete e ficou meneando a cabeça como sem querer acreditar.

Enxugou os olhos com as costas da mão e foi ao meu guarda roupa. Colocou meu boné favorito e ficou a se olhar no espelho e fazer as mesmas poses que eu fazia.

Não agüentei mais tanto descaramento. Fui à cozinha e minha mãe estava fazendo o almoço. Não cantava mais. E quando colocou os pratos da mesa quase desmaiou. Eram em número de três.

Foram se chegando silenciosos, pareciam zumbis. Papai começou a comer de cabeça baixa, minha mãe não havia dado nem uma garfada, meu irmão tinha tomado um gole de suco, quando caíram todos num choro contínuo.

Levantaram-se nesse momento e se abraçaram gritando meu nome. Eu ali quieto observando.

E assim passaram-se os dias, os meses e os anos. De meu guarda roupa não sobrara mais nada. Minto. Somente o boné que desde a minha morte meu irmão o usava todos os dias religiosamente.

Agora o quarto tinha uma cama só, e na hora das refeições os três pratos emborcados esperavam a hora de serem servidos.

Observei que eles tiraram à maioria das coisas que traziam minha lembrança, como a cama do canto da parede, a bola detrás da porta, a bicicleta do quintal.

Sobrou somente um retrato tirado na praia, onde nós quatro estávamos abraçados e sorrindo pendurado na sala. O mesmo que as visitas quando entravam, perguntavam era esse o menino, e minha mãe respondia contrita: meu filho querido.

E para que não sofresse mais assim, meu pai carregado de coragem colocara num álbum todas as fotos minhas e só eles uma vez por ano folheavam agora já sorrindo.

Qual não foi minha total decepção quando todos quiseram me esquecer. Meu irmão foi estudar fora, minha mãe passou a fazer trabalhos manuais e meu pai começou a escrever contos, poesias e quando se achasse bastante seguro um romance talvez.

Uma noite minha mãe sem mais nem menos começou a gritar, e meu pai da escrivaninha correu assustado, ao vê-la de joelhos se culpar, foi minha culpa meu Deus gritava, não podia ter deixado ele daquele jeito na rua, parecia menino abandonado.

No que meu pai falava, balançando-a violentamente, não se culpe mulher, você tem que esquecer isso, você tem que esquecer isso, deixe nosso filho descansar em paz. Sim, em paz.

Temos que voltar nossa atenção para o outro. Temos outro filho entendeu? Entendeu? Depois pegou numa pequena foto minha e mostrou. Esse já se encontra com Deus.

Ela chorou muito essa noite. Estava com remorso de ter-me tirado da parede. Talvez porque as lembranças minhas estavam se esvaindo. De querer viver mais comodamente sem muito sofrimento.

Na formatura de meu irmão todos estavam lá. Minha mãe bem vestida, um sorriso nos lábios com orgulho, meu pai de terno preto andava de um lado para o outro, nervoso, pois sabia que no discurso do filho, haveria um espaço para um verso seu.

E quando meu irmão subiu a tribuna senti tanta inveja que se eu estivesse vivo tinha desfalecido. Ele discursara muito bem, falou de nossa vida, das dificuldades, e quando veio o verso, sua voz embargara, e nesse momento toda a turma de formandos aplaudiu e deu urra, e meus pais enxugavam os olhos com lenços brancos.

Branco... Branco... Branco... Era o que vinha em minha mente naquele momento. Toda essa cacofonia metia-me medo. Saí dali para respirar algum ar puro. Deixe a felicidade com eles. Esqueçam-me. Esqueçam-me. Será bom para mim, será melhor para eles.

Longos anos se passaram. Os cabelos brancos e o andar cansado chegavam.

Agora já conseguem viver bem sem mim. Apenas pequenas lembranças. Uma lembrança bem viva. Deram-lhe ao neto o meu nome.

E nos jardins quando vê o pequeno correr de um canto para o outro os olhos brilhando com tanta novidade a descobrir, toda uma vida que não vivi, olham quietos e sei que com certeza essas horas pensam em mim.





segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Viés


                                                             Aquarela de TadahiroUesug







Viés


Paralelas...
Dormentes.
Que entrementes,
Jamais cruzam.

Trilhos,
Trilha caminhos...
Solitária
Olhar soturno.

Súbito
Mulher na janela,
Furtivo olhar,
Abandono...
Olhar que passou
E, no entanto marcou
 Infinitamente na mente,
Sabor de beijo no escuro.