segunda-feira, 2 de abril de 2018

Justice is done






 At first I'll make it clear that I'm not a PT. I already voted for MDB, PMDB, PDT, PSDB, PQP ...
A plethora of captions. But what I want to talk about is the condemnation of former President Luiz Inácio da Silva-Lula many speak and few say. One of the main and most vulgar is the one made by the President of the coup that says: "Let's face it if it were politically defeated, it is better than being defeated (in justice) because it was" victimized ".
First: No one is defeated by justice but rather done justice by following the current rules that are: The constitution, civil and criminal codes. I believe that in this particular case there was no, because the main element in any proceeding for the conviction was missing: material evidence.
 Second: Believing the word of informers who want to reduce their sentences at all costs is a recklessness. From what I know, giving is not proof, but a means of attaining it.
Third: Judging by convictions is worse, I quote here the writer Joseph Conrad, author of the novel Vitoria, which talks about, "our convictions are nothing but servants of our passions." Yes. These convictions are full of passions and hatred for the defendant.
Fourth: Your honorable Judge in a serious country would never have tried you for obvious reasons: You are from the opposite party.
Therefore, I can say that the former president was a victim of Brazilian justice, which has remained the same for centuries. See part of Luis Gamma's poem that says: "I do not tolerate the magistrate, who of careless brio, sells the law, betrays justice, -does all injustice- With rigor depresses the poor shelter the rich, the noble, and only finds a horrendous crime on the beggar who depresses. "This happens daily.
As for the coup there is full evidence in the press.
All you have to do is copy and paste leaked audio text that I transcribe without adding a comma to the entire plot of this macabre story that has happened here in the banana republic.
See:
It's not fiction. Pay attention: Audio dialogs are bold.
Machado (He is "stuck" in his mansion on the beach with all the perks).
-Rapaz, the easiest solution was to get Michel (fear).
Jucá- (today is minister) one of his lawsuits has been prescribed.
-Only Renan (Calheiro) who is against this damn thing.
Ax-It's a deal. Flip Michel. In a major national agreement. My gosh.
Fact: The impeachment of President Dilma passed in the chamber presided over by Cunha (today she is in jail). He passed the senate presided over by Renan Calheiro (he is responsible for various crimes and continues to be president of the Senate, in fact, he paid tribute to the supreme).

Jucá- "With the supreme, with everything.
He approved of the impeachment even with all evidence of a coup.
 Axe- -With all. It stopped there. They tried to change laws of giving. Jucá- IT IS. It bounded where it is. Ready.  Fear president caught in excuse talk where he ends the dialogue like this: -IT IS. We have to keep this up, see?    
And other absurd scenes like deputy running with suitcase full of money. Senator asking for money. Apartment full of money. Chief who comes to public say this sentence: "A suitcase is not proof of anything!" -As well! As well! Pqp!
What justice is this that takes power from a president who has had an absolute majority in the polls without evidence on pedals, condemns a former president without concrete evidence, one of the best that the country has ever had and condemns by convictions, does not fit with a serious republic nor this so ill-famed and spoken democracy. I say here that democracy is still the best system of government. It just needs some improvement. I see there a dictatorship of the judiciary, where the law prescribes the rich, the perks, the poor the grid. In a true democracy the maximum law is its constitution and in it says: Art. 5º All are equal before the law, without distinction of any nature ...

There's only one way to do it justice now.
Follow the President's thinking (the coup) and do not let Lula be "victimized".
 Let Lula be a candidate and there we will have a democratic election and the will of the sovereign people, and whatever the result, accept, without blow, without cheating.

 As the saying goes: "The voice of the people is the voice of God."

quarta-feira, 7 de março de 2018

O Ninho






                                  

                                       O ninho                                                   


          As árvores sempre me assombraram. As de copa alta e frondosas mais. Sou vidrado nelas. Acho que todas têm um mistério.

          Por isso quando Claudia disse que estava na hora de podar a que plantamos na frente da casa para fazer sombra, aqui temos um sol para cada um, fui à contra gosto. Mas realmente não dava mais para protelar: Seus galhos invadiam a varanda, os fios e a rua.
           Assim larguei o filme que estava vendo, estava nublado, amolei o facão e comecei pelos galhos mais baixos.

          -Porra! Como tem moradores nas árvores!

          Gritei quando uma montoeira de formigas caiu dentro de minha camisa. Aí tive que arrancá-la às pressas e fiquei contando as bolotas vermelhas que se formaram em minha pele.
          Aí lembrei o dia em que tomei uma decisão sem pensar, depois de uma pirraça homérica, meus pais não deixaram eu ir nadar no rio com os colegas.
 
           -Na rua do rio. Nem pensar mamãe disse.
Bati o pé:
          -A partir de hoje vou morar na copa da goiabeira! Para sempre!

Minha mãe não levou a sério. Meu pai era de poucas palavras.
Ela disse:
          -É mesmo? E vai viver de quê?
          - De goiaba, retruquei.
Continuou me testando:
          -E quando a goiaba acabar?
          -Passo para o pé de jaca.
          -E quando a jaca acabar
          -Passo para o pé de abacate.
          -E quando o abacate acabar?
          -Passo para o pé de coco.
Ela não ia me vencer.
Realmente tinha um belo pomar.

          Entrei no quarto e voltei com um embornal e o meu binóculo. O embornal para guardar as frutas e o binóculo eu queria observar o mundo.
          Subi rápido na goiabeira. Tem uns galhos fortes. Achei um local legal onde podia ficar sentado e em pé, a escolha. Observei ao redor.

          Via um pedaço da rua de baixo, conhecida como “rua do rio”. Via o cemitério com suas cruzinhas caiadas de branco. A torre da igreja. E ao longe a barragem do açude grande. Aquele era meu mundo. Além dali, das serras era o desconhecido.
Naquele dia minha mãe falou gritando com meu pai:

          -Na rua do rio, ali é lugar das mulheres da vida!

Depois maior, ouvi:  “Quem andava por ali não prestava”. Diziam:
“A felicidade era fingida. Comprada. Roubada”.

           Também descobri como tinha moradores nas árvores. São insetos como:  a formiga, um besouro fedorento, abelhas de todos os tipos e tamanhos.
          Pendurei o binóculo e comi a primeira goiaba aquele dia. A disputa estava feia, pois tinha um casal de bem te vis, que ficou por ali perturbando a manhã inteira.
          E também, minha mãe que se mostrou uma verdadeira bruxa. Ela começou a misturar suas ervas e temperos e lá para as onze horas o cheiro de comida fresca estava incrível. Quase desisti.
          Só à noite(tinha medo de escuro) quando vi que teria que disputar com as galinhas, pombos, rolinhas e outros pássaros, afinal eram hóspedes dali,  desci e ao passar por minha mãe que estava em oração, eu falei:
          -Só vou dormir aqui,amanhã eu volto.
Encontrei a cama preparada, meu travesseiro, os chinelos, até o penico ali. Dormi o sono dos justos.
          Já livre das formigas continuei cortando quando numa ponta de um galho baixo, vi um ninho. Era uma rolinha-rocha chocando. No sertão chamamos de “caldo de feijão”. Penso logo no desenho do pica pau, ele se defendendo do homem que quer cortar sua árvore.
          Mas aqui é uma pobre rolinha indefesa. Nossos olhos se cruzaram. “Será que esse ser, vai cortar minha árvore, destruir minha casa, e matar meus filhotes ela deve ter pensado.
          -Não! Vou parar por aqui!
Nesse momento Claudia apareceu.
          -Uai! Já parou?
          -É ... Infelizmente...
          -Você deixa tudo para depois...

Expliquei-lhe que era por um motivo nobre. Uma rolinha estava chocando ali, tinha filhotes e que os galhos maiores eu já havia podado. E se eu cortasse o galho ela e os filhotes morreriam. Ela compreendeu. É mãe. Temos filhotes também.
Enquanto eu guardava a foice um garoto em meu pensamento subia a goiabeira no segundo dia. Minha mãe olhava-me da janela os braços apoiados no parapeito pintados de azul, a fumaça cheirosa subia pela chaminé e ganhava os céus.
“Quero vê até onde ele vai aguentar!”. “Como se parece com o pai”. “Cuspido e escarrado” As gentes falava na rua.

          Não houve surpresas esse dia. Só uns gritos e uma cara disforme. Os gritos foram às vizinhas gritando: “O safado do seu filho está em cima da árvore, nos bisbilhotando no banho”.  A cara inchada foi um marimbondo vermelho que me picou bem na sobrancelha que deixou minha cara parecendo uma jaca madura. Passei uma semana deitado. 
         Desde aquele dia que minha mãe gritou eu tinha ficado “encucado”.  “Mulheres da vida!”.
Aproveitei que eu estava "dodói" como ela dizia a meus amigos quando chegava para me chamar, e soltei essa:

           Eu tinha passado um dia desses  por ali e vi  mulheres,cantando, vestidas de cores berrantes, rostos pintados, rouge e batom. Pareciam felizes.
Aí eu falei:

         - Toda mulher, um dia  vai querer ser da vida!

          Só não apanhei por milagre, mas ela me prometeu uma surra assim que eu melhorasse.


          Desisti de morar na árvore quando meu pai comprou a televisão. Agora ela é o centro até hoje, na minha casa, quando subi para terminar de ver o filme.

          Até tirar os filhotes foram quase quinze dias. À tardinha eu ouvia o  ”uú-uú-uú” dela. Parece cantiga de ninar. É monótono. Saíram dois filhotes.
          O mundo é perigoso para todos principalmente para os filhotes. As rolinhas da cidade já não têm que se preocuparem com os caburés, o falcões-de-coleira, os quiriquiris. Na cidade na existe esses bichos mais. Agora a grande preocupação é o gato doméstico.
          Depois de quinze dias aproximados tentaram e conseguiram o primeiro voo. Um gato olhou-os  e os seguiu até o pouso numa balaustrada.

Depois eles se foram. Ficamos sozinhos. Eu, Claudia e o ninho vazio.

         Temos saudades. Tem vez que ao olhar o ninho eu me pego perguntando se os filhotes  algum dia se lembrarão.
“As aves criam os filhotes até certa idade, depois eles voarão por conta própria. Virão os filhos, os netos.
         Eu particularmente fiz o mesmo. Construí um ninho com amor, dedicação,  eduquei, protegi, até onde minha asa alcançou. Depois que eles alçaram voo entreguei nas mãos de Deus.

 Não cortei a árvore. Está cada vez mais forte. Os filhotes ganharam o mundo. Só quero dizer-lhes que o ninho está intacto.


Um dia, se eu cismar, ainda morarei em cima de uma árvore.






sexta-feira, 2 de março de 2018

A oficina









          Um dia desses, resolvi fazer uma oficina de escrita. Eu comigo mesmo. A ideia era pegar uma notícia e transformar num conto. Escolhi o drama. Fisguei na coluna policial. Um assassinato. A morte dessa forma causa estranheza e drama. O natural é de velhice. Os pais primeiros que os filhos, sucessivamente.

           Escolhida a notícia mãos á obra. Comprei uma resma de papel tamanho a quatro.  Foram meses de anotações. “Se dobrarmos um jornal como um pano molhado pinga sangue”.  Os personagens  foram vizinhos, amigos, família, todos entraram no rol.  Depois vou descartando.  
 Tenho a estrutura, a planta baixa como disse Autran Dourado e vou capengando na jornada do herói.
Vou escrevendo sem medo. O escritor deve ter coragem de se expor, mostrar as vísceras, as feridas. Isso serve de remédio  para  curar alguma doença com o tempo. A ferida deve ser aberta logo no início, para chamar a atenção do leitor. Basta uma lauda para que fisguemos ou o perdemos.  A isca tem que ser bem feita, tem que ter odor, beleza, som, sensibilidade e  gosto.

          É como vê uma pessoa espremer um limão em sua boca.  Só em pensar suas papilas e glândula produzem saliva. A escrita deve ser assim também. Se o texto é para causar medo, sua adrenalina vai subir em porcentagem em seu sangue e assim por diante, os parágrafos deve causar ódio, ira, náuseas, êxtase e gozos
.
          Não tenha medo. Ame o personagem  e  odeie outros, pois no dia que não sentires nada, é o fim.
          A escrita é terapia. Já deixei de matar muita gente por que escrevo. Os motivos são vários. Cada um tem o seu. Faço assim: Vou falando sem medo como estivesse na poltrona do psicanalista. Se não gostar da figura do psiquiatra, fale para um gravador. Imagine falando com o melhor amigo, se preferir sua mãe ou até em confissão com um padre. Mas seja honesto. Pois a honestidade é o caminho para surgir algo bom, que valha a pena publicar. Mas não se iluda. A gênese não é palpável. Você às vezes escreve pilhas de papel para surgir uma frase, uma frase somente. O resto deve ser jogado no lixo. Os  escritores, observação própria, criam mais lixo. Mas não esmoreça. A prática  melhora a técnica. Ou você pensa que algo bom brota  com a inspiração. Não. Como já disseram antes, noventa por cento é suor. O violonista para ter a técnica ele treina todos os dias um mesmo solo  até a exaustão. O tenista para sacar perfeito, bate na bolinha amarela mais de mil vezes. E haja suor. E porque você acha que o escritor deve confiar somente na inspiração? Neca de Capiberibe! Isto quer dizer: “Nunca, jamais!”, como o corvo repete na poesia de Poe. Aliás há um tutorial nessa poesia. Ele dá o caminho das pedras.

          E assim peguei o vício da escrita. Já larguei o cigarro, a bebida, mas não fico sem escrever algo nenhum dia. E leio bastante. A leitura é osmose. Sem notar tem muito dos outros em mim. Fazemos parte de um todo. Um emaranhado,  tecendo outras histórias , outras vidas.

          Um dia viajando de trem, eu vi alguém numa parada.  Uma mulher. De relance. Mas essa cena ficou em minha mente. Eu tentei escrever algo, primeiro um poema. Falava dos seus olhos negros. Falei das malas, das bagagens. Não decolou. Às vezes acontece assim. E é melhor. Um dia sem esperar ela vai surgir, tenho certeza. Assim vou olhando cada esquina. Cada parada.

          O que faço muitas vezes é estudar alguns textos. Tentar decifrar como aquele autor conseguiu aquilo, o ponto do bolo, sem queimar, e sem passar do ponto. Lembro de minha mãe seguindo as receitas com todo cuidado. E os bolos muitas vezes ficavam fantásticos. Ela se tornava cada vez mais “Expert” no assunto e depois conseguia fazer  sem receita e ao mudar alguns ingredientes e fazer um novo, só seu, ficava feliz.  Era o bolo mais gostoso do mundo. Feito com carinho e amor.  É o que fazemos. Destrinchamos textos para compreendê-los.

          E importante. Não elimine cenas  só por que você já viu parecida noutros romances. Todos têm visão diferente das coisas. Já pensou se ninguém mais pudesse falar de um pôr do sol só por que alguém já falou? Mude seu ponto de vista ou use o mesmo com outras palavras. Afinal ninguém é dono de uma cena. Ou é? E se a cena afinal não ajudar em nada a narrativa, descarte-a agora se tiver importância crucial para ressaltar algo a mantenha sem preconceito.  A história sim tem que ser diferente, o resto pode ser comum. Um crime é comum até colocarmos os sentimentos, responder perguntas, aflições...

          “Ele não saiu pronto para matar e matou...”.
Apaguei.

         “Uma bala é confeccionada por um ser, para ganhar salário, sustentar a família e filhos e tirar vidas...”.

Descartei.

          “Antes de sair, sem desconfiar do que ia acontecer, rezou, tomou café com a família e saiu...”.

Ridículo.
          “O assassino depois do fato chorou nos braços da mãe da vítima...”

          “Larissa tinha sonhos tão grande, mas findou porque estava na linha imaginária de uma bala perdida...”

          “Ele deu o celular e mesmo assim o ladrão o matou...”.

I     Cursor parado na tela. Esse é o drama.










Gênese













http://www.caldinas.com.br/2011/05/curso-referencias-sobre-campbell-e.html

Gênese


Tão ansioso ao abrir da cortina,
  ator iniciante
Que cega-se a luz e
o ar dói-lhe o peito,
 Desamparado
bem sei
ao redor o desconhecido
chorei
teu seio, meu aconchego
suguei
dormi o sono dos justos
sonhei
Teu colo morno e suave
Brotei
Na minha jornada.



terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Do lar


Foto retirada do site  https://br.123rf.com/photo_12488692_casal-se-beijando.html?fromid=Rk9NNVppOXZ2aXF0QVBTSGRqNFVaQT09



                                                                   Do Lar

         Casados há pouco, eram como dois pombinhos. Viviam se beijando pela casa. Já tinham experimentados todos os cantos para o amor. Muitas vezes pegávamos suspirando “o amor é lindo”. E assim se passou longos anos.

          De resto que Marina agora mãe de gêmeos, achou por bem arrumar uma empregada, tinha muito trabalho, estava fazendo a faculdade uma pessoa  para ajudá-la nos afazeres. 

        O marido era empresário no ramo de exportação e passava quase o dia todo fora. Ele prontamente aprovou, seria também uma companhia. Ele disse. As amigas é que não. Disseram: 

          -Outra Mulher em casa! Menina! Lá em casa não. Nem morta!
A outra:

          - Ainda por cima tão linda! Vejo falar tantas coisas, tem muito homem aí com filhos fora que a trouxa da mulher só sabe no velório. Como dizia meu pai, o porco e homem só se conhece depois de morto.Comigo não jacaré!

          Marina não deu ouvidos, afinal confiava em seu marido. E dele tinha sempre ouvido coisas boas do tipo, um homem elegante respeitador e de família.

          Assim se passaram os anos. Os filhos formaram e na formatura estava lá, a babá que os criara. Recebeu de gratidão buquê de flores e menção no convite.
Era um convite preto, de veludo, com letras desenhadas em dourado muito bonito por sinal, devem ter gastado uma grana. Dizia na folha interna:

“Agradeço aos meus pais Marina e Sérgio, pelo apoio e dedicação,
 “Aos amigos por nos aguentarem esse tempo todo sem reclamar,
“Aos avós tão fofos,
As namoradas,
“E principalmente a Patrícia, nossa segunda mãe, esse anjo que caiu do céu em nossa família, obrigado por toda amor, dedicação e paciência”.

          Marina sorriu no dia, vendo os gêmeos dançando a valsa com Patrícia.As namoradas enciumadas.

          Marina, num vestido longo da cor azul, enfeitada de pedras, deixava partes dos seios a mostra, sem lascívia, somente parte física  formosa que os gêmeos mamaram até os três anos. Pareciam dois bezerros, ela dizia  rindo, com os dentes branquinhos e o lábio rosado. A festa estava linda ela falava e seus olhos brilhavam. As amigas estavam iradas. Uma chutava a canela das outras. Apontavam com acenos.
No outro dia não falavam outra coisa.

          -Como pode tanto “topete”!    Tomando o lugar da mãe na hora mais sublime e orgulho, que é a hora da valsa.
Marina dava gargalhada.
          -O que é que têm meninas, eles a adoram! E ela é uma querida!
          -E você não tem ciúmes?
          -Mas de que? Ainda mais que sou péssima partner. Piso sempre no pé de quem eu danço.

          Diferente de Sérgio. Ele sentiu um baque. Não demonstrou. Na hora até aplaudiu demoradamente. Foi até exagerado. Continuou sozinho depois que os outros pararam. Tinha tomado uísque a mais. Depois da valsa, ele saiu do salão para fumar um cigarro, eu o observei bem,  os ombros um pouco caídos. Debruçou-se no parapeito e ficou olhando as roseiras. A menção do seu nome foi mínima, ele que morria de trabalhar ficando até tarde no escritório, para dar-lhes todo o luxo, carros, faculdade particular, e quem ganhara os elogios, os holofotes, merecido claro, mas ele merecia mais.
Assim decidiu que a partir daquele dia, iria dedicar mais tempo à família, e naquela mesma segunda- feira fechou mais cedo o escritório de importação e exportação e veio com seu carro pela avenida, sentindo-se mais leve, a brisa do ar estava gelada, choveu, as luzes da cidade refletiam as cores vivas nas poças do asfalto repetindo cenas de filmes. Estacionou na garagem. A luz do quarto estava acesa. “Será uma surpresa e tanto para Marina!  Ela vive me cobrando, que eu trabalhos demais, que isso e aquilo...
Subiu os últimos degraus assoviando a música tocada em seu casamento.  “Can I Have This Dance”. Lembrava bem.Marina estava linda de branco. Foi à maior festa dos últimos tempos.

          Empurrou levemente a porta. Só as luzes do abajur. Um vinho aberto pela metade, duas taças.
         Na cama um casal inusitado:

          Marina e patrícia beijavam-se loucamente. Ele nem sequer foi notado.

          Fecha a porta.

          Entra no escritório e dá um tiro na cabeça.

          Isso foi tudo.






quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Rali dos sertões



Foto copiada do site: http://sigcomunicacao.pressroom.com.br/265642d040/rally-rota-sc-chuva-ditou-as-regras-do-primeiro-dia-do-rali.html



                                                        Rali dos sertões



          Ao voltar para casa, vindo da baixada santista um dia desses, um passeio  normal,quase se transformou em  pesadelo. Senti-me num verdadeiro rali.

           Faço essa rota já há algum tempo, e em dias normais, limpo e claro não preciso mais acionar o GPS .  Escolho a rota que passa pelo sul de Minas, preferência esta, devido a algumas recompensas :  menos pedágios e cidades próximas ( gosto de parar para comprar “trecos” ou algum “trem” como diz o mineiro).

          Às dez horas em ponto entramos no carro, eu e Claudia. Era domingo depois do carnaval. Cálculo para almoçarmos em Caçapava,  num restaurante com cardápio variado.
Na garagem, enquanto eu escolhia a trilha sonora no spotify, minha mulher dava as últimas recomendações de praxe ao nosso filho. Despedimos-nos.

          Venho pela orla, para dá aquela ultima olhadela e ver o mar azul formar com o céu a  linha perfeita do horizonte. Alguns navios interceptam a linha. Na calçada pessoas exercitavam-se   enquanto  sobre os coqueiros  duas gaivotas matreiras se equilibravam quase paradas ao vento. Isso é que é vida, pensei. A das gaivotas.

          Saio da cidade e pego a Rodovia dos Imigrantes. No topo de um morro, no meio da mata, um restinho da atlântica, plantada uma favela. Quantas desigualdades. Ali atrás edifícios faustosos quase tocam os céus. Debaixo de um viaduto sobre o manguezal  casinhas de madeira se equilibram em pernas de pau pareceu amontoados de aranhas caranguejeiras.  A vida ali deve ser um inferno.

          São Bernardo do campo. Lembro do ex- presidente Lula. Agora julgado e condenado por que lutou a vida inteira contra os ricos. Os poderosos. Desde o início de sua vida. Aqui nos sindicatos. Essa é uma luta insana. Você pode até vencer algumas batalhas, mas a guerra  eles vencem. É como nadar contra a correnteza. Você pode até avançar alguns metros, mas a força não pára. Um cochilo ela te leva rio abaixo.

           Entro na Saída  27 e pego  o rodo- anel  e sigo a placa de Mauá até entrar na rodovia Governador Carvalho Pinto. Aqui as margens das pistas o gramado é exuberante.
Itaquaquecetuba.  Vem do (tupi-guarani, takûa(ra)-kysé-tyba) "Taquaquicetuba" que significa "muitas taquaras cortantes". Claudia pede ajuda ao Google.

          -Isso tudo aqui era dos índios. Olho em volta. -Aí vieram os brancos, os bandeirantes, e os dizimaram e...

          -Já vem você com esse discurso esquerdista! Pó parar!
-Verdade! Eu digo. Qualquer coisa agora é esquerda comunista ou direita fascista! Já deu.

          -Ô nome difícil sô” digo,imitando os mineiros para mudar de assunto.

          Depois São José dos campos. O brasileiro é um povo religioso.  A maioria é de católicos, mas nos últimos tempos vem crescendo bastante os protestantes.

          -Deve ser por que...

          -Pelo amor de Deus! Religião não se discute! Concentra na estrada!

          Vou lendo placas, sou leitor assíduo, Mac Donald, Havan, Burgue King, tudo isso passa ao largo, as margens, fomos colonizados pelos Portugueses, mas, explorados pelos Americanos. Vejo a estátua da liberdade azul.  Penso discorrer sobre capitalismo. Só penso.Na placa, pastel do Maluf. “Já pensou se ele fizer no pastel o que fez na vida pública!”. Rio sozinho.

          Pindamonhangaba. Pergunto a Claudia que está com o celular na mão qual o significado.  Parece que é anzol ou referente ao rio Paraíba do Sul que na região é bastante sinuoso e faz curvas que lembram um anzol. Viva o Google, penso.

          Pego o retorno para Caçapava. Meio dia. A fome apertou.

          -Picanha senhor! Fui acordado pelo garçom.
          -Sim!
          -Alho e óleo?
          -Por favor!
          -Mais alguma coisa?
          -Coraçãozinho!

         Ele empurra com a faca. Conto dez. “Dizem que os sentimentos vem do coração mas não é verdade, vem do cérebro”.

          -Obrigado!

          Foi um almoço rápido. Queríamos passar em Aparecida. Compramos umas fitinhas multicores e uma imagem de Aparecida a pedido. “Quero uma com o manto preto com detalhes dourados! Acho lindo!”

          Guaratinguetá. Sem esperar Claudia passou o bizu: De origem tupi, a palavra "Guaratinguetá" significa"muitas garças", pela junção de gûyrátinga (garça: literalmente, "pássaro branco", pela junção de gûyrá, pássaro e tinga, branco) e etá (muitos). Recebeu esse nome pela grande quantidade de garças existente nos domínios do município.

          Volvi meus olhos ao céu. Não vi uma sequer. Gosto de graça das garças. Rio da frase. Garça tem graça nas suas longas pernas. São desengonçadas.

          Lorena. Nome bonito. Se eu tivesse uma filha poderia chamá-la Lorena. Passa-me paz, sei lá. Deus me deu dois filhos maravilhosos.

          E a viagem segue nos conformes até a entrada para Cruzeiro, uma cidade de são Paulo que parece que só tem um edifício e ali as margens da pista. De cor azul. Bem em cima  vejo uma enorme nuvem negra que escurecia toda a serra da Mantiqueira. A serra da Mantiqueira é uma cadeia montanhosa que se estende por três estados do Brasil: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A serra tem uma formação geológica datada da era arqueana que compreende um maciço rochoso que possui grande área de terras altas, entre mil e quase três mil metros de altitude. Viajar é cultura.

          Eu resmungo algo, e Claudia tira os olhos do zap zap questionando-me com o olhar.
          Explico:

           -Ali ó aquelas nuvens que parecem pesadas pode ser uma tempestade que vai cair lá para o lado de minas.

          Ela observou demorada. Olhou no celular.

          -Deixa-me pesquisar. É... Aquela nuvem parece com essa da foto. Tenta me mostrar. Eu olho rápido.
          "O nome cumulunimbus é a combinação das palavras em latim cumulusque quer dizer amontoado, e de nimbus, que quer dizer chuva.

          Apontei para frente.

          -Temos outra alternativa: Podemos ao invés de ir por aqui, ir direto pela Dutra, passando por Três rios e fugimos talvez dessa chuva, o que é que você acha?

          Eu tenho comigo que toda Cláudia é igual a revista Claudia, adora dá conselhos. Mas essa vez ela disse: “Faça o que achar melhor”. “Lavou as mãos ó!”.

          Eu mal acostumado virei à direita e seguimos de encontro à nuvem negra.
Assim que avistamos a placa bem vindo a Pouso Alto, região das águas. Realmente.  Desceu o maior pé d’água.Um verdadeiro dilúvio.

          Fiz o que pede o manual. Diminui a velocidade, coloquei o ar no desembaçador, liguei o pisca alerta e vim navegando em mares profundos. Tive vontade de parar algumas vezes, pois as gotas da chuva eram tão grandes que mesmo o limpador estando na velocidade máxima não dava conta e a visibilidade caia assustadoramente. E mais. Sou míope. Na sala de aula, a professora vendo a dificuldade para eu lê, espremia os olhos cada vez mais, ela vendo aquilo vaticinou:

-Ai coitado, vai ter que usar óculos a vida toda!
Pareceu que ela falara de uma doença contagiosa. Eu detestava óculos,e foi um martírio acostumar-se. Nos primeiros dias doía o dorso das orelhas, e o osso do nariz. Em compensação tudo ficou mais colorido e límpido. Assim foi mais fácil aguentar as gozações, os apelidos "fundo de garrafa", quatro olhos", "ceguinho". Mas o pior foi para dar o primeiro beijo. A garota também usava e constantemente trombávamos no ato. Mais acostumamos. Ela tombava um pouco a cabeça de lado e eu também e nossos lábios se encontravam, rapidamente. Hoje em dia é uma peça indispensável, é a primeira coisa que pego ao acordar e a última que largo ao dormir. Curtir quando os Paralamas fizeram a música "óculos" as garotas deixaram o preconceito e agora usar óculos até, dizem dá um certo ar de "inteligencia". Agora tem a cirurgia, mas refutei. O óculos faz parte de mim.

Passei vária cidades sem perceber.

Lá fora o tempo estava cinza. Comecei senti frio, mas não podia desligar o ar. Fiquei até com pena do carro da frente, pois, os vidros parecia espelho de sauna a vapor.

          Mais um pouco e a chuva abrandou e foi assim que passei Pouso Alto,Caxambu,Baependi e quando estava aproximando da entrada de Aiuruoca, penso em Isis Valverde sempre, naquela propaganda das sandálias havaianas.  Ela é de Aiuruoca.  Significa casa de papagaio. Dou seta para entrar.
Claudia tira os olhos do celular.

          -Uai! Tá fazendo o que?

          -Vou parar aqui e esperar a chuva passar!

         “Quem sabe que não vejo a Ísis Valverde em alguma cachoeira ,e de  biquíni calçada com uma havaiana branca?”.  E ao ver-me dissesse:

          -Uai! Como você chegou até aqui com esse dilúvio?

          -É exatamente nos dilúvios que encontramos as sereias, eu diria.

          A pele dela toda pontilhada de arrepios.
Eu desconverso.

          -E essa chuva hem!

Ela diz com malicia.

          -Foi para a gente se encontrar!

          Eu tiro os óculos e fixo nos seus. Percebo que fiz algo que não costume fazer em público. Tirar os óculos para mim é se desnudar. Tento colocar outra vez. Ela segura minha mão.

          -Não espera! Teus olhos assim na chuva brilham como os olhos de um lobo! 


          Esse pensamento surreal veio como um raio e caiu bem perto de nós passageiros da estrada  seguido de uma rajada de trovão. Olhei o retrovisor. Agora éramos mais de vinte faróis piscando numa carreata.  Descobrimos tarde que o relógio do tempo era real, tinha sido atrasada uma hora. O horário de verão tinha acabado. Escureceu.

Nisso a chuva parou por milagre ou pirraça.

          -Toca para casa, disse Claudia. Eu sei bem o que você quer aqui! Parece um adolescente.

          Aiuruoca ficou para trás. E Ísis Valverde não apareceu. E minha adolescência vai longe.

          Diminuo a velocidade do limpador e troco a música. Desliguei o pisca. Foi quando em Bom Jardim de Minas o criador resolveu abrir todas as torneiras novamente com gosto e veio junto um pé de vento feroz. Parecia uma pena pelos pensamentos pecaminosos.

          Entro no manual novamente: Pisca ligado, velocidade reduzida, distancia entre os carros, desembaçador e limpador na velocidade máxima. Mas a coisa havia piorado. Era noite, os carros mais afoitos tinham sumidos na frente e eu agora estava sozinho na pista me senti um vaga-lume na noite fria.  Prossegui viagem. Não podia parar. Nessa hora é melhor seguir devagar e sempre. Ajeitei o os óculos sobre o nariz e aproximei mais do para-brisa. O acostamento estreito, parar era um perigo. Assim aos trancos e barrancos avistamos as luzes de Juiz de fora.

          -Eu vou ligar para minha irmã, aviso que vamos dormir aqui, é mais seguro. Disse Claudia.
Ninguém atendeu. “Ora, as pessoas aqui tem o que fazer aos domingo em vez de ficar em casa, penso”.
Ligou para um irmão em Ubá.
          -Aí está chovendo?

          -Nem uma gota, disse ele.

          -Nnão? Aqui está um dilúvio!

          -Prá você vê, dissera ele.Ele gosta de falar mal de tudo. Aqui o pessoal não reza por isso não chove. “Eu aqui rezando para não chover”, penso.
Desligou.

          -Meu irmão falou que em Ubá não chove nem a pau, disse Claudia sorrindo.

          Decidimos seguir em frente. E honestamente prefiro chegar logo em casa depois de uma viagem.

           Até Cel. Pacheco  foi tranqüilo. De Cel. Pacheco a Tabuleiro choveu bem, mas a pista bem marcada e sinalizada  ajudou bastante.

          -Bendito o olho de gato, digo. É de grande ajuda na escuridão.

           Rio Pomba a Ubá é que foram elas. Bateu o desespero. A chuva aumentou assustadoramente, e a pista parecia um quadro negro, não tem faixa, as placas ficam no meio da vegetação e os quebra -molas não são pintados, “Para onde vão os impostos que pagamos quase grito quando passo por cima de um que nos jogou quase ao teto. Veja isso! As estradas sem acostamento, sem capina, as pistas não tem caimento, sem caneletas, riachos atravessam a  pista tornando-as perigosa com risco de aquaplanagem , atravessa todo tipo de entulho,barro, pedras, bambu, arbustos  e por incrível que pareça arranjei humor para lembrar  da piada do caipira e do engenheiro:

É assim:

O caipira sentado no barranco, pitando, apreciando a paisagem, quando para um carro e descem dois sujeitos com um monte de tralhas. O caipira observando os dois, mede dali torna a conferir, até que o caipira não resiste e pergunta:
- Me adescurpe a intromissão mas o que é que oceis tão fazendo cum estes trecos tudo ai?
- É que nos somos engenheiros e estamos fazendo as medições de uma estrada!
- Ah bão, é que aqui nóis num faiz estrada desse jeito não! O engenheiro em tom desafiador pergunta:
- Ah, não? Então como é que vocês fazem estradas por aqui?
- Ah bão, a gente sorta um burro pelo caminho e vamos seguindo o bicho, por aonde o bicho passa é o meio caminho para se faze a istrada. O engenheiro , pergunta:
- E se você não tiver um burro para fazer a sua estrada?
- Bão, neste caso a gente chama um engenheiro.

Carros cruzam  piscando loucamente os faróis . Diminuo a marcha.

          -Ai meu Deus! Espero que não seja acidente! Diz Claudia.
Redobro a atenção.
          -Lá na frente, cuidado, uma árvore caída! Grita Claudia. Só dá tempo de eu passar por baixo desviando pela direita. Ela não soltava o rosário recém comprado em Aparecida. ”Será que vale, questiono, não foi bento!”.

          Na frente a giro flex da polícia e dos bombeiros joga raio de luz vermelho em todas as direções Também nos eucaliptos em volta. Um carro branco que tinha me ultrapassado uma meia hora atrás tinha derrapado e batido no barranco. Eu tinha até xingado ele, pois na ultrapassagem  jogou muita água no meu pára-brisa. Apressadinho de uma figa, tinha gritado.Agora deu pena. Espero que ninguém tenha se ferido. Passo devagar observando. Tem uma maca na chuva. Os bombeiros prestam atendimento. Um policial sinaliza com a lanterna, para que ninguém pare.  Seguimos.

          Quando avistamos as luzes bruxuleantes do Bairro São Sebastião,  suspiramos aliviados. “Vixe como tem Santo!”.  
Ledo engano.
 Não era o fim.
         "Parece que os governantes fazem especialização com os governos anteriores. Sem exceção todos aprendem direitinho como tapar buracos.  Não deve ser asfalto. Deve ser tinta preta e areia que solta na primeira chuva e ele, o buraco aparece novamente.
São todos de nós conhecidos. Tem um ali perto da pracinha do lado da escola em frente uma padaria indo para o Caxangá, apelidei –o  de bombinha “cabeça de negro” Depois que você passa em cima é que sente o estrondo.
Ali na rua da geladeira tem outro. Todo o dia eu o cumprimento. Na beira rio outro, perto da ponte. Esse passo no meio com os pneus. Tem um na esquina que exige um pouco mais de perícia.Você finge que vai subir na sarjeta e dá um golpe para dentro.
Em frente ao posto policial, na gare do trem, dois que vivem cheio de água. Esses são bons para encharcar os pedestres e passageiros que ali esperam o coletivo.

          Já quem faz o quebra molas, esses são do mau, penso.  Sou a favor até, desde que bem sinalizados. Mas os daqui ninguém vê. São fantasmas. E não colocam placas. Só sentimos depois do baque.

          Dessa aventura o resultado foi a troca de dois amortecedores, duas lâmpadas queimadas e o escapamento estourado.
          Meu desejo era terminar essa crônica ou sei lá, relato de viagem, vai, com vários palavrões e pessimismo com toda a situação, mas lembrei de minha mãe, que dizia que tudo tem um lado positivo.
          Assim fui Tirando a bagagem toda amarfanhada. Na chuva mesmo. O portão cismou em não abrir.  Desconfiava que no porta mala tivesse mais surpresa e vi as roupas encharcadas, tralhas quebradas, o violão tinha perdido a “mizona” arrebentada, um vidro de molho de pimenta malagueta esparramado  junto com o cheiro da cachaça derramada. Um verdadeiro samba do crioulo doido.

          Quando ia soltar um palavrão escolhido a dedo bem impudico, vil, sórdido, vi  lá no cantinho enrolada  numa folha de jornal amassado, a santinha, comprada a pedido,intacta e vestida com seu manto negro e dourado, aí desabafei.

          -Temos que lutar pelos nossos direitos sim! Nós, simples mortais pagamos os impostos em dia.           
          -O que fazem com os impostos? Enchem o bolso.
          
          -E que podemos discutir religião sim!
          -Discutir futebol sim!
           Temos que falar sobre sexo sim!
          Temos que discutir política sim!
         -Mas tudo civilizadamente, com educação e respeito pelo outro.
Só assim, podemos melhorar o lugar que vivemos.

          E que Deus seja louvado.



sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Convicções


                                                               

                                                         

                                                  Convicções 





A respeito da condenação do Ex Presidente Luiz Inácio da Silva-Lula muitos falam e poucos dizem. Uma das principais e cínica é a que fez o Presidente do golpe Sr Michel Temer que diz: “Convenhamos se fosse derrotado politicamente, é melhor do que ser derrotado(na justiça) porque foi vitimizado.
Primeiro: Ninguém é derrotado pela justiça e sim feito justiça. E nesse caso em particular não houve, pois faltaram provas. Não estão nos autos. A condenação foi feita com base em convicções.
 Acreditar na palavra de delatores que querem diminuir suas penas a todo custo é uma temeridade. Pelo que eu sei delação não é prova, mas um meio para consegui-la.  Julgar por convicções pior. Segundo o escritor Joseph Conrad, autor do romance Vitória, "nossas convicções nada mais são do que servas de nossas paixões".
Isso mesmo:  Foi uma vítima da justiça brasileira, que há séculos continua a mesma. A balança de dois pesos e duas medidas. Veja parte do poema de Luis gama que diz: “ Não tolero o magistrado, que do brio descuidado,vende a lei, trai a justiça,- faz a todos injustiça- Com rigor deprime o pobre presta abrigo ao rico, ao nobre, e só acha horrendo crime no mendigo, que deprime.” Isso é corriqueiro.
E basta recordar os áudios vazados para a imprensa que transcrevo aqui sem aumentar vírgula, em linhas gerais o enredo do golpe, essa história medonha que se passou aqui na república das bananas.
Vejamos:
Não é ficção preste atenção: Os diálogos  estão em negrito.
Machado-(Se encontra “preso” em sua mansão na praia com todas as regalias).
-Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel(temer).
Jucá-(hoje é ministro )
-Só o Renan(Calheiro) que está contra essa porra.
Machado-É um acordo. Botar o Michel. Num grande acordo nacional.
Fato: Passou o impeachment da Presidenta Dilma na câmara presidida por Cunha(hoje está preso na papuda). Passou pelo senado presidida por Renan Calheiro(responde por vários crimes e continua presidente do senado, aliás peitou o supremo).
Jucá:
-Com o supremo, com tudo.
Aprovou o impeachment  mesmo com toda evidencia de um golpe.
Machado-
-Com tudo. Aí parava tudo.
Mais tarde no congresso tentaram mudar as leis de delação em benefício próprio.
Jucá-
É. Delimitava onde está. Pronto.
Trocaram o chefe da polícia federal.

 Temer presidente flagrado em conversa escusa onde ele termina o diálogo assim:
-É. Temos que manter isso aí, viu?
   E outras cenas absurdas como deputado correndo com mala cheia de dinheiro.
Apartamento abarrotado de grana.
Chefe que vem a pública dizer peremptoriamente:
“Uma mala não é prova de nada!”.
-Como assim! Como assim!  Puta que La vai pampas!
Que justiça é essa que tira do poder uma presidenta que teve maioria absoluta nas urnas, sem provas concretas alegando pedaladas, condena um ex presidente, um dos melhores que o país já teve, por convicções?
Que país é esse? É o que queremos?
Prá mim não.
 Não coaduna com uma república séria nem com  a democracia tão aclamada nesses últimos tempos.
Numa verdadeira democracia a lei máxima é sua constituição e nela diz:  Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...
Só tem um jeito de se fazer justiça a tempo. O TSE validar a candidatura de Lula aí sim, o pleito seria democrático e a vontade do povo soberana, seja qual for o resultado, sem golpe e sem trapaças.
 Deixem o povo escolher!

Como diz o ditado: “A voz do povo é a voz de Deus”.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Indicação

                                            Indicação







Estava em casa procurando o que fazer e comecei a zapear o netflix atrás de um filme que me interessasse.
Foi quando me deparei com um de nome estranho.  “Já não me sinto em casa nesse mundo”. Título longo. Chamou minha atenção.
Direção de Macon Blair. “Nunca ouvi falar”.  Bom! Pensei :  “vou dá um crédito de confiança. Se não me agradar os quinze minutos iniciais, paro de ver e vou fazer outra coisa”. Simples assim. Escureci o ambiente e dei play.
Confidenciando, sou um cinéfilo inveterado, daqueles que mesmo o filme sendo uma bosta, vejo até o fim, só para exclamar:  “ufa!, até que enfim terminou e não entendi o que o diretor quis dizer”. Verdade.
Uma mulher de seus trinta anos mais ou menos sai da varanda, silhueta um pouco cheiinha, “suculenta” como diz um sobrinho meu talvez por que ele vê a mulher como um X-burguer,   olha para o céu escuro.  Uma música de fundo. Opa! Penso. Temos música legal. Eu chego a sentir o que ela sente. Estou sendo observada. O seus olhos nos diz isso. E quem embaixo desse céu de meu Deus, que nunca imaginou estar sendo observado?  
 Por quem? Extraterrestres, pensei.  Isso aguçou sobremaneira  meu talento nato de imaginar coisas. Outro ET?   Era muita irresponsabilidade do diretor trazer novamente esse tema.
Amanhece e ela descobre que alguém lhe havia visitado na calada da noite e que furtara seu notebook e um talher de prata, herança de sua avó. Isso talvez seja um signo criado pelo diretor para trazer o passado para o presente.  Tem  carro antigo e tunado.
Aí é apresentado o perfil psicológico da personagem que é de uma enfermeira que se auto medica, estabanada, solitária que chega ao cúmulo de não xingar alguém que tenha o desprazer de contar-lhe o final do livro que  está lendo.  Mas são esses defeitos que nos aproxima e ficamos torcendo para que tudo dê certo. Heroína de carne e osso.
 E ela ainda faz a pergunta que todos um dia fizemos ou faremos: “O que viemos fazer aqui no mundo?”.
E o filme não explica claro.
Chamou minha atenção também à maneira como são os personagens.  Estranhos e diabólicos. Uns tão prováveis que parecem saídos da vizinhança e outros tão inverossímeis, frios e calculistas como saídos do game Gta da Rockstar. Só quem é game maníaco vai entender. Matam sem motivo numa cidade cheia de bandidos. Mas isso é outra história.
A partir daí o enredo nos vai levando num emaranhado de situações hilárias, na medida certa de humor, suspense e piadas cretinas. 
Ela vai atrás de seus pertences ao sentir que o estado, representado pela polícia pouco faz.  Se sente impotente
Sentimos que é um filme policial, mas não espere ação frenética tipo duro de matar nem grandes tiroteios. Tem isso também.  Mas fala principalmente da solidão, da morte, da falta de convivência e de como somos provisórios.
Isso regrado por uma ótima trilha sonora que vai desde  o  rock and roll e country.
Não conto mais.  Perde a graça.
Não é primoroso, mas, quando subia as letrinhas esbocei um riso, tipo ufa! Foi bacana. E fiquei ouvindo a musica até o the end.
Indico.


segunda-feira, 23 de outubro de 2017

O Anúncio

                                       

                                                   O anúncio








          Vende-se romance escrito no século passado. O mesmo abarrotado de fatos e mitos relevantes sobre a humanidade: paixões, intrigas, guerras e principalmente desamores.
Odiar é nossa especialidade. Li e gostei muito.

           O romance em si é sobre a vida de personagens que trombamos nas esquinas do dia a dia, das vizinhanças e que acaso passaria despercebidos se não fosse o olhar atento do poeta que anotou e cantou suas poesias e o fixou em folhas de pergaminho diariamente.

           Inédito e único. Pronto para ser publicado. A não ser que o felizardo comprador queira mudar personagens e título. O título está bem ao gosto do público atual.  “ A pobre vida rica do Sr. Y”.

 Saliento que em tempos normais eu mesmo a publicaria. Mas estamos passando tempos difíceis onde a direita escoiceia e a esquerda rumina. E como a ideia da obra é instigante e alem do seu tempo, temo ser perseguido pelos fins do meu dia. 
Então o comprador terá de ter duas virtudes essenciais: Coragem e poder.

Além disso, sou avesso a fama, por mim o jogaria no fundo de uma gaveta da cômoda velha que ocupa o lado esquerdo do meu quarto, bem perto da janela onde todo dia vejo o sol morrer.  Mas eu acho um descalabro deixar a arte assim presa, arte tem que ser livre como o vento, que às vezes sopra mansinho e ameno outras vezes vem como um furacão levantando o mofo e a poeira escondidos.

 Por isso estou pondo a venda essa relíquia citado em várias  obras como uma lenda. Os títulos foram diversos, por exemplo: A relíquia, O grande romance, O abutre e tantos outros  se pesquisarem com afinco as escritas do tempo de Hamurabi lll na  coleção de Alalaque ou nas literaturas indiana, chechena  e russa.

O único ser vivo que folheou essa escritura foi a senhora  X  que era esposa do senhor Y. E Se ela foi personagem, penso que sua vida foi um escândalo feliz.  
 Dizem que ao ler o primeiro parágrafo ela olhou fixamente para um canto, deu um gemido e em seguida lágrimas transbordaram em borbotões pela face pálida.  Depois leu dia após dia até o ponto final, quando por fim o escritor deu o trabalho por terminado. Isso levou justos oitenta e seis mil e quatrocentas  horas, que foram marcadas na lateral de cada página com um traço de sangue . Quando chegou ao fim, ela olhou pela janela, e viu que já entrava o outono o cheiro da primavera já se esvaíra e o vento sacudia  a copa das árvores  as folhas caindo murchas pelo chão. 

Quanto tempo se passou  ali, perguntou-se. Não houve resposta. Assim ficou mais dez  anos em transe pensando na morte da bezerra.   Nesse dia fazia um calor descomunal  ventava muito. Seus gemidos foram abafados pelo barulho das cigarras de outono. Desconfio que romance tocou-lhe  n´alma.
Penso até em suas digressões:

“Como pode alguém se perder assim na vida sem uma obra construída, cega as coisas que aconteceram ao redor, onde andava o grande amor, os filhos os netos,  as guerra? 
O  que fazer com essa dor, essa solidão que a devorava e que fazia olhar insistentemente por uma janela talvez a ver a luz surgindo todo dia no horizonte?”.

Não tenho certeza se os lamentos de X , foram esses,  se mesmo as lágrimas enfim, foram provocados pelo romance. Sei que o primeiro parágrafo o mestre usou a técnica que para mim soa perfeito, a métrica, o ritmo e cita algo vago como a eternidade, o amor, esse tipo de coisa que foge entre nossos dedos, mas, que é forte chamariz dos que virão, e sem ao menos avisar, preparar, escreve o último parágrafo, como um êxtase e  nos planta um soco no estômago  e quando a dor vem e ficamos tontos nos fala de coisas reais e indescritíveis como a morte,  para no parágrafo seguinte falar de sonhos, sonhos e sonhos.  Ah como sonhamos! A vida só vale pelos sonhos que tivemos. Os realizados ou não, não importa. O que importa  a estrada.

Se tirarmos os sonhos de nossas vidas o que restaria?

Somado isso ele nos leva pela mão com segurança e até certa volúpia e desdém nós, os pobres e comandados leitores. Somos uma corja de apaixonados. Ovelhas nas mãos de lobos. O uivo do poeta nos chama de longe, como um encanto. E caímos em suas garras. Gostamos até de sermos devorados, estrangulado, até a última gota de sangue.

Há de se imaginar também que tais lágrimas poderiam ser devido ao açoite do vento na vidraça ou a imagem das folhas caindo murchas ao chão ou o ciclos interminável da natureza, inverno, outono, primavera e verão, dia e noite, noite e dia,  ou pelos cabelos brancos em desalinhos do velho escritor sentado de costas  trabalhando arduamente em vão como as estrelas que não aparecem de dia,  abafadas pela luz do sol   e ele no limbo a espera de uma rima que não vinha ou pela crise existencial, esse lobo que uiva sem parar nas noites de lua cheia ou o trote do tempo que lá vai rápido como um potro negro.

Isso tudo são algumas imagens fúteis que ela nos traz com seu olhar condescendente. O importante está na alma. As imagens são construídas pela alma. Quem dá cor à cena é o sentimento. A felicidade é colorida e as imagens são grandes e próximas. A tristeza é cinza. Sentimos tão pequenos quando cinza.
Encontrei esse calhamaço de papel numa viagem ao Egito. Numa pirâmide ainda desconhecida pelo grande público. Trouxe escondido numa mochila correndo todos os riscos. O fiscal da alfândega olhou para mim e falou algo, eu fiquei em silêncio e parado como um soldado em posição de sentido. Pois sei que a fala nos corrompe e a escrita nos entrega.

Assim foi.

Fiquei um ano sem saber o que fazer com aquela obra original.
Escrevo algumas crônicas em jornais e tenho o meu blog na internet, mas juro por deus, jamais, digo jamais escreveria uma obra dessas. E as também hoje  pessoas preferem as redes sociais às convivências reais.  É fato. Tudo parece está dominado. Na rua não se cumprimentam. Andam como robôs ouvindo coisas nos fones de ouvidos. E o tempo cavalga em galope rápido e constante como um jovem potro negro.
E arte meus amigos, ela olha-se para dentro, e busca no seu interior sua própria mensagem. Se uma criança sorrir é por que é o que ela tem de expor. Se alguém chora é que foram tocadas em suas feriadas. Arte é espelho que reflete sua alma.
Assim, em virtude disso exposto, ofereço a quem der mais, as mil e uma laudas escritas por grande mestre,  vaticinando o futuro, que essa obra, sem sombra de dúvidas, será o maior  sucesso de público.

Ofereço total segredo para que o comprador possa mudar personagens, título e assinar da forma que quiser como sendo sua a obra e usufruir os louros da fama.
Tenho a absoluta certeza que esses personagens  ganharão o mundo. E eles que em suas vidas normais não foram citados em colunas sociais( notas que só alcança o ego das bestas) em conhecendo-se suas desventuras, amores, paixões e morte, serão  de grande relevância na história.

E o dono do título com certeza  o levará ao tão cobiçado premio Nobel de literatura, ficando ainda com a parte que a maioria deseja(  improfícuo em minha opinião ), terá direito ao  fardão na academia, o chá das tardes com os iguais, notas em jornais, mulheres fáceis e dinheiro.

Podem até acharem que é utopia vendê-la dessa forma, uma resma escrita à mão.  Escrito muitas vezes á luz de velas como já disse o escritor, “ouvindo estrondos de bombas caindo ao redor quando participei da primeira guerra mundial como soldado raso,  guerras que eu não arranjei, mas combati com afinco e escrevi algumas linhas dessas com o coração disparado  à espera da  hora correta de subir as trincheiras e estripar o inimigo. Não é glória estripar alguém como  a um porco. Mas fazemos assim mesmo,com sangue frio.

Outras vezes escrevi no lombo de um camelo em caravanas pelo deserto do Saara. Participei até de uma viajem com  “El ingenioso hidalgo don Quijote de la Mancha” e ouvi de sua boca, “Senhor, uma andorinha só não faz verão.” Por um mês andei assim o seguindo em suas batalhas. Por fim quando cansei de sonhar ele me falou com sua figura triste: “Cada um é como Deus o fez e ainda pior muitas vezes”.

A partir desse ponto seguimos calados uns duzentos quilômetros. Foi quando ele parou no cimo de um monte e soltou essa: “Esse meu mestre, por mil sinais, foi visto como um lunático, e também eu não fiquei para trás, pois sou mais pateta que ele, já que o sigo e o sirvo, se é verdadeiro o refrão que diz: ‘diga-me com quem anda e te direi quem és’ e o outro de ‘não com quem nasce, mas com quem passa’.” 

Eu já não pensava direito, via imagens nas planícies. Então para não enlouquecer decidi seguir sozinho. Ele ainda disse:  “A liberdade, Sancho, é um dos mais preciosos dons que os homens receberam dos céus. Com ela não podem igualar-se os tesouros que a terra encerra nem que o mar cobre; pela liberdade, assim como pela honra, se pode e deve aventurar a vida, e, pelo contrário, o cativeiro é o maior mal que pôde vir aos homens.”  Sancho ouvia tudo calado.

A imagem deles que ficou comigo foi de dois pobres diabos ricos em sonhos. Nunca mais nos cruzamos novamente.
 Outras vezes escrevi na cabine de um navio, singrando mares com um capitão louco para matar uma baleia. Quase morremos sendo comido por canibais.
O Conto de Genji  é considerado o primeiro romance literário do mundo, de autoria atribuída a fidalga Murasaki Shikibu, escrito no começo do século XI, durante o Período Heian da história do Japão. Mas com essa descoberta tudo cairá por terra. E isso, só isso trará muitas confusões, abalará estruturas, egos e etc.

Faço tais citações para saberem o quanto é grandiosa a obra.

Para que vocês fiquem certo que esse negócio é certo pois nessas  páginas encontrarão sangue, suor e  lágrimas.  São muitas noite solitárias.   E o comprador terá livre arbítrio de colocar os capítulos na maneira que lhe aprouver. Assim ficará livre do ônus da obra. Principalmente das críticas. Terá o nome cantado em canções e operetas. Até Camões, não sei como como, escreveu certas coisas que confrontados hoje, parecerá plágio.
Fernando pessoa, veja bem, na criação de suas personalidades teve com certeza influências.

E pop fim o comprador fundamentalmente não terá obrigação nenhuma com a arte, pois será mera mercadoria, - um produto comercial, -um escambo e assim como disse o escritor no prefácio, “Cedo-vos o alimento da alma, cedes-me o alimento do corpo.

E ficamos quites.

Está aberto o leilão.