Manha de domingo, sol claro de setembro.
Um homem se levanta.
Esses movimentos, muitos fazem, semelhantes. Uns apressados outros devagar, uns tristes outros alegres, movimentos ordinários do dia a dia. Indefesos.
A cidade sorria, a natureza em flor. Tudo era felicidade.
O sangue circulava satisfeito por suas artérias e veias, levando calor e vida aos extremos.
O domingo lhe doía mais.
Vai ao banheiro e se observa no espelho. Cerra os dentes num gemido rouco. Seria humano? Essa pessoa ou coisa? Talvez um bicho, desgarrado de sua manada. A barba por fazer, a mente em turbilhões, uns olhos frios de murchar roseira.
Passa a espuma no rosto, pega da navalha, mas não consegue se barbear. Sente uns torpores, umas tristezas, dificultando-lhes os movimentos, como nos pesadelos infantis.
O monstro noturno se aproxima cada vez mais rápido e ele lento como ao correr sob água parada tirava-lhe a forca para o escape, e sentia-se presa fácil, inerte se entregava a sua destruição. Mãos bolinaram-no no escuro.Envelhecera.
Seus músculos, nervos e tendões, não o obedeciam como antes. A campainha toca, mas ele não se move. A luta era desigual. Ele contra as forcas ocultas. Como vencer o medo do obscuro?
O cérebro, um amontoado de nervos e massa cinzenta, inoculada de sangue mal. Impregnava-o
Baixa lentamente a cabeça e observa os pés: Estavam fincados ao chão, como raízes. Como fugir do passado tão preso nas entranhas?
Ver-se no espelho de soslaio. Irreconhecível.
Cadê o ser juvenil de outrora? E o riso na cara larga? E todas as suas mascaras? Agora se sentia uma ilha, na solidão do banheiro. Só. Agora era ele contra si. A solidão lhe doía n’alma.
O chuveiro ligado caia pingos brilhantes e escorria ao ralo.
A campainha insiste e tudo o que ele faz e fechar a porta do banheiro.
Trepado em uma perna, sacode a outra num esforço pesado, e estronda a porta atrás de si. Pega a navalha, olha-se fixamente no espelho e corta as carótidas. A água no ralo se tingem de vermelho. Rubro.
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