sexta-feira, 14 de março de 2008

Uma aventura inóspita


Uma aventura inóspita

A

conteceu comigo, numa manha de segunda. Fazia muito calor.

Cidade pequena, do interior.

Resolvi comprar, uns jornais na banca mais próxima.Sai bem humorado desejando um bom dia a todos que encontrava, sem antes gozar com alguns vascaínos, conhecidos meus, que passavam apressados indo ao trabalho. No domingo o flamengo alcançara a tão almejada vitória: sagrara-se campeão do rio.

Aproveitando os furos da agenda naquela manha, havia vários horários vazios, tempos bicudos aqueles,leria prazerosamente o jornal do dia, curtindo mais demoradamente a vitória do meu time. Puro engano.

O que eu encontraria a seguir era uma selva, uma selva de pedra.

Desci a rua João Guilhermino, calmamente e desemboquei na São Jose, sentido ao centro. Assustei-me!

Não conseguia atravessar a estreita rua.

Em frente ao sinal que existe ali, sobre a faixa de pedestre, onde cruzam as ruas: Duque de Caxias com a Beira rio, me fez senti acuado. Amedrontado.

Senti-me diante da rua como diante, de um rio, infestados de feras,.em plena selva. E creiam, na selva os animais se respeitam mais.

Tentei manter a calma e esbocei um sorriso.”Fica calmo!” Levei a ponta da língua lentamente e passei no palato, sentindo as nervuras gengivais. Isso me fazia mais calmo. Mãos nos bolsos, com os dedos nas moedas: tilintava-as. Senti-me inseguro.

Na rua passavam caminhões como rinocerontes aos solavancos roncando, soltavam ruídos e fuligens para todos os cantos. Ensurdecedor. Recuei.

Os carros de passeio, com vidros negros, lúgubres,levavam gentes furiosas, e estes gritavam em estrondos “vou te da uma atoladinha”. Tremi. Se tentasse atravessar seria chacinado. Esperei uma melhor hora. Olhei para o céu. Um céu azul cheio de brilho.

Criei coragem e adiantei um pouco.Com o bico do sapato tateei o meio fio. Olhei para os lados. “Era agora ou nunca!”

Subitamente apareceu outro que passou de óculos escuros, celular na mão, gritava ao falar, e que de quando em quando, socava o ar, no ritmo da “musica” falando algo de minha “bundinha”. Apavorei-me.

E eu as margens, esperava a correnteza abrandar. Outros tentavam também. Uma velhinha adiantou-se e um transeunte gritou:

-Olha a velhota! Uma bicicleta lhe pegou ao meio. Mais na frente bicicletas e motocicletas zigue- zagueavam de um lado para o outro,brigando entre si., como peixes rio acima, durante a piracema. Não só passavam por cima de tudo que viam , como não respeitavam o sentido da via. Vinham de ambas as direções. O sinal fechou. “E agora!” Pensei.

Pus um pe timidamente no asfalto, quando veio, subitamente algo deslizando e chocou-se de encontro as minhas canelas: Era um skartista que perdera o equilíbrio, quase me fazendo perder o meu. Respirei profundamente e contei ate dez como falam os manuais. Já estava quase desistindo, quando apareceu no inicio da rua, uma mocinha na direção: Como um cisne no lago, guiava tranqüilamente, deslizava no transito como no espelho d’água, parou e me deixou passar sorrindo-me. Os outros buzinavam ferozmente, xingavam-na, chamando-a de meia roda, vai pilotar um fogão e outras idiotices mais. Todos uns machistas idiotas: pensei.

Agradeci com um aceno. Correra todo o risco por mim. E anotei a placa.

No outro dia atirei-lhe uma cantada na cara.

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