A cortina se abre(Ou qualquer pano), um homem ou mulher( não importa o sexo) entra rindo e fazendo careta. Fala com a plateia. A prepara para suas piadas. Brinca um pouco e começa.
Eu sou leitor feroz. E anda para todos os lados. Continua: Igual cachorro louco. Não na medida de sair por aí mordendo todo mundo. Não. É que leio tudo que me vem às mãos. Quando vou ao banheiro levo um jornal. Não é para limpar não. É que faço tudo lendo. E leio de tudo. Até bula de remédio. Sou hipocondríaco também. Palavrão né? Juro. Sério.
Descobri uma coisa boa nisso tudo e agora tiro proveito. Nas bulas descobri que todo medicamento tem efeitos colaterais. Até bem piores do que a própria doença. Aí fiquei sabendo quais remédios tomareis para obter tais efeitos. Querem ver? Veja este. Quanto maior a bula melhor. Principalmente aquelas de tarja preta. É.
(Com uma bula na mão):
-Ah! Essa diz que quem tomar esse remédio terá uma coceira pelo corpo todo. Ri. Hum! Pausa.
Dispara rápido para a plateia ri:
-Tomarei esse àquelas horas quando estiver a fim de coçar o saco. Quase todo dia claro! Até a presidenta toma. É
Pausa.
-Só que ela coça é a periquita né. Ou não É? Risada geral.
-Esse outro- mostra a bula - diz que terei flatulência. Ah! Como foi bom tomá-lo no dia que minha sogra veio me visitar. Nesse dia me vinguei. Vou contar. Foi assim: Cheguei a casa depois da pelada de fim de semana(Porque elas escolhem justamente o domingo para nos aporrinhar?) e a vi ali como um estafeta. Ela vendo o Faustão na minha poltrona predileta e tomando da minha cerveja. E no meu copo que tem o escudo do flamengo. Aí fudeu. Cresceu um ódio, pois sei que ela é vascaína doente. Fazia aquilo para me sacanear. Fui ao quarto e peguei duas pílulas grandes dessas que daria flatulências.
-É peido mesmo, bufa em outros estados, estalo ou outros nomes qualquer. E sentei perto. Aí comecei. Primeiro aquele bem fininho. Assim ó. (imita) com um assovio.
-Igual peido de menina moça. É. Menina peida fininho.
Ela me olhou torto do jeito que sogra sabe: Assim ó e faz uma cara feia. Eu olhei para os lados como se não fosse eu e ponho a culpa no cachorro. Digo: Com aquelas vozes detestáveis que os casais fazem:
-Bem êêêê! Falei para você não criar cachorro em casa não falei? Vem ver que fedor está na sala.
Ela me olhou desconfiada, mas aceitou a desculpa.
Dez minutos depois veio outro como uma onda, tipo um tsunami. Vem fazendo um ronco como uma leoa ferida. Prendo um pouco e solto devagar como fazem àquelas senhoras. Aquelas mesmas que vão à missa aos domingos. Elas rezam mais peidam também. Claro! Todo mundo peida. Com estilo. Faz assim: Pooom! Depois balança o vestido para o gás despregar. Agora vocês já sabem. Se vir uma senhorinha balançar os vestidos já sabe. Poooom! E o cheiro? -É Pa-vo-ro-so!
Minha sogra se levanta. Finge ir à cozinha tomar uma água. Corro para o meu lugar predileto. Aí minha mulher vem carinhosamente chata:
-Bem êêêê! Senta pra lá que minha mãe gosta de sentar aí. A velha ri com desdém. Aí planejo uma vingança. Escuto o barulho no intestino grosso, desce pelo delgado, vem devagar igual o Barriquelo nas curvas. Seguro um pouco e quase explodindo solto sem barulho..., devagar. Aquele do camarada que comeu feijoada e bebeu o dia inteiro.
Vocês riem porque são assim também. Quando saem parece uma larva esquentando a beiçola. Sabem do que estou falando. Digo uma verdade: Esses que esquentam dessa maneira, com certeza alguma coisa já apodreceram. Verdade. Como diz um cunhado meu quando soltei um assim: Falo com propriedade. Aprende-se muito com as gazes também. Ele disse abanando a mão em frente ao nariz:
- Se colocar o polegar no dito cujo do sujeito que soltou esse e traçar uma circunferência de trezentos e sessenta graus em volta, pode operar com certeza que está podre.
Não demorou um segundo. Foi como uma nuvem negra. A sogra me olha de través com ódio. E grita:
-Acho que tem um porco aqui! Adoro. Rio baixinho. Grito para minha mulher me vingando das cervejas que ela me proibiu tomar, e de todas as coisas que os casais sabem quais, e falei assim:
- Benhêêê! Não falei que não era para criar cachorro dentro de casa?
Aí minha sogra se desesperou e gritou aturdida:
-Sai rex, sai de debaixo dessa poltrona se não esse porco defeca em cima de você.
Mas consegui o meu intento. A velha se foi e eu fiquei a tarde inteira ainda peidando no sofá vendo o Faustão.
Lá para as tantas resolvi sair. Peguei uma bula que dizia que teria tonturas.
-A-do-rei! Nessa noite nem precisaria gastar com a cerveja. Não é incrível! Tomei logo dois, e cheguei à balada assim: faz uma cara com os olhos vesgos.
-Tô legal vou curtir! E aí manos e minas, fazendo um gesto com o dedo. Pausa.
Depois olhando bem de perto notei que as minas eram travestis e os manos umas lésbicas horríveis. Na volta para casa, a pé lógico, (Depois de beber não dirija), duma hora para outra, trocava os olhos, e vinha o redemoinho, e ficava como os bêbados nas esquinas segurando o poste: Se cair eu caio junto(Voz arrastada de bêbado).
********
Mas não era isso que queria falar. Como ia dizendo, da ferocidade de leitor, observei como os grandes escritores, pintam alguns de seus personagens. Eles complicam. E como complicam!
-Oh! Vocês exclamam Oh! Eu respondo. Verdade. Muito engraçado. Poderiam ser bem mais simples, sintético, conciso, abreviado, breve, sucinto esses sinônimos que querem dizer: Curto e grosso.
-Impetuoso! Vocês pensam. Se pagarmos um papel e formos desenhando à medida que lemos seria mais ou menos assim, vejam:
GÉRARD DE NERVAL no conto “A mão encantada”, prestem atenção:
Vejam como ele pinta um personagem gastando as palavras:
“Seus olhos eram zarolhos e muito vivos, embora sempre semicerrados sob as espessas sobrancelhas, sua boca era rasgada, como as das pessoas que gostam de rir. Para acabar de pintá-lo, seria preciso pendurar no lugar de praxe um nariz comprido e quadrado na ponta, e também orelhas bem pequenas, moles, e de uma fineza de audição de ouvir tilintar um quarto de escudo a um quarto de légua, e o som de uma pistola de bem mais longe”.
-Um verdadeiro macaco. Não é? Muito mais fácil ele escrever: O homem era semelhante a um orangotango.
Mais além ele pinta outro: “um perfil em lâmina de foice testa alta, mas reta, nariz muito comprido e muito adunco, mas não no estilo dos narizes romanos, pelo contrário, muito arrebitado e com sua ponta apenas mais saliente do que os lábios finos bem proeminentes e o queixo para dentro; depois, olhos grandes e rasgados obliquamente debaixo das sobrancelhas, desenhadas como um "v", e cabelos pretos compridos completando o conjunto;”
Bravo! Bate palmas. Na infância conheci vários amigos assim: O verdadeiro cara de lua, era como chamávamos não é? Muito mais fácil.
Machado de Assis o mestre dos mestres caiu nesse erro também de complicar. Veja:
Descrevendo Capitu: “Quatorze anos, alta, forte e cheia, apertada em um vestido de chita, meio desbotado”.
Era só escrever: Uma gostosa.
Continua:
“Os cabelos grossos, feitos em duas tranças, com as pontas atadas uma à outra, à moda do tempo, desciam-lhe pelas costas. Morena, olhos claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha a boca fina e o queixo largo.” Aqui já parece um travesti. É ou não é? Acrescenta:
“As mãos, a despeito de alguns ofícios rudes, eram curadas com amor; não cheiravam a sabões finos nem águas de toucador, mas com água do poço e sabão comum trazia-as sem mácula. Calçava sapatos de duraque, rasos e velhos, a que ela mesma dera alguns pontos”.
-Ha! Há há ha! Poderia dizer simplesmente:
-Uma pobretona.
********
Vou escrever sobre isso outras vezes. Não sou novela, mas podem me acompanhar aqui no blog.
Quem quiser copiar para apresentarem-se em escolas, empresas, aniversários, casamentos ou até enterros, é simples: Paguem os direitos autorais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário