O simulacro
Não sei quem
inventou o trabalho. Com
certeza um filho de uma ronca e fuça, só pode. Porque eu, nos meus vinte anos
completados domingo passados, em vez de ir me divertir, tipo pescar, caçar e
depois, comer até encher o bucho e dormir, tenho que ralar, tenho que levantar
cedo, tenho que defender meu sustento,
meus vícios? O caralho! O caralho!
O que eu
gosto muito é pegar umas minas e foder. Isso é o bicho,eu gosto por demais.
Essa é a maior diversão.
O resto foi
invenção desses capitalistas selvagens, esses gringos filhos de uma puta, os
europeu, eu li em algum lugar, eles mesmos não gostavam de trabalhar, eles
foram escravocratas, e só deixaram livres quando precisavam vender suas bugigangas e ganhar dinheiro só
pensam em expandir, colonizar , essas porras todas, por isso que inventaram
produtos dos mais diversos só para os bestalhões crescerem os olhos e desejar.
Os preços são exorbitantes e o camarada tem que trabalhar como uma mula, a vida
toda, até a morte, no intuito promíscuo de possuí-los.
Comigo não
cola.
Não uso
esses produtos.
Fico puto
quando vejo aquelas propagandas de refrigerantes, de cigarros de tênis, de celular, de computadores,etc
e etc.. É somente para enganar.
Sabia que os
americanos, principalmente os americanos querem tomar conta de tudo e de todos
e usam a democracia para fazer guerras. Eles são belicosos. Muito. Fabricam
bombas e mais bombas. Tem a atômica a de nêutrons, e o escambau. Já usaram
contra o Japão. Uns bastardos é que são. No Vietnã. E tem muito corno que os aplaudem.
Eu quero é que eles se fodam. Fodam-se
capitalistas. Trouxas, tem muitos trouxas, por aí nesse hemisfério. O cigarro
que eu fumo é natural. Só de rolo.
Cigarro de papel não. Faço por aqui mesmo enrolado numa palha. O sabor é
indescritível. Refrigerante eu não tomo. Prefiro o caldo da cana caiana. O
cigarro dá câncer. O refrigerante diabetes.
Mas e que
demora é essa? Estou nessa campana a exatos noventa minutos.
Da esquina Everaldo
viu Adelaide apagar a luz. Minto. Ele viu a luz apagar-se e imaginou o que ela
estava fazendo. Agora ela iria colocar comida para o gato, tomar banho e depois
trocar de roupa.
Acendeu um rolão. Há meia hora tinha começado
a enrolá-lo. Primeiro picou o fumo na palma da mão. Depois o juntou com os
dedos desfiando um a um meticulosamente. Escolheu a palha. Usou a saliva para lacrar a ponta. Tombou a cabeça fechando um dos olhos, deu
um longo trago e soprou apagando o fósforo.
Da janela de
onde estava vi a luz do fósforo apagar-se e toda sua ansiedade. A rua estava
tranquila.
Fechou a
janela e saiu.
Ela agora
deve está saindo exalando aquele cheiro característico de puta. Todos os movimentos de Adelaide cronometrei, desde que ela fora contratada
pela mãe para ajudar a cuidar do seu pai.
Velho rabugento da porra é meu avô, custou a
me emprestar essa lata velha. Veja. É da época do toca fita. Esse opala é de
mil novecentos e sessenta e oito. Bem conservado.
Depois do
derrame ele ficou pior ainda. Ele é um desses canalhas que trabalharam a vida
toda, sendo escravizado pelos patrões que pagavam uma merda de salário. Hoje parecia mais um vegetal recebendo uma
merreca de pensão enquanto os patrões vivem viajando, comendo caviar e as melhores
mulheres, as putas que desfilam na sociedade, usam perfume francês, tem as bucetas raspadas, e no entanto gemem mesmo sem prazer.
Os médicos na época foram categóricos: Andar jamais, agora com fisioterapia
teria uma vida regular. Assim falou a médica de plantão, outra canalha, os
olhos inchados de trabalhar, ela disse, segurando no ombro do velho, para demonstrar
empatia, um sorrisinho maroto, não me engana, disse ela, “seu Joaquim a vida é muito boa, o senhor
teve sorte, a precisão do atendimento deixou poucas sequelas. Sorte! Sorte! Dele. Azar o meu. O velho
morrendo eu teria direito a parte que me tocava. Uma terrinha e uma casa no
interior. Uma merreca mas, melhor que nada.
Sorte de pobre, só se for. O velho muitas vezes, não foram poucas,
acordava gritando e contava entre lágrimas que sonhara correndo pela
praia. Nunca mais. Essa porra é assim mesmo. Não damos valor quando temos tudo no lugar as pernas
os braços a cabeça.
Deve ser por
isso que Adelaide sentiu pena e leva
agora o velho todos os domingos para
passear no calçadão. Dizia sorrindo:
- Vamos seu
Joaquim... Vamos dá um passeio na praia para refrescar as idéias.
A primeira
vez foi como dizem, foi um pé no saco. Ela me empurrou até a areia. Eu estava
envergonhado com a minha situação. Mas ela tinha jeito. Era carinhosa. De volta
quando me deu o primeiro banho eu senti a mão macia em minhas partes. Ela dizia
que era acostumada. Enquanto contava as suas histórias lavava minha bunda, meu
rego, meus sacos. Depois ela colocava talco nas dobras para não assar sua pele,
ela dizia. Assim com o tempo eu fui ganhando intimidade. Fui ficando mais bem
humorado, e agora já não me considerava um inválido.
Olha ela
apagou a luz e vinha silenciosa pelo corredor. Meu coração fcava contrito e em
disparada, eu parecia um menino, um jovem.
O velho essa hora gargalhava. Tinha poucos
dentes, o pobre. Se fosse um escravo,
agora não valia nada, nenhuma pataca. Um na frente, além disso, cariado. E para
o azar dele toda semana doía. Não escolhia dia.
Ela agora
deve está se trocando. Tirou o
vestido. Vai olhar-se no espelho detalhadamente, de um
lado e do outro, e vai sorrir para si mesmo. Ela sabia ser gostosa. Vem pro
papai vem!
Quando o
velho teve o derrame minha mãe tomou um baque. O mesmo ou maior do que quando
soube que meu pai tombara na rua aqui perto de casa com um balaço. Depois que a polícia prendeu os meliantes
soubemos como foi. Eram dois menores. Um deles batia pelada comigo. Das duas
uma. Matou meu pai ou para manter o vício ou para comprar esses produtos que já
falei.
Depois que
ele foi solto me pediu desculpa, disse que foi um acidente de percurso, disse
que meu pai tentou tomar a arma dele, disse que não queria matar, disse que meu
pai era “bocudo”. Eu deixei para lá. Meu pai era sim um sujeito ignorante.
Batia na minha mãe e em mim. Mesmo ele sendo assim, ela andou uns meses inconsoláveis, mas com o passar do tempo foi se acostumando. Agora ia ao shopping com
as amigas viúvas, deixando para Adelaide o serviço sujo. Dá banho no velho,
limpar sua bunda e alimentá-lo nas refeições diárias. As amigas até diziam a boca miúda,
que a senhora Maria do perpétuo Socorro minha mãe tinha até remoçado.
Um dia eu a
ouvi dizer a boca miúda, que meu pai era um miserável de marca maior, ignorante
e sovina. Aí pensei, como pode uma pessoa odiar tanto a outra e mesmo assim
fazer sexo com ela. Mas o problema é deles. Ela tem suas razões. Eu tenho as
minhas. Foda-se.
No dia que
Adelaide chegou, o velho deu uma diarréia tão braba que pensei que Adelaide não
ia voltar mais. Errei o prognóstico.
Falou que estava acostumada, e que o velho a partir dali seria seu bebê. Ela
dissera rindo:
-Seu
Joaquim, a partir de hoje o senhor é meu bebê! O velho sorriu encabulado.
Tem que ser
hoje, esse era o pensamento de Everaldo quando pegou a chave do carro do “velho”.
Planejara tim-tim por tim-tim. Adelaide saia às dez horas em ponto, depois de
trocar a roupa e já devia estar passando
aqui para o ponto de ônibus.
Deve ter havido algo. O velho pode ter se
sujado todo novamente. Velhos constantemente borram-se nas calças. Só pode ser
isso. Meia hora de atraso. Se foi só
isso ela agora deve está indo para o banheiro, vai ficar só de calcinha e
mirar-se ao espelho, vício das mulheres, e depois colocará sua roupa, aquela
calça jeans comprada no Brás, mas que lhe deixava um” pitéu”. Agora
passará pelo corredor dando tchau a minha mãe, entretida vendo a novela das dez. O velho estará lendo o
jornal e apenas resmungará um boa noite baixo. Ela pegará o cinzeiro cheio de
bingas fedorentas, dirá seu Joaquim, meu bebê, você tem que parar esse vício,
ajeitará o travesseiro do velho na cabeça, jogará as bingas no lixo e sairá
para a rua.
Porra, só em
pensar meu pau está ficando duro. Vai ser aqui no carro mesmo. Ele é espaçoso.
O banco de trás é inteiriço.
Dias duros
passamos. Lembro que quando o velho chegou, ao quarto vindo da cirurgia, minha
mãe deitou- se com ele na cama, acariciou o seu rosto, sentindo a barba para
fazer. Ficou junto com ele olhando o
teto muito tempo em silencio. Naquele dia ela não conseguiu dormir. Nem ele.
Nem eu. Eles dois ficaram quieto, os
olhos abertos, eu escutava minha respiração e até o tic tac do relógio da sala.
Naquela
noite o velho deve ter tido a consciência de tudo e começou a gritar, a tremer,
e com os braços inarticulados sem
controle a enfermeira achou melhor amarrar-lhe a cama para segundo ela, não machucar- se a si mesmo. O que fez minha mãe questionar,
Meu Deus ele vai ficar amarrado assim? Até ele se acalmar dissera a enfermeira.
Igual bicho
raivoso. É foda.
Eu não tinha
costume de ter pena dele não, mas esse dia, aliás, essa noite eu senti. Senti
pena de mim também, da minha mão e chorei. Vida que segue.
Depois a
enfermeira o colocou numa posição confortável.
Então ele estendeu o corpo, e dormiu a base do tranquilizante. Teve uma hora que mamãe pensou que ele havia
morrido. Parou de respirar. Mas alguns segundos depois ele emitiu um suspiro.
Ela ficou ali por horas, vendo o movimento de sobe e desce de seu tórax. Às
vezes ele sorria. Deve está sonhando coisas felizes minha mãe disse. Coitado. Depois, acordou chutando as grades e forçando
as amarras.
E assim dois
dias depois recebeu alta e teríamos que arrumar uma cuidadora e aí entrou Adelaide na história. Veja como são as
coisas. Tudo parece está escrito num enredos e
as jornadas se iniciam, cabe somente colocarmos os personagens nos seus
devidos lugares e nominá-los um a um, sem dó nem piedade. Essa é a vida.
Uma semana
depois que ela chegou tudo corria diferente. Após o banho, ele ficava de bom
humor e ia tomar o sol da manha na varanda. Ela ligava o rádio no jornal que
ele gostava. Ele até voltou a fazer poesias.
Mamãe já não
se preocupava tanto com ele. Adelaide
tinha trazido a paz aquela casa novamente. As noites de angústias finalmente acabaram
e o velho dormia bem todos os dias e até roncava alto.
Hoje de
manhã minha mãe levantou-se, fez um café forte, e o tomou em goles fartos
saboreando-o lentamente.
Esses passos
de veludo sei de quem são. Está vindo do quarto. Será? Não acredito! Sei que
meu pai nunca foi flor que se cheire, já traiu minha mãe muitas vezes.
A casa estava diferente.
Antes vazia
e triste.
Quando
Adelaide entrava, o sol vinha com ela.
E nossa vida passou a isso: Papai lutava pela
vida, mamãe nos shopping e eu doido para comer comê-la. Até sonhei um dia
desses. Amanheci todo melado.
Assim estou
ansioso nessa esquina para o bote final.
Liguei o som. Tocou o início da música e
depois a voz foi afinando e aumentando a rotação. Puta que pariu! O toca fita
engoliu a fita. Tirei cuidadosamente e enrolei com uma caneta. Joguei no porta
luvas. Fiquei olhando um tempo a palma da minha mão.
Quando dei
por mim tinha passado uma hora e nada de
Adelaide. Aí deixei o carro ali mesmo e
fui caminhando. Um gato atravessou
correndo e saltou o muro. Será que o
velho passou mal e minha mãe pediu para ela
dormir no serviço? Já acontecera outras vezes.
Alem do
derrame, meu avô tem asma. Lembro o dia
que Adelaide dormiu a primeira vez no serviço. Eu fui à ponta do pé vê como ela dormia. Só
por curiosidade. Ela estava deitada de bruços, a camisola um pouco levantada
deixava vê as coxas grossas e cheia de pelos. Ela mexeu-se indicando que estava
acordada. Eu sentei na beira da cama e peguei no pé dela. Ela recuou, cheia de
cócegas. Ao fazer isso abriu um pouco mais as pernas. Eu falei baixinho. Se eu
fizer assim e passei a mão devagar corri
a mão por sobre a coberta e a apalpei. Ela ficou calada. Não disse sim nem não.
Só suspirou. Tateei toda sua perna desde o calcanhar, passei pela panturrilha e
até chegar entre as pernas ela balançava-se cheia de cócegas . Até eu chegar na
vagina foi um arrodeio só. Mas tava como
dizem, totalmente úmida. Enfiei o dedo. Entrou
tudo. Nesse momento o velho deu uma crise de tosse. Eu corri para o corredor.
Ficou nisso. Depois da crise do velho passar, Adelaide fechou a porta com a
tranca. Eu fui para o banheiro e bati uma punheta oferecida para ela. O jato
sujou os azulejos. Deixei ali para ela limpar. Ela limpa o velho, melhor limpar
isso também, pensei. Saí pra rua puto. Tenho que dá um jeito nesse velho.
Entrei. A TV estava
ligada. Minha mãe dormia no sofá.
Avancei pelo corredor. Empurrei a
porta. Adelaide não dormia. Deve está no
quarto do velho. Empurrei a porta devagar. Tive que fechar e abrir os olhos
para acostumar-se na penumbra. Adelaide e o velho abraçados. Ele pegando pegando
as nádegas dela, enfiando os dedos, manipulando todo trêmulo e ainda por cima
sugando os peitos dela. Eles não me viram. O velho estava com os olhos fechados, gemendo de prazer, e Adelaide repetia pausadamente:
-Mama tudo meu bebê!
Eu saí puto.
A noite
estava fria era junho e o céu todo estrelado. O velho estava cada vez mais vivo. Puta
merda! Tenho que dá um jeito. Veja como é a vida.
O velho tava
fodendo comigo e com Adelaide.
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