Liberdade
Hoje dia 22 do ano... Iniciei a grande viagem da minha vida. Assim
icei a vela e puxei a âncora. O oceano estava cálido. O sol era de dezembro.
Gaivotas voavam em pares. Ouve questões do tipo:
- Estais louco! Deixar tudo para
trás?
A essa indagação exclamei:
-Por acaso não sou dono da minha vida!
Assim
singrei mares. Aprendi anos após anos que o vento sopra nos empurrando
furiosamente, mas quem dirige o barco na direção que queremos somos nós.
Quando estamos no mesmo sentido do vento é fácil. Tudo
ajuda. É questão de segurar o leme. Difícil é navegar contra. Aqui temos que
buscar as forças e usá-las em nosso proveito. “Cambar”, ziguezagueando em
uma série de movimentos curtos e angulares. Se o vento ruge pela esquerda camba
para bombordo; se pela direita camba para boroeste.
Para alcançar as maiores velocidades temos que ir
ajustando as velas.
Ao mudar o rumo, a vela oscila na transversal,
panejando por um momento ao ficar de face para o vento. O barco diminui a
velocidade na zona morta, até ser de
novo colhido pelo vento, no lado oposto.
Muitas noites escuras eu segurei forte o timão para
não perder o rumo. Mesmo parecendo que a
tempestade ia me afundar. Mas todas as manhãs depois das tempestades o mar fica
liso, limpo e lindo. Dá para vê as
estrelas.
A proa com o tempo vai gastando, as mãos enchem de
calos, os olhos fixos no horizonte vão ganhando rugas, mas os olhos não se
cansam das belezas. Quando aparecem
problemas jogo para a popa e ficam submersos servindo de leme, experiências
vividas. Mantenho a quilha bem contrabalanceada. Em qualquer situação a vela
mestra esta desfraldada. Vou devagar. Mantendo a velocidade em dez nós. Vou
seguindo a luz dos faróis. Ou das estrelas.
Aonde vou atracando as pessoas passam as mãos pelo
rosto como se acordasse de um sonho. Uma
noite dessas num longínquo cais, fui abordado por três homens uniformizados.
-É você o homem que anda nesses mares, atravessando
limites, insuflando os povos nessa orgia
de liberdade?
Não soube o que dizer. Fiquei mudo. O que eu fazia
era somente viver. Como qualquer ser vivente nessa terra.
-Tem que nos seguir disseram friamente.
-Que crime cometi?
Não
responderam. Eram estranhos. Ombros caídos, cansados.
Trancaram-me numa masmorra. Agora passo o dia
planejando minha fuga. Um livro que li recentemente diz no final de um conto:
-Que povo é este? Pensa também, ou apenas se arrasta
sem sentido pela terra?
***
Obs. Encontrei esse escrito, dentro de uma
garrafa.
Marinaldo L Batista
01 de fevereiro de 2019
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