"Um bicho que o universo fabrica e vem sonhando desde as entranhas" Ferreira Gullar-Poema sujo
O texto
Quando
foi pensado o grande texto era para resolver todos e quaisquer percalços que
pudesse surgir, resolver os imbróglios de qualquer natureza, sem grandes
dificuldades; tinha que ser amplo abranger todos os direitos e deveres. Semelhante
à bíblia para o cristão que pela fé segue seus ensinamentos sem medo. Portanto não deveria deixar furos, nada fora do contexto, nenhuma interpretação
dúbia, deveria ser enfim, tão certeiros nos objetivos como uma seta lançada ao
alvo. Seria uma regra geral, uma constituição.
A ideia porquanto, era gastar todo o tempo
possível até a total fundamentação; não deixando para trás nenhum ponto a ser
alinhavado. Seria necessário redação simples e concisa, sem palavras difíceis
para não servirem somente aos aristocratas e juristas que sabem tão bem usufruírem
das brechas.
Pois sabemos como desagradável é, termos
leis, mas que são desconhecidas da maioria. Sem falar nas diversas interpretações e
pontos de vistas diferentes.
E sempre a interpretação de
um grupo é em prejuízo do outro. É enfim a dualidade do bem e do mal.
Quando tiveram a ideia de escrevê-lo, falou-se assim
na época: o essencial era o texto reger todo e qualquer cidadão da mesma forma. Não obstante era a grande utopia.
Com essa meta a humanidade postou-se a
mesa.
Convidaram cérebros de todos os recantos, filósofos,
juristas, gente de todas as classes, e num grande mutirão iniciou-se o rascunho
das primeiras frases e parágrafos. Como todo início escrevera-se como vinha a
mente, mas tais textos o seu caminho é certamente os cortes e muitas vezes o
lixo. Mas a prática levará ao caminho das pedras e a perfeição.
É mister saber que está nos genes das
espécies, a evolução. Até o fim, o homem buscará o aperfeiçoamento. Dizem os
filósofos. Já os juristas, estes mais comedidos, priorizaram os direitos e deveres.
A gente do povo olhava mais para a
subsistência.
E o que esperar portanto de leis criadas pela elite? Foros privilegiados naturalmente. A quem deveria servir como luva?
E o que esperar portanto de leis criadas pela elite? Foros privilegiados naturalmente. A quem deveria servir como luva?
E assim foi se escrevendo toda a
história. O texto foi crescendo assustadoramente. Era muita demanda. Um belo
dia, um velho sábio, observou que a história estava mais parecendo a história das
mil e uma noite. Não teria fim. E assim
dissera: “que o texto
ficasse pronto nessa geração!”. Pois
segundo ele, cada geração vindoura teria seus sonhos e desejos, e ia querer
sempre acrescentar algo.
O sonho era ter o texto irretocável, amplo,
com todos os direitos e deveres de cada um.
Mas até chegarem a um denominador
comum, fizeram inúmeras guerras. Por qualquer motivos, triviais até:
Em que língua seria editado? Quem assinaria? Quem teria direito de mudar o
texto? As minorias ou a maioria? Os ricos ou os pobres? Os brancos ou os
negros? Os dominantes ou os dominados? O sul ou o norte? O leste ou o oeste? Os
católicos ou protestantes? O capitalista ou o comunista?
Devido
a tais questionamentos, no entanto, as guerras se prolongavam, ódios se multiplicavam,
morria-se de fome, e para não compartilharem nada, construiu-se divisas,
bandeiras, hinos, templos igrejas... Matou-se em nome de Deus.
A saber, o texto ainda é um rascunho até hoje,
depois de milhões de anos luz.
Ubá, 18 de setembro de 2016
Marinaldo Leite Batista -----COPYRIGHT
"Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível."
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