sábado, 9 de março de 2013

Não importa se o céu é vermelho, furta cor ou azul



                                                              Foto da revista veja

Morreu um verdadeiro socialista! Gritavam as pessoas na televisão palavras de ordem. Outros endeusavam o morto. Era uma corrente vermelha de caras tristes. Muitos as lágrimas.


Tomava meu café quando ouvi a noticia da morte do presidente da Venezuela Hugo Chávez.

Pensei com meus botões. Socialista? Socialista?

Corri ao dicionário. Estava lá:

Socialismo s. m.


Sistema daqueles que querem transformar a sociedade pela incorporação dos meios de produção na comunidade, pelo regresso dos bens e propriedades particulares à coletividade, e pela repartição, entre todos, do trabalho comum e dos objetos de consumo.

Esse sim o significado verdadeiro da palavra. Era assim que eu acreditava em minha juventude. Um rio sem afluentes. De águas puras. Sem nenhuma vertente que pudesse poluí-la.

Não o socialismo que ele falou de Chaves ou praticado na Cuba de Fidel, na Rússia de Vladimir Putin. Esse não é o socialismo dos meus sonhos, nem aqui nem na China. Desculpe o trocadilho.

Mas sem exceção, todos esses países que citei acima e outros que não estão aí por serem de importância menor como a Argentina de Cristina Kirchner (que só enxergam o próprio umbigo) e o da Coréia do Norte, Kim Jong (que só se preocupa com os Estados unidos) á corromperam.

E o que fazem para se manterem no poder?

A maioria a força. O toque de silêncio.

Outros usam e abusam dos programas sociais.

Todos esses não passam de ditadores salvo algumas exceções.

Creio que no mundo moderno em que vivemos essa velha luta do socialismo contra o capitalismo não é a mais relevante para o povo, ou nunca foi, pois como diz a música do Titãs: A gente não quer só comida. A gente quer comida. Diversão e arte.

Assim, continuei tomando meu café quieto. Pensei. Essa onda passará.

Pois hoje eu sei que: Se o povo tem trabalho digno, educação, saúde e segurança de qualidade, não importarão se o céu é vermelho, furta cor ou azul.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Filhos são eternos

                                                            


                                                                 Filhos são eternos






O que mais temia na vida aconteceu. Morri. A coisa foi de um jeito totalmente imprevisto. E geralmente quando menos se espera. Já havia sonhado caindo de precipícios, nadando em corredeiras, voando sem asas, atravessando labaredas. Sobrevivi a tudo isso. Hoje, um dia qualquer quando dei por mim já havia acontecido. É como um estalo.

Mas o pior não fora isso, a morte propriamente dita, e sim o ódio que passou a crescer dentro de mim de meus familiares. E esse ódio é tanto mais, quanto mais próximo as pessoas.

Minha família era constituída de um pai, uma mãe e um irmão menor.

Meu pai é um homem honesto, trabalhador, cumpridor de seus deveres. Minha mãe do lar abdica de tudo para cuidar dos filhos e meu irmão tem cinco anos, criança ainda, está na idade dos questionamentos e grande curiosidade.

Tudo se passou como de praxe. Foi um acidente na esquina de casa, quando fui buscar uma bola perdida. Perdido ficou eu quando o carro passou sobre mim. Foi morte instantânea como dissera o paramédico que primeiro chegou para atender-me.

Fora o assunto principal toda a semana nos noticiários, nos bares e botequins. Minha escola deu luto de três dias. Meus colegas ficaram traumatizados e as professoras passaram como dever de casa uma redação subjetiva de como estavam se sentindo.

Meus colegas escreveram frases banais de despedida e solidão instintivamente para livrarem-se de seus medos.

Eu de minha parte fiz um rascunho mais ou menos assim: “Eu me sinto agora um velho açude de águas insalubres e estagnadas. O que desejo é que chova tanto e em demasia, que primeiro molhe o rosto das pessoas na rua, e que elas pensem, estou molhado até a alma, e que os riachos escorram enchendo os rios, que os rios transbordem, e essa onda, esse acúmulo de água ao chegar de encontro dessa parede que me mantém reprimido, arrebente-a com estrondo, soltando meus soluços e gemidos.” Não achei grande coisa. Sentimentos reprimidos.

O enterro fora de manhã. Fazia sol e a brisa balançava levemente as folhas das palmeiras. Um passarinho desceu e pousou no fio de luz bem quando eu ia passando e saudou-me com seu canto. Bem te vi bem te vi bem te vi.

Meu pai me levava com o cenho fechado. Do outro lado meu tio e alguns conhecidos. Minha mãe não pode vir. Estava muito abalada. Meu irmão ficara em casa.

A oração do padre deu-me um falso conforto, como uma poesia declamada ao vento. E a magia das palavras fora terrível quando ouvi a terra marrom cair sobre mim.

Senti-me terrivelmente só quando ouvi os passos se distanciarem e os gemidos ficarem mudos.

Ai era eu e eu e mais ninguém. E quando ficamos assim vem à temeridade. Todos os questionamentos de séculos. Passa-se um longo filme aos olhos.

E aí fora o meu maior sofrimento quando voltei para casa. Entrei pela sala vazia, fui direto ao meu quarto, quando cheguei meu irmão dormia de bruços e parecia que o travesseiro estava todo molhado.

Quando entrei parece que ele sentiu, pois nesse momento virou-se e ficou olhando perdido para o teto. Seus olhos estavam vermelhos. Depois olhou em volta estranhamente como dizendo, afinal esse quarto agora é só meu e de mais ninguém.

Levantou-se da cama e eu já sabia o que ele faria. Pegou meu caixote onde guardava meus segredos e o abriu descaradamente. Pegou de um bilhete e ficou meneando a cabeça como sem querer acreditar.

Enxugou os olhos com as costas da mão e foi ao meu guarda roupa. Colocou meu boné favorito e ficou a se olhar no espelho e fazer as mesmas poses que eu fazia.

Não agüentei mais tanto descaramento. Fui à cozinha e minha mãe estava fazendo o almoço. Não cantava mais. E quando colocou os pratos da mesa quase desmaiou. Eram em número de três.

Foram se chegando silenciosos, pareciam zumbis. Papai começou a comer de cabeça baixa, minha mãe não havia dado nem uma garfada, meu irmão tinha tomado um gole de suco, quando caíram todos num choro contínuo.

Levantaram-se nesse momento e se abraçaram gritando meu nome. Eu ali quieto observando.

E assim passaram-se os dias, os meses e os anos. De meu guarda roupa não sobrara mais nada. Minto. Somente o boné que desde a minha morte meu irmão o usava todos os dias religiosamente.

Agora o quarto tinha uma cama só, e na hora das refeições os três pratos emborcados esperavam a hora de serem servidos.

Observei que eles tiraram à maioria das coisas que traziam minha lembrança, como a cama do canto da parede, a bola detrás da porta, a bicicleta do quintal.

Sobrou somente um retrato tirado na praia, onde nós quatro estávamos abraçados e sorrindo pendurado na sala. O mesmo que as visitas quando entravam, perguntavam era esse o menino, e minha mãe respondia contrita: meu filho querido.

E para que não sofresse mais assim, meu pai carregado de coragem colocara num álbum todas as fotos minhas e só eles uma vez por ano folheavam agora já sorrindo.

Qual não foi minha total decepção quando todos quiseram me esquecer. Meu irmão foi estudar fora, minha mãe passou a fazer trabalhos manuais e meu pai começou a escrever contos, poesias e quando se achasse bastante seguro um romance talvez.

Uma noite minha mãe sem mais nem menos começou a gritar, e meu pai da escrivaninha correu assustado, ao vê-la de joelhos se culpar, foi minha culpa meu Deus gritava, não podia ter deixado ele daquele jeito na rua, parecia menino abandonado.

No que meu pai falava, balançando-a violentamente, não se culpe mulher, você tem que esquecer isso, você tem que esquecer isso, deixe nosso filho descansar em paz. Sim, em paz.

Temos que voltar nossa atenção para o outro. Temos outro filho entendeu? Entendeu? Depois pegou numa pequena foto minha e mostrou. Esse já se encontra com Deus.

Ela chorou muito essa noite. Estava com remorso de ter-me tirado da parede. Talvez porque as lembranças minhas estavam se esvaindo. De querer viver mais comodamente sem muito sofrimento.

Na formatura de meu irmão todos estavam lá. Minha mãe bem vestida, um sorriso nos lábios com orgulho, meu pai de terno preto andava de um lado para o outro, nervoso, pois sabia que no discurso do filho, haveria um espaço para um verso seu.

E quando meu irmão subiu a tribuna senti tanta inveja que se eu estivesse vivo tinha desfalecido. Ele discursara muito bem, falou de nossa vida, das dificuldades, e quando veio o verso, sua voz embargara, e nesse momento toda a turma de formandos aplaudiu e deu urra, e meus pais enxugavam os olhos com lenços brancos.

Branco... Branco... Branco... Era o que vinha em minha mente naquele momento. Toda essa cacofonia metia-me medo. Saí dali para respirar algum ar puro. Deixe a felicidade com eles. Esqueçam-me. Esqueçam-me. Será bom para mim, será melhor para eles.

Longos anos se passaram. Os cabelos brancos e o andar cansado chegavam.

Agora já conseguem viver bem sem mim. Apenas pequenas lembranças. Uma lembrança bem viva. Deram-lhe ao neto o meu nome.

E nos jardins quando vê o pequeno correr de um canto para o outro os olhos brilhando com tanta novidade a descobrir, toda uma vida que não vivi, olham quietos e sei que com certeza essas horas pensam em mim.





segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Viés


                                                             Aquarela de TadahiroUesug







Viés


Paralelas...
Dormentes.
Que entrementes,
Jamais cruzam.

Trilhos,
Trilha caminhos...
Solitária
Olhar soturno.

Súbito
Mulher na janela,
Furtivo olhar,
Abandono...
Olhar que passou
E, no entanto marcou
 Infinitamente na mente,
Sabor de beijo no escuro.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A Gênese



                                              A Gênese






No ato de escrever, conto ou poesia,
Não se fiem.
Lembro-me logo de minha galinha poedeira.
Ela deitada no maior esmero,
Tece devagarzinho e em silêncio,
Ovos tão perfeitos e branquinhos,
Que nem palavras no peito.
Na maioria vão diretos á mesa,
O pão dádiva de Deus.

Outros ela choca... Choca...
Com tanto cuidado e pudor,
Que nascem pintinhos tão lindos...
Que dá até dó de escrevê-los.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Conversa entre iguais





                                              Conversa entre iguais



           Estava na biblioteca lendo justamente a orelha do livro, O idiota de Fiodor Doistoieviski, já entrando no clima do romance, quando meu filho de seis anos, me questionou:                               

           -Pai, Você sabia que a professora Clarinda está grávida? Tirei os olhos do livro e indaguei:
           -Não filho. Como poderia saber?
           -Disse na sala o Diretor. O que é grávida pai?
           -Grávida é quando a mulher está esperando nenê.
           -Então hoje estávamos grávidos?
           -Porque filho?
           -Estávamos esperando Clarinda.
           -Não é isso filho.
           -E ela justamente ia falar desse trem.
           -Que trem filho?
           -Dessa tal de gravidade. Dei uma gargalhada gostosa.
           - Gravidez filho! Gravidez! Gravidade é física.
           -Isso mesmo pai. Minha colega Julieta disse que o amor que ela tem por mim não é só espiritual, como você insinuou naquele dia, mas também físico.
           -Hummmm! Gaguejei.
Expliquei:
           -A gravidade é a força que atrai todos os corpos.
Seu olho que já grande e límpido arregalou-se num sorriso.
           -Ah! Agora entendo porque minha gravidade é tão grande por Julieta. E com toda essa força nos unindo, não demora essa gravidade virar gravidez.
           -Ah! Filho! Deixa prá lá. Deixa-me começar meu livro.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Amor


                                                  Amor




Na vida tive amores diversos,
De alguma forma não me completou
Tornando-me, frio, amargo e disperso.
Triste espectro  que jamais amou.

Talvez a busca não fora certa,
Nem o sentimento farto bastou,
Busquei longe, e talvez perto.
Nau perdida jamais aportou.

Agora maduro, procuro o candor,
Sem ilusões e rara ansiedade.
Algo bom que me toque na alma.

Nunca  a imortalidade do amor
Mas que seja rico ameno e calmo,
Simples afinal como uma flor.

Lembranças


                                                                                Sonho




Acordei sobressaltado: um sonho numa cidade assombrada.
Lá estavam  meus avós sentados em cadeiras de balanços.
Sem pressa.
Tricotavam. Riam petulantes. O relógio da sala batia doze vezes.
Não deram por mim.
Nesse instante das badaladas, pararam de ri, escutando ou pensando algo.
Olhei o relógio.
No meio da sala um carrilhão.
E o tempo que não passa... E o tempo que não passa...
Ah! O tempo. Há o tempo.
Meu gato Mimi deitado no tapete.
Umas bolas de gude num saco de balas.
Uma caiu e girou pelo canto da parede.
Encontrei! Encontrei!
Encontrei minha bolinha colorida, encontrei!
O pião! O pião! A linha unia as pontas das lembranças.

Ninguém deu por mim.
Mimi correu atrás dando tapas ao vento.
Saltou a porta e saiu.
No centro da praça um parque.
No coreto a banda tocava.
Música! Música!
Veio voando com o vento.
Uma roda gigante.
Um carrossel cheinho de cavalos brancos,
Vazio e girava.
Corri e sentei-me num alazão.
O carrossel girou e girou tão rápido que eu quase perdi o fôlego.
Pensava comigo:
“Não temas desfalecer, pois é só um sonho,
Um sonho mirabolante,
De uma criança encantada.”
E o carrossel girou... Girou...

Sabia, eu sabia que no meio da sala,
O relógio não parava.
TIC TAC TIC TAC
TIC TAC TIC TAC
TIC TAC TIC TAC
 TIC TAC TIC
TAC TIC TAC
TIC TAC
TIC…
Meus olhos jamais vira coisa igual.
O cavalo me levou para todos os continentes.
Voava entre as nuvens.
Nuvens doces de algodão doce,
Doce vida que já foi.

O vento bateu a porta,
Corri de volta para casa.
O relógio parado.
A cena parada.
Pausado.
Já não eram meus avós, mas meus pais.
Os cabelos branquinhos... Branquinhos que dava dó.
O dó que eu tinha era que eles não estavam na mesma dimensão.
Nem prestavam atenção.
Mamãe balançava-se na cadeira,
A cabeça tombada de lado sonhava,
Papai ouvia seu rádio, atento as notícias...
Nem me viram chegar.
Entrei pé ante pé,
Só Mimi miou como fazem os gatos, desconfiados.
Segurei o ponteiro das horas e o tempo parou.
Nesse momento o vento,
sempre o vento,
Entrou pelas janelas, bateu portas e panelas,
E um redemoinho foi tudo metamorfoseando,
E num átimo,
 Criança eu fiquei jovem, fiquei moço, fiquei velho,
E o relógio da sala voltou a funcionar.
A sala vazia,
Só o
TIC TAC TIC TAC TIC TAC TIC TAC...
Indefinidamente até eu acordar.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Amor







Recebi um bilhetinho teu.
Perfumado.
Onde datado  e escrito em letras garrafais:
“Amo-te para sempre.”
Quando em minhas mãos jovens,
Suspiros e afagos.
Desenhado nos cantos com florzinhas miúdas.

Foi na época dos sonhos.
Hoje remexendo no baú das saudades,
 Tal papel esteve em minhas mãos trêmulas.
A vista cansada vislumbrara que,
As flores se apagaram,
Quase murcharam...
Da frase sobrara se muito o sempre.
Do amor nada.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A cria







                Pessoalmente adoro tua fragilidade,
O bater ritmado do coração, o insuflar do oxigênio para os pulmões,
Tão relevante. No início o sopro. Levante e  Ande!
Adoro o sangue correr nas veias, artérias e arteríolas, irrigando e levando
Calor as carnes e músculos,  deixando-as mornas, apetitosas para  um afago, uma ternura.
Adoro os neurônios nas sinapses, gerando energia, para movimentar o mundo.
Adoro a bunda... A bunda... Abunda.
Abundam odores, humores e tremores nas carnes internas e ruivas.
Adoro o fundo dos teus olhos, a cor de tua íris...
Teus seios alimentam o prazer. Seio da terra que alimenta.
A vagina órgão de lábios que sorriem,
Vulva úmida e ardente, boca sem dente...
Útero que nos guarda, que nos protege da origem ao fim.
Adoro teu corpo.  Frágil. Decadente. Amo o Efêmero.  
A alma não.
A alma é eterna.