sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Stand up

A cortina se abre(Ou qualquer pano), um homem ou mulher( não importa o sexo) entra rindo e fazendo careta. Fala com a plateia. A prepara para suas piadas. Brinca um pouco e começa.

          Eu sou leitor feroz.  E anda para todos os lados. Continua:  Igual cachorro louco. Não na medida de sair por aí mordendo todo mundo. Não. É que leio tudo que me vem às mãos.  Quando vou ao banheiro levo um jornal. Não é para limpar não. É que faço tudo lendo. E leio de tudo. Até bula de remédio.  Sou hipocondríaco também. Palavrão né? Juro. Sério.
          Descobri uma coisa boa nisso tudo e agora tiro proveito. Nas bulas descobri que todo medicamento tem efeitos colaterais. Até bem piores do que a própria doença.  Aí fiquei sabendo quais remédios tomareis para obter tais efeitos. Querem ver?   Veja este. Quanto maior a bula melhor. Principalmente aquelas de tarja preta. É.
 (Com uma bula na mão):  
          -Ah!  Essa diz que quem  tomar esse remédio  terá uma coceira pelo corpo todo. Ri. Hum!  Pausa.
Dispara rápido para a plateia ri:  
          -Tomarei  esse àquelas horas quando  estiver a fim de coçar o saco.  Quase todo dia claro! Até a presidenta toma. É
 Pausa.
        -Só que ela coça é a periquita né. Ou não É? Risada geral.
          -Esse outro- mostra a bula - diz que terei flatulência. Ah! Como foi  bom tomá-lo  no dia que  minha sogra veio me visitar.  Nesse dia  me vinguei.  Vou contar. Foi assim:  Cheguei a casa depois da pelada de fim de semana(Porque elas escolhem justamente o domingo para nos aporrinhar?) e a vi ali como um estafeta. Ela vendo o Faustão na minha poltrona predileta e tomando da minha cerveja. E no meu copo que tem o escudo do flamengo. Aí fudeu. Cresceu um ódio, pois sei que ela é vascaína doente. Fazia aquilo para me sacanear. Fui ao quarto e peguei duas pílulas grandes dessas que daria flatulências.
          -É peido mesmo, bufa em outros estados, estalo ou outros nomes qualquer. E sentei perto. Aí comecei. Primeiro aquele bem fininho. Assim ó. (imita) com um assovio.
          -Igual peido de menina moça. É. Menina peida fininho.  
Ela me olhou torto do jeito que sogra sabe: Assim  ó e faz uma cara feia. Eu olhei para os lados como se não fosse eu e ponho a culpa no cachorro. Digo: Com aquelas vozes detestáveis que os casais fazem:
          -Bem êêêê!  Falei para você não criar cachorro em casa não falei?  Vem ver que fedor está na sala.  
Ela me olhou desconfiada, mas  aceitou a desculpa.
          Dez minutos depois veio outro como uma onda, tipo um tsunami. Vem fazendo um ronco como uma leoa ferida. Prendo um pouco e solto devagar como fazem àquelas senhoras. Aquelas mesmas que vão à missa aos domingos. Elas rezam mais peidam também. Claro! Todo mundo peida. Com estilo. Faz assim: Pooom!  Depois balança o vestido para o gás despregar. Agora vocês já sabem. Se vir uma senhorinha balançar os vestidos já sabe. Poooom! E o cheiro?     -É Pa-vo-ro-so!
Minha sogra se levanta. Finge ir à cozinha tomar uma água. Corro para o meu lugar predileto. Aí minha mulher vem carinhosamente chata:
          -Bem êêêê! Senta pra lá que minha mãe gosta de sentar aí. A velha ri com desdém. Aí  planejo uma vingança.  Escuto o barulho no intestino grosso,  desce pelo delgado, vem devagar igual o Barriquelo nas curvas.  Seguro um pouco e quase explodindo  solto sem barulho..., devagar. Aquele do camarada que comeu feijoada e bebeu o dia inteiro.
Vocês riem porque são assim também.  Quando saem parece uma larva esquentando a beiçola.   Sabem do que estou falando. Digo uma verdade: Esses que esquentam dessa maneira, com certeza alguma coisa já apodreceram. Verdade. Como diz um cunhado meu quando soltei um assim: Falo com propriedade. Aprende-se muito com as gazes também. Ele disse abanando a mão em frente ao nariz:
         - Se colocar o polegar no dito cujo do sujeito que soltou esse e traçar uma circunferência de trezentos e sessenta graus em volta, pode operar com certeza  que está podre. 
Não demorou um segundo. Foi como uma nuvem negra.  A sogra me olha de través com ódio.  E grita:
          -Acho que tem um porco aqui!  Adoro. Rio baixinho. Grito para minha mulher me vingando das cervejas que ela me proibiu tomar, e de todas as coisas que os casais sabem quais,  e falei assim:
           - Benhêêê! Não falei que não era para criar cachorro dentro de casa?
Aí minha sogra se desesperou e gritou aturdida:
          -Sai rex, sai de debaixo dessa poltrona se não esse porco defeca em cima de você.
                                   
Mas consegui o meu intento. A velha se foi e eu fiquei a tarde inteira ainda peidando no sofá vendo o Faustão.
 Lá para as tantas resolvi sair. Peguei uma bula que dizia  que teria tonturas.
          -A-do-rei! Nessa noite nem precisaria gastar com a  cerveja. Não é incrível! Tomei logo dois, e cheguei à balada assim: faz uma cara com os olhos vesgos.
          -Tô legal vou curtir! E aí manos e minas, fazendo um gesto com o dedo. Pausa.  
Depois olhando bem de perto notei que as minas eram travestis e os manos umas lésbicas horríveis.  Na volta para casa, a pé lógico, (Depois de beber não dirija), duma hora para outra, trocava os olhos, e vinha o redemoinho, e ficava como os bêbados nas esquinas segurando o poste: Se cair eu caio junto(Voz arrastada de bêbado).

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Mas não era isso que queria falar. Como ia dizendo, da ferocidade de leitor, observei como os grandes escritores, pintam alguns de seus personagens.  Eles complicam. E como complicam!
          -Oh! Vocês exclamam Oh! Eu respondo. Verdade. Muito engraçado. Poderiam ser bem mais simples,  sintético, conciso, abreviado, breve, sucinto esses sinônimos que querem dizer: Curto e grosso.

           -Impetuoso!  Vocês pensam. Se pagarmos um papel e formos desenhando à medida que lemos seria mais ou menos assim, vejam:
GÉRARD DE NERVAL no conto “A mão encantada”,  prestem atenção:
Vejam como ele pinta um personagem gastando as palavras:

         “Seus olhos eram zarolhos e muito vivos, embora sempre semicerrados sob as espessas sobrancelhas, sua boca era rasgada, como as das pessoas que gostam de rir. Para acabar de pintá-lo, seria preciso pendurar no lugar de praxe um nariz comprido e quadrado na ponta, e também orelhas bem pequenas, moles, e de uma fineza de audição de ouvir tilintar um quarto de escudo a um quarto de légua, e o som de uma pistola de bem mais longe”.

-Um verdadeiro macaco. Não é? Muito mais fácil ele escrever: O homem era semelhante a um orangotango.

Mais além ele pinta outro: “um perfil em lâmina de foice testa alta, mas reta, nariz muito comprido e muito adunco, mas não no estilo dos narizes romanos, pelo contrário, muito arrebitado e com sua ponta apenas mais saliente do que os lábios finos bem proeminentes e o queixo para dentro; depois, olhos grandes e rasgados obliquamente debaixo das sobrancelhas, desenhadas como um "v", e cabelos pretos compridos completando o conjunto;”

 Bravo! Bate palmas. Na infância conheci vários amigos assim: O verdadeiro cara de lua, era como chamávamos não é? Muito mais fácil.


Machado de Assis o mestre dos mestres caiu nesse erro também de complicar. Veja:

Descrevendo Capitu: “Quatorze anos, alta, forte e cheia, apertada em um vestido de chita, meio desbotado”.

Era só escrever: Uma gostosa.

Continua:

“Os cabelos grossos, feitos em duas tranças, com as pontas atadas uma à outra, à moda do tempo, desciam-lhe pelas costas. Morena, olhos claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha a boca fina e o queixo largo.” Aqui já parece um travesti. É ou não é?  Acrescenta:
“As mãos, a despeito de alguns ofícios rudes, eram curadas com amor; não cheiravam a sabões finos nem águas de toucador, mas com água do poço e sabão comum trazia-as sem mácula. Calçava sapatos de duraque, rasos e velhos, a que ela mesma dera alguns pontos”. 

-Ha! Há há ha! Poderia dizer simplesmente:

-Uma pobretona.

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Vou escrever sobre isso outras vezes. Não sou novela, mas podem me acompanhar aqui no blog.


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