quinta-feira, 1 de novembro de 2018

O pequeno método











                          O pequeno método
          



                                            


          É verdade que esse país está envelhecendo.  É só andar pelas ruas das cidades de carro ou a pé para cruzarmos com uma legião de velhos carcomidos e caquéticos que teimam viver de qualquer maneira contra tudo e contra todos. Nos últimos tempos alcançamos uma ótima e promissora longevidade. Menos pela saúde pública que é péssima, mais graças a miscigenação de nosso povo que são negros, brancos e índios. 
          Esses velhos na maioria aposentados ou sonhando com isso, entraram cedo na labuta, tanta importância teve para o crescimento da nação, hoje sofrem preconceitos dos mais diversos, tendo sido nos últimos tempos assuntos e polêmica na tribuna onde disseram num discurso mais inflamado, a plenos pulmões: “Quem aposentar com menos de setenta e cinco anos hoje, não passam de  malandros e vagabundos!”.
          Esses mesmos senhores que gritaram tais blasfêmias contra nossos velhinhos, astutamente conseguiram aposentar com idades infinitamente inferiores e agora sem ser vulgar no uso da expressão  “não largam as tetas da grande mãe” a nação.
          Só restou para esses valorosos velhos voltarem à ativa porque o salário estava tão ínfimo que já não dava para suprir as  necessidades básicas e voltaram a trabalhar de sol a sol com a saúde de meninos e muitos  se vangloriavam que o homem sem trabalho ficam tristes e morrem cedo, pura balela, isto  arquitetado pela mídia local.
          Entrementes essa onda teve um viés contrário, pois os órgãos de estatísticas mostraram nos últimos tempos que os velhinhos agora eram os culpados da falta de emprego dos jovens.
           O desemprego senhores, aumentou numa escalada tão catastrófica, que nossos brilhantes jovens, brancos e saudáveis saídos das melhores universidades estão encontrando dificuldades para a justa colocação. Até os apadrinhamentos tem falhado esse tempo.
          Tais estatísticas não eram levadas a sério, pois os governantes preferiam a propaganda de governo, com filmes rodados em condomínios fechados e longe do povo. Se por acaso a filmagem fosse externa, davam seu jeito, empurravam a grande quantidade de pedintes para as marginais, pintavam a parte que a câmera ia passear, enfim, jogavam a sujeira para debaixo do tapete.
          Mas a velha matemática do velho Pitágoras não falha.
          Se cinco pessoas dividem um bolo em quatro partes, um fica sem. A economia é assim, a terra é assim, a água é assim a riqueza é assim a previdência social é assim.
          Se em nossa previdência são os jovens trabalhadores  quem pagam os aposentados e pensionistas e que o numero de aposentados crescem exponencialmente enquanto o dos empregados na ordem inversa há de se convir que o rombo será cada dia maior.
           A conta é simples, esbravejam os mandatários: Sem pagamento dos jovens o INSS vai quebrar e os velhos ficarão sem seus proventos.
          Usam todo tipo de ardil e figuras de linguagem para explicar o fiasco nas contas, como de uma bomba prestes a explodir e sem os cortes e acertos que dizem ser necessário não conseguirão  pagar tais benefícios.
          Para os governantes “a boca pequena” todos são unânimes em dizer que “o grande número de aposentados vivendo  mais e melhor é o grande entrave para o desenvolvimento e progresso do país, de modo que, procuram encarecidamente algum filósofo,cientista ou qualquer coisa que o valha, que tenha uma idéia razoável, barata e de fácil incremento para resolver esse impasse.
           Ainda prometem que se resolvido a contento todo esse imbróglio, o tal cidadão será chamado de “mito” de rei, ou de outras coisas qualquer, apelidos é que não faltam, nessa terra de bananas,  e  terá  em sua homenagem uma estátua para ser cultuado para o resto da vida.
                            
          Aqui faço um testemunho como surgiu o desejo de resolver tal problema:
          Tenho ao longo dos anos pensado no assunto. Passo as noites em claro queimando pestana, perdendo sono, ganhei uma úlcera péptica e passei a usar óculos fundos de garrafa. Para tanto leio tudo, principalmente as redes sociais.
          Descobri que nessa selva de opiniões passam os maiores conhecimentos. Tem tanto o cidadão que não tem nada para fazer e usam-nas para esmiuçar a vida alheia quanto o filósofo da vida pequena que entende de tudo um pouco e mais algo.
          Esse algo é que busquei nas entrelinhas. Não desejo a eternidade travestida numa estátua. O nome escrito nos anais da história já me basta. Assim conclui esse método com ajuda do plágio e as redes sociais.
           Com certeza tudo será resolvido como no outro texto a contento.            
          Disse um sujeito no conto de Jonathan Shift.
          “Um americano muito experiente, conhecido meu, me disse em Londres que uma criança nova, saudável e bem nutrida é, com a idade de um ano, um petisco bastante delicioso e salutar, seja servido ensopado,assado, grelhado ou cozido; e não tenho dúvida de que poderá ser preparada como um fricassê ou um
Ragu”.

          Observem que no nosso caso uma feijoada ou uma churrasqueada, pratos típicos, não teria a qualidade propícia para a massiva aceitação, pois segundo consta a carne velha é dura e sem sabor, corroborando para o fiasco e o uso do mesmo método.

          Não foram os economistas, os cientistas políticos, nem os governantes que idealizaram este pequeno método. Toda essas idéias  foram compiladas da internet principalmente das redes sociais.

          Se a vida humana como dizem os cientistas, não passa de uma reação química, não é de se estranhar a criação dessas leis com finalidades excludentes dos pobres e miseráveis.

          Assim senhores o método que eu escolhi, vejam minha perspicácia, é simples:

          Como principal item será criado batalhas medievais  entre jovens desempregados e velhos senis, nos moldes dos vídeo games que tanto faz sucesso no mundo e quando não restar nenhum dar-se-á o jogo por encerrado e a famosa frase “game over”.

          Será como uma olimpíada de intervalo de seis em seis anos. Esse tempo foi calculado com exatidão, pois esse período basta para  começarem a subir o índice de desemprego e de aumentar indiscriminadamente o de aposentados com mais de setenta e cinco anos.

          Assim livramos nossos idosos dos sofrimentos vindo com a “melhor idade” como as doenças crônicas, dores, solidão e  damos-lhe  a paz tão sonhada da vida eterna. Não haverá sofrimento nem abandono, pois já viveram seu bom tempo que Deus lhe deu e antes de se tornarem fardos para a família, o estado aplicará religiosamente esse método.

          Com essa campanha diminuirá os casos de suicídio e os homicídios recorrentes e evitaremos os custos altos dessas vidas.
          Se por acaso alguém tentar o suicídio o estado buscará logo a ficha desse contribuinte no intuito de averiguar se o mesmo está entre os desempregados ou aposentados. Se sim ao estado restará somente a observação, e consumado o fato,   rapidamente a remoção e o descarte.

         Será o fim da  espera dos herdeiros.  “Uma mão na roda”, digo. Pois todo idoso  ao passar de setenta e cinco anos entrará automaticamente na lista da batalha ou da eutanásia praticada e assistida pelo estado, aliviando, assim as tristezas e lágrimas dessa gente, mesmo no peito mais brutal e inumano.

          Pois pergunte a um idoso ou desempregado o que prefeririam?
          Em pesquise que fiz, nos moldes do ibope, onde perguntei:

          Você cidadão, prefere uma vida toda de sofrimento, de dores, de dívida ou a morte? Cem por cento escolheram sem pestanejar a segunda. Pois então.

          O local para as batalhas será posteriormente escolhido a dedo. Pode ser um deserto, ou a floresta. Fico com a segunda opção, pois é sabido que carnes e ossos são adubos poderosos.

          Será cobrado um ingresso em cinco preços diferentes, pois essa olimpíada chamará a atenção mundial, pois pergunto,quem não gosta de vê o sofrimento alheio?

          Todo os anos serão enviados o numero excedente  de partes iguais de velhos e jovens desempregados e tudo será filmado, um grande  reality. A data será escolhida entre o dia de finados e o Halloween, fica a critério de cada governo.

          Todos esses fatos serão a posteriori comentados  em livros, jornais, revistas  e  programas de auditórios e redes sociais, tão famosos nesses tempos modernos.

          Para dá o tiro de misericórdia, extirpar o câncer, com a cura total evitando qualquer metástase,vamos criminalizar pedintes, sem tetos, sem terras, sem nada.

          Assim dizimaremos essa raça  de gente que só nos causa nojo.

          Na educação a escola não terá partido, isto é,será nos moldes cristãos a mesma que no passado queimou livros, bruxas e tudo que contrariava, segundo eles mesmos, a Deus. Será usada a lei de Talião: Olho por olho dente por dente. Não aceitaremos a doutrinação a não ser a religioso nos nossos moldes.

          Descontado a isso os milhares de mortos em acidentes de carros, violência urbana, assaltos e afins chegaremos ao número ideal para se resolver esse grave problema da nação.  

          Resolvido essas questões sobrarão apenas os altos salários e toda penduricalho existente, décimo terceiro quinquênios, auxílio moradia, auxilio toga, terno para os figurões, o alto escalão e todo o governo.

         Tais leis serão debatidas nas altas cortes, ao vivo e a cores, importantíssimo isso, para que o cidadão pondere que está sendo defendido mas que depois de todo o “lenga lenga” sempre usando adjetivos e palavras tirados do fundo da cartola, tudo será aprovado e  votada com urgência urgentíssima. Meras cenas.

         Essa lei fixará a idade mínima para aposentadoria de setenta e cinco anos (quem chegar nessa idade já se encontra com o pé na cova) e se por acaso vencer tal obstáculo só poderá exceder mais cinco anos contado da data de seu aniversário.

          Outro projeto de lei será legalizar a velha e útil eutanásia para a família que não querem passar desses limites.

         É claro que tal lei deve ter exceções, para aqueles grandes empresários e figurões que por sua conta paguem uma previdência complementar a peso de ouro e assim ganharão um passe que lhes dará direito de viver  a vontade de Deus.

          Isso tudo convenhamos, trará certas suspeita, pois há bilionário que seu dinheiro vieram de negócios escusos como corrupções, sonegações fiscais, propinas ou tráfico de drogas.

          Para esse grupo por pertencerem as altas classes se dará, por conseguinte uma oportunidade de lavagem desse dinheiro e ao final dessa lavagem que será obrigatoriamente feita pagando-se altas propinas para funcionários públicos e representantes de igrejas das mais variadas denominações, para no fim , se sobrar algum, ele, poderá viver  alguns anos.

          Os demais os ladrões de galinhas, deverão ser os primeiros da fila, os infantes, a tombarem nessa incrível guerra.

          Teremos também um controle total na natalidade. O casal formará uma família (diga-se de passagem que falamos de um  homem e uma mulher, como Deus manda, é bom frisar, uma família tradicional)terá que provar que, conseguirá a total educação do filho com seu próprios recursos desde o pré escolar até a universidade.

          A próxima reforma será a trabalhista. Isso demandará algum tempo, pois mexer em direitos adquiridos só se consegue no congresso ou no supremo ou á força. Não piscaremos em usar a força.

         Ouvimos milhares de empresários. Todos sem exceção falaram que as leis trabalhistas que estão aí só atravanca o progresso com altos custos, enfim, oneram sobremaneira a folha salarial dando muitos direitos aos empregados  sem levar em conta a importância do capital.

          Assim esbocei algumas mudanças:

          As férias poderão ser fracionadas. Funcionará como o ditado: Manda quem pode obedece quem tem juízo.
Jornada de trabalho de 220 horas trabalhada. Isso dá mais ou menos 7 horas trabalhadas por dia contando com o domingo.
Remuneração: Deverá ser negociado entre empregado e patrão.

          O tempo de trabalho será o corrido dentro da empresa mesmo. Se por acaso você empregado tiver com diarreia é melhor “cagar” nas calças, pois o tempo no banheiro não contará mais.
Acabaremos o seguro desemprego.
As mulheres grávidas terão que trabalhar até em locais insalubres.

          Daremos um prazo de oito anos para o andamento das ações se até lá a ação não for julgada o processo será extinto. (Não esquecer que a justiça  é comparada a um animal simpático, mas lento, a tartaruga).

          Não haverá trabalho escravo. Se o empregador for pego com a boca na “botija” diz-se que se esqueceu de registrar e receberá multa irrisória de oitocentos reais.

          Todas essas reformas foram exaustivamente pedidas pelos empresários. Eles dizem que pagam muito impostos, a folha salarial onerosa não deixam eles relaxarem, sem lucros para suas viagens a Disney, educação de suas crianças, presentes para as amantes, ou a troca do carro duas vezes por ano.

          Que essas reclamações são justíssimas, pois uma viagem, uma amante, um carro novo dá um animo diferente e força para trabalharem para o crescimento da nação.

         Já para o empregado dizem: Esta empregado já é de grande valia, pois o suor que gastar deverá ser usado exclusivamente para a empresa.


         Para início essas lei bastarão, mas para o futuro a ideia  é que desses jovens ociosos, se tirem casais, para acasalamento e procriação obrigatórias, como já fazemos a contento com os animais domésticos. 

          Os rebentos serão doados as grandes empresas sem custo algum, no intuito de formá-los em empregados vitalícios dessas empresas.

          E com certeza todos os jovens  sonharão a vida inteira com o emprego vitalícios e com a única e exclusividade obrigação  da grandiosa obra que lhe foi atribuída ao nascimento: Honrar o patrão acima de tudo  sem criação de sindicatos e afins e cantarão canções aludindo felicidades eternas.

          A segurança é outro imbróglio, outra frente acirrada de trabalho com solução simples:  uma arma para cada cidadão. A volta do velho oeste. Que se matem.

          Se por acaso não surtir o efeito desejado, que é a morte indiscriminada entre irmãos, daremos por ultima a toda policia militar, carta branca para matar. Sem averiguação de qualquer natureza. Para isso poderá ser usado “drones” inteligentes importados de países capitalistas.

          Como dissera um dos nossos: “Para matar só basta um tiro na cabecinha”. Ou “Mataremos trinta mil se for preciso e se morrer algum inocente entra pra conta da guerra”. Frase tirada das redes sociais.

          Aumentaremos impostos para a maioria, menos para as igrejas. Precisamos delas como suportes espirituais. Seria a religião o ópio da humanidade?


          A tortura será especializada e os carrascos serão chamados de heróis. O cidadão será facilmente persuadido a falar até o que não quer.

          Diminuiremos a idade penal.  Jovens, negros e desempregados serão muito difícil passar pelo buraco da agulha.

          Por ser uma nação cristã, racionada entre católicos e protestantes, aboli do método o aborto.
         Agora para chegar até a vida adulta, será obrigado a passar numa criteriosa seleção segundo a meritocracia, carteiradas, apadrinhamentos e afins.

          Tais cristãos são contra o aborto e a favor da pena de morte. É como deixar a criança viver a todo custo, para quando se tornar adulta, matá-la sem dó.

          Para os cristãos que aceitarem todos esses preceitos, já comprei toneladas de velas e incenso e água benta, para amainar todos esses  pecados sem precedentes.

          Na história da civilização muitos mataram e matarão ainda em nome de Deus.

          Esses cálculos foi matéria de muito estudo que precisam ainda de alguns consertos. Nada que um projeto de lei não resolva. Ou a abertura do DOI-CODI, da censura a imprensa, proibição de passeatas e comícios, de ajuntamentos em esquinas e clubes.

         Para arvorar uma boa ordem social decretarei a volta do ensino das matéria primordiais: OSPB e moral e cívica.

          Por que sem ética não há moral e vice e versa.

          Essa será a espinha dorsal do método, que produzirá uma consciência tal na população que defenderão os privilégios dos altos escalões como sendo mérito de deuses.

          Haverá outro método que defenderá tanto os privilégios?

          Desejo que o leitor observe que calculo esse método única e exclusivamente para a terra de Santa cruz, e para nenhum outro que jamais terá havido, ou haja, suponho, sobre a face da terra.

          Esse método foi feito para impedir que os aposentados, pensionistas e trabalhadores da Terra de santa Cruz, antes Pindorama, sejam um fardo para os seus governantes e figurões, e para torná-los proveitosos ao interesse público.

          Asseguro, com toda a sinceridade do coração, que não tenho o menor interesse pessoal em empreender a promoção deste método a não ser para o bem público de meu país, no desenvolvimento do comércio, na manutenção das crianças, no desencargo dos pobres, e no proporcionar alguma satisfação aos mais ricos.

           Plagiei ou parafraseei, para confecção desse pequeno método, o conto - Uma proposta modesta –de Jonathan Swift.

E digo finalizando:
O capital é cem vezes mais importante que o trabalho.
Saber é saber,e saber que não sabe é saber igualmente.
Ser honesto com toda parafernália de câmeras de vigilância sobre você é fácil. Difícil é ser honesto para sua consciência.
Vamos subverter a vocação.
O sentido da vida é o sentido.

 Encontrei meu sentido quando comecei a escrever ainda criança poemas na areia de uma praia deserta e mesmo sabendo que em segundos seria apagado continuava escrevendo. Prova cabal de que não desejo o vil metal, nem a fama.

Como último ato, nossa moeda levará a frase: Deus seja louvado.

Por fim não tenho pais, faço parte do alto escalão e não tenho filhos desempregados.











A gata de minha mulher






                                                      A gata de minha mulher


Amanheceu nublado. Da janela vinha aquele ventinho com cheiro de terra molhada balançando a persiana entrando aquela semi claridade tímida do ar.
A mulher vestia um robe rosa, fazia à toalete e mirava- se no espelho virando-se vez em quando para visualizar sua melhor face.
Eu com o celular há meia hora tentava a todo custo escrever algo para postar no blog. Mas as ideias fugiam como ratos. Foi quando ouvi um ruído semelhante à vidro arranhado.
-Ratos me mordam! Eu disse.
Tomei minhas precauções e levei o que tinha de melhor, um rolo de massa da madeira maciça.
Corri para a porta da frente,
único lugar que tinha vidro.
O outro era o espelho no banheiro onde há cinco minutos eu observei contrariado algumas rugas no canto dos olhos, na comissura labial, e o cavanhaque completamente branco.
Olhei de soslaio e comentei o inexorável: O tempo passa, eu disse, enquanto escovei os dentes e penteei os cabelos cada vez mais ralos.
Minha mulher foi fazer café.
Tivemos dois filhos. Quando chegaram, tudo ficou mais colorido e ao mesmo tempo trabalhoso pois educar filhos está cada vez mais difícil.
Vinicius de Moraes já dizia:
Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Enquanto pequenos o trabalho era diário e não nos deixava pensar no que viria, o futuro , o incerto a distância dos dias sonhados.
Mas adoro o silêncio. Já a solidão, graças a Deus é descartável.
Não paramos de sonhar. Sonhei ser astronauta, sonhei ser médico... tantas coisas... hoje sonho ser feliz.
Mas essa coisa de felicidade é bicho difícil, é ave rara, é figurinha que faltou nos álbuns incompletos.
E filhos afinal criam asas e vão viverem suas vidas.
Nesse intervalo Veio uma neta. Isabela. Mais linda que um pôr do sol, mais bela que uma Flôr. Para todos uma grande felicidade.
Mas Mudaram. Novos horizontes.
Assim a casa ficou imensa e vazia.
Ao chegar a porta deparei-me pasmem, com um lindo filhote de gato tricolor que depois viemos a saber que era uma gata, sem casa , sem dono, sem nada.
O que fazer, não poderia deixar morrer tinha que recolher, acolher e alimentar.
Ia chamar a mulher mas o cheiro do café foi mais forte e disse:
-Por hoje fica!
Arranjei uma caixa de sapato e um trapo e coloquei-a para comer e dormir na varanda mesmo.
Tomamos o café. Falamos da vida. Na rotina. No tempo. Ficamos em silêncio.
Com o tempo as coisas não precisa serem ditas. Um olhar nos entendemos.
Quando cheguei ao trabalho lembrei que não tinha falado nada sobre o bichano.
Quando voltei ela correu ao meu encontro e ronronou para mim. Trançou varias vezes sob minhas pernas. Atrás dela veio minha esposa toda sorridente.
No pescoço tinha uma coleira amarela e um guizo para alertar onde ela tinha se escondido.
Fora até batizada.
-Ela chama-se Josefina! Disse minha esposa.
“Essa noite fez frio. Por isso de madrugada fui fechar a janela e encontrei essa caixa de sapato com ela dentro coitada. Só uma pessoa má faria tal coisa”.
O que eu poderia dizer agora? Que já tinha arranjado um lar para ela, que não podíamos ficar com ela que bicho dá trabalho que gato não é como cachorro que é independente toda essas coisas que poderia mudar a ideia de ficar com ela.
Não disse. Deixa pra lá. Seria a pessoa má que ela havia falado. A verdade muitas vezes é irrelevante.
Para encurtar a história agora ela tomou conta do pedaço. Dorme no quarto. Deita no meu travesseiro e sou acordado todos os dias às seis em ponto com massagem nas costas e fungados carinhosos na orelha e nariz .
Trabalho dá muito mas em compensação com todo esse carinho o texto agora ficou fluido e fácil.
E aí saiu uma crônica curta e simples com o gosto e o cheiro da felicidade das pequenas coisas.
17/08/2018