terça-feira, 25 de setembro de 2012

Conversa entre iguais





                                              Conversa entre iguais



           Estava na biblioteca lendo justamente a orelha do livro, O idiota de Fiodor Doistoieviski, já entrando no clima do romance, quando meu filho de seis anos, me questionou:                               

           -Pai, Você sabia que a professora Clarinda está grávida? Tirei os olhos do livro e indaguei:
           -Não filho. Como poderia saber?
           -Disse na sala o Diretor. O que é grávida pai?
           -Grávida é quando a mulher está esperando nenê.
           -Então hoje estávamos grávidos?
           -Porque filho?
           -Estávamos esperando Clarinda.
           -Não é isso filho.
           -E ela justamente ia falar desse trem.
           -Que trem filho?
           -Dessa tal de gravidade. Dei uma gargalhada gostosa.
           - Gravidez filho! Gravidez! Gravidade é física.
           -Isso mesmo pai. Minha colega Julieta disse que o amor que ela tem por mim não é só espiritual, como você insinuou naquele dia, mas também físico.
           -Hummmm! Gaguejei.
Expliquei:
           -A gravidade é a força que atrai todos os corpos.
Seu olho que já grande e límpido arregalou-se num sorriso.
           -Ah! Agora entendo porque minha gravidade é tão grande por Julieta. E com toda essa força nos unindo, não demora essa gravidade virar gravidez.
           -Ah! Filho! Deixa prá lá. Deixa-me começar meu livro.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Amor


                                                  Amor




Na vida tive amores diversos,
De alguma forma não me completou
Tornando-me, frio, amargo e disperso.
Triste espectro  que jamais amou.

Talvez a busca não fora certa,
Nem o sentimento farto bastou,
Busquei longe, e talvez perto.
Nau perdida jamais aportou.

Agora maduro, procuro o candor,
Sem ilusões e rara ansiedade.
Algo bom que me toque na alma.

Nunca  a imortalidade do amor
Mas que seja rico ameno e calmo,
Simples afinal como uma flor.

Lembranças


                                                                                Sonho




Acordei sobressaltado: um sonho numa cidade assombrada.
Lá estavam  meus avós sentados em cadeiras de balanços.
Sem pressa.
Tricotavam. Riam petulantes. O relógio da sala batia doze vezes.
Não deram por mim.
Nesse instante das badaladas, pararam de ri, escutando ou pensando algo.
Olhei o relógio.
No meio da sala um carrilhão.
E o tempo que não passa... E o tempo que não passa...
Ah! O tempo. Há o tempo.
Meu gato Mimi deitado no tapete.
Umas bolas de gude num saco de balas.
Uma caiu e girou pelo canto da parede.
Encontrei! Encontrei!
Encontrei minha bolinha colorida, encontrei!
O pião! O pião! A linha unia as pontas das lembranças.

Ninguém deu por mim.
Mimi correu atrás dando tapas ao vento.
Saltou a porta e saiu.
No centro da praça um parque.
No coreto a banda tocava.
Música! Música!
Veio voando com o vento.
Uma roda gigante.
Um carrossel cheinho de cavalos brancos,
Vazio e girava.
Corri e sentei-me num alazão.
O carrossel girou e girou tão rápido que eu quase perdi o fôlego.
Pensava comigo:
“Não temas desfalecer, pois é só um sonho,
Um sonho mirabolante,
De uma criança encantada.”
E o carrossel girou... Girou...

Sabia, eu sabia que no meio da sala,
O relógio não parava.
TIC TAC TIC TAC
TIC TAC TIC TAC
TIC TAC TIC TAC
 TIC TAC TIC
TAC TIC TAC
TIC TAC
TIC…
Meus olhos jamais vira coisa igual.
O cavalo me levou para todos os continentes.
Voava entre as nuvens.
Nuvens doces de algodão doce,
Doce vida que já foi.

O vento bateu a porta,
Corri de volta para casa.
O relógio parado.
A cena parada.
Pausado.
Já não eram meus avós, mas meus pais.
Os cabelos branquinhos... Branquinhos que dava dó.
O dó que eu tinha era que eles não estavam na mesma dimensão.
Nem prestavam atenção.
Mamãe balançava-se na cadeira,
A cabeça tombada de lado sonhava,
Papai ouvia seu rádio, atento as notícias...
Nem me viram chegar.
Entrei pé ante pé,
Só Mimi miou como fazem os gatos, desconfiados.
Segurei o ponteiro das horas e o tempo parou.
Nesse momento o vento,
sempre o vento,
Entrou pelas janelas, bateu portas e panelas,
E um redemoinho foi tudo metamorfoseando,
E num átimo,
 Criança eu fiquei jovem, fiquei moço, fiquei velho,
E o relógio da sala voltou a funcionar.
A sala vazia,
Só o
TIC TAC TIC TAC TIC TAC TIC TAC...
Indefinidamente até eu acordar.