sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Ladrões de sonhos



                                    Foto tirada do site:  https://www.significadodossonhos.inf.br/sonhar-com-crianca/



Ladrões de sonhos




          Naquela manhã de agosto Pedro deparou-se com uma caixa. Uma caixa vazia. O que esse objeto está fazendo aqui, ele questionou.  Uma caixa tem a forma retangular. De cor marrom.  De papelão. De fora dava para vê duas laterais do mesmo tamanho e duas larguras da mesma forma.   Vista de dentro, se ele diminuísse do tamanho de um polegar, veria quatro paredes paralelas, um teto e um piso.  E se vista por uma de suas arestas veria três faces.

          Nada de extraordinário a não ser comprovar que, para cada coisa há no mínimo  três pontos de vistas. E assim sucessivamente.

          Então, fique sabendo caro leitor, se lançares uma opinião seja qual for acerca de algo que jura ser a verdade absoluta, haverá outras tantas da mesma forma.

          E foi por isso, portanto, que o seu grande sonho era ser escritor. Tantas possibilidades de contar a mesma história. Mas só tinha um, porém. As grandes idéias só surgiam em sua cabeça nos sonhos. Acordado ele era apenas um mequetrefe de frases incoerentes e desconexas.

           Assim decidiu essa manhã, anotar as idéias que surgissem e para isso arranjou um caderno e o colocou na cabeceira da cama, “para que elas não fujam ao acordar”.

                Assim as anotações avolumaram-se rapidamente e encheu graciosamente inúmeros cadernos.  Só parou quando percebeu que tinha episódios para toda a vida. A partir daí resolveu separá-los e editá-los da melhor forma possível, precisando para tanto passar a limpo e assim correu para a papelaria da esquina.

          Quando cruzava a rua da frente de casa, um carro descia no sentido contrário. Só deu tempo de fechar os olhos. Pimba!  Acertou-o ao meio. Essas cenas para matar os personagens, se parecem mais tirados de filmes de terceira categoria. Não é necessário nenhum gênio para criá-las. Mas com Pedro não foi assim fácil. Depois do acidente vamos encontrá-lo suando frio em sua  cama, desconsolado.  Não sabia se chorava ou se sorria. Ficou puto da vida por não ter desconfiado de nada. Ou seja, havia mais de ano que dominava seus sonhos.  Pressentia quando estava dentro de um e assim podia ousar. Chegou ao cúmulo de  atirar-se de um prédio de dez andares.  Sabia que ao abrir os braços voaria como heróis da revistas em quadrinhos. 

          Como não percebeu dessa vez?  Como se deixou levar por caminho leviano, sem desconfiar de nada?  Essas questões o deixaram deprimido. E o pior foi compreender que os cadernos e todos os textos se evaporaram em uma fina névoa do sonho. “Esses sonhos são orquestrado pelo anseio de seu ego ávido por  confetes e purpurinas, dissera o psiquiatra que o atendeu.
          E naquela manhã  por conseguinte, levantou sem esperança alguma de lembrar todas aquelas lindas histórias que havia tão bem copiado naqueles cadernos. Uma tristeza enorme o abateu.

                 Depois da alta, pois ele andou um tempo meio atarantado, levantou-se e tomou um banho de água fria para retornar a lucidez. E ate beliscou-se na esperança de estar sonhando novamente.

          Dura realidade. A água fria escorreu pelo seu rosto, pelo seu corpo e caiu no ralo um liquido azul anil.
 
          -Azul!  Azul!

          E olhou as mãos toda manchada de tinta. Sobre a  escrivaninha  uma caneta com a carga gasta.

          - Então não foi sonho? Isso que eu penso que é realidade é que é o sonho?
               Saiu para a rua sem destino.  Correu para o lugar de seus sonhos, que era a livraria que ficava na esquina de sua casa.  A moça sentada na cadeira, os cabelos pretos  e lisos  em seu espaldar ele debruçou-se  por trás, leu por cima do ombro esguio dela e sentiu o suave perfume das páginas dos livros.  Ângela, era o nome da moça, sorria com o prazer da leitura.  Sempre quando ele chegava, ela fechava o livro marcando a página com o indicador da mão direita e levantava seus olhos  negros  e fixavam nos dele.  
          Logo Pedro percebeu  no poema que ela lia  um de seus textos, ou seja,  todos os seus textos estavam ali  distribuídos e silenciosos nas estantes.

          De modo que, tudo o que ele sonhou escrever  estavam ali, nos livros dos outros.


          Eram eles os ladrões de seus sonhos?




segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

O ditador







                                                                     O ditador


   
          Um homem ia andando pela rua de um país sul americano quando um guarda o parou:

          -Que forma de pensar é essa o guarda gritou?

          -Não sei senhor! Nem forma meu pensamento tem!

          -Vejo que seu pensamento é agudo...

         -Pelo contrário senhor! Dizem que é quadrado, mas eu acho que pensamento não tem forma.

         -Tudo tem forma! Se eu digo tem!

        -Pelo contrário senhor, o cérebro tem forma, todas as coisas físicas têm forma, o pensamento não tem...

        -Quanta teimosia! Está preso senhor!

        -Qual o motivo?

         -Pensamento sem forma!

         -Perdoe senhor! Meu pensamento não está aqui. Está perdido...Está longe...

          -Está preso assim mesmo. Até encontrá-lo. E com forma.