quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Resumos e anotações & anotações




                                  

     Resumos e anotações & anotações
              
Do personagem:

Tinha fama de namorador. Já havia flertado com a filha do pastor, do vereador, do dono do mercadinho e só faltava agora, de solteira, a filha do prefeito. Afinal era um povoado pequeno e a fama ia longe.

Também pudera. Além do porte físico, tinha os predicados que as garotas do interior cobiçavam:
Uma bela cabeleira a Elvis, um sorriso mentolado com a ajuda do chiclete Adams, calça boca de sino, tamanco, óculos ray-ban e por último o relógio automático seiko. E para arrematar figura tão peculiar, usava no cabelo penteado para trás, a velha e cheirosa brilhantina Gessy(como dizia a propaganda na revista Cruzeiro, “seus cabelos ficarão mais sedosos e brilhantes”).

Essa figura para desdenhar dos conterrâneos uma noite dormindo na casa do avô paterno, amanheceu todo picado e queria saber por quem.
A tia disse:
-Oxente!  Isso ai foi muriçoca das brabas!
No que ele se fez de desentendido.
-Uê! Lá no rio, na cidade maravilhosa conhecemos por pernilongo!
Noutra ele estando na mesa para o almoço inquiriu a avó.
-Vó! O que é exta fruta branca?
-Oxente, menino, deixa de ser besta! Por acaso isso não é macaxeira?
-Uê vó, é meixmo! Tinha me eixquecido! Lá no rio chamamox de mandioca!
-Deixa de ser bexta menino! Quatro anox no rio fizeram exquecer tua origem? Larga a mão de ser bexta!
Aí ninguém se agüentou com a velha imitando o menino e todos caíram na gargalhada. O avô até então calado falou:
-Oxente mulher! O menino agora é carioca, vice! Só tome cuidado com as moças de família! Aqui a coisa é diferente. As moças aqui não são as desavergonhadas de lá não, vestindo aquela minúscula roupa de banho e em público! Tome tento, garoto! No que ele levantando-se da mesa respondeu imitando a propaganda de preservativo:
-"Eu levo uma a todo lugar onde eu levo meu pênis".

Isso se passou numas férias que ele esteve por aqui, no carnaval de mil novecentos e cinqüenta.
 Pesquisar década de cinqüenta.

Era a festa da cidade e teria o grande baile,
 Dessa feita, quando chegava às festas, geralmente em aniversários, quermesse ou no clube, deixava as mães das garotas em pavorosa.   
Por sinal os amigos já haviam notado sua grande desenvoltura nos bailes, balançava bem as cadeiras, dançando muito bem o rock and roll. Questionaram dele na época:
          -Tu foi estudar no rio pra ser doutor ou cantor de banda de rock? 
No que ele parou, bem assim, fazendo pose, Tirou do bolso um maço de cigarros parecia àquela propaganda, “Onde se divertem pessoas de bom gosto… aí se encontram os cigarros Hollywood. Chegou a hora do show…mas, para apreciá-lo melhor, acenda um Hollywood – o cigarro que dá mais realce às horas de lazer e faz passar mais rápidas as horas de trabalho”.acendeu calmamente com o isqueiro a gás, e respondeu:
-Bicho! Fui fazer ambax as duax coisax! É a onda morou?
Entrou no quarto para a sesta.

Do cenário:

Pacata cidade do interior de povo ordeiro e levado pelas circunstâncias a fofoca. Falam da própria alma. Dizem de uma moradora que se morrer vai precisar de duas urnas funerárias: Uma para o corpo outra para a língua. Tem uma igreja católica apostólica e romana, dois templos, um cinema uma sorveteria, um hospital, um cemitério tudo em volta de uma pracinha. É comum perguntarem aos gritos:
-Esse vai pra onde, pro cemitério ou pro hospital?
O assunto predileto é saber quem está morrendo e quem está nascendo.
Por essa praça a noite é que rodam o povo atrás de diversão. Povo de característica moral conturbada. De dia segue a Deus e seus ensinamentos. A noite o diabo e suas diabruras. Clima quente parece até amostra grátis do inferno. Em volta sítios e chácaras.

                               Sobre o baile

Anos cinqüenta.
Dezoito horas. Depois da ave Maria toda a cidade subia a pé para o clube. A distância era pequena e aquela época, quem tinha carro contava-se nos dedos e o prefeito era um deles.
Assim será que nosso herói, verá Angelina sair do Romi-Isetta, vestida num impecável vestido branco.
Ricardo com seus amigos haviam chegados mais cedo, e se encontravam tomando uma mistura de crush e aguardente e se postaram naquela posição privilegiada no intuito de observar mesmo quem chegava. Contavam piadas cretinas, quando os olhos dele e de Angelina por instantes se entreolharam. Aqui a câmera se aproximará dando um close.
-Uau! Quem é esta? O amigo mais chegado completou:
-É Angelina Figueira do Carmo, filha do prefeito.
-Mas que pitéu! Vai ser meu troféu dessas férias! No que os outros responderam em uníssono:
-Du-vi-de-o-dó!
Nisso a banda começou a tocar. Eram cinco cabeludos. Um baterista usando óculos, um baixista gordão, um guitarrista alto e magro, o pianista e o cantor com costeletas compridas.

Pode ser um cover dos Beatles.

 Atacaram com Asa Branca de Luiz Gonzaga. Os casais mais velhos foram se formando no centro do salão. Ao redor, nas mesas a maioria, ocupadas com as famílias.
Um garçom circula com a roupa branca e preta cheio de mesuras pelos corredores, e os jovens circulam por trás das mesas fugindo dos olhares dos pais. Uma fumaça espessa. Muita gente fuma nessa época.

Pesquisar se já fumavam maconha. Geralmente são caretas.

A banda agora ataca de brasileirinho de Waldir Azevedo, para demonstrar sua presteza com os instrumentos e os casais se desfazem da dança para admirá-los. Quando finda a música chovem palmas.
Aproveitando esse frenesi Ricardo tinha ido até o cantor e passado um pequeno papel pedindo uma música. Normalista, Nelson Gonçalves. Quando o pianista dava os primeiros acordes e a música iniciava no vozeirão do cantor, Ele se encontra á frente de Angelina fazendo um rapapé:
-A senhorita dar-me a honra desta dança?

O foco nos rostos dos pais, sobressaltados.

Ela não teve como recusá-lo. Entrega a mãozinha trêmula e vai para o meio do salão.
Os pais ficaram olhando, aliás, todo o salão.

Diálogo entre os pais.

-Maria, quem é esse rapaz, é filho de quem?
-Neto de Seu Joaquim, aquele que foi estudar fora!
-Joaquim aquele dono da terra perto do rio?
-Sim! Aquele que lutou na guerra contra os alemães.
-Boa bisca não é! Fica de olhos bem abertos.
-Pode deixar!
Aumenta-se o som da banda.
Toca agora, Jamais Te Esquecerei de Antônio Rago.

Câmeras no meio do salão e no teto para dá impressão de grandiosidade.

-Como tu chamas?
-Angelina.
Eu Ricardo muito prazer.
-Que fazes?
-Estou fazendo o normal e tu?
-Fiz o científico no Rio, e agora extou extudando muito para o vextibular. Quero ser advogado.
Toda esta conversa, dita em sussurro no ouvido. Angelina quando escutava a voz serena, e soprada com mil esses no seu pavilhão auditivo, sentia um calafrio que a deixava toda arrepiada.

Escolher bem a atriz. Deve ser uma mistura de Eva e de serpente.

-Agora que me conhece, poderia tirar essa trava?(Nessa época as garotas colocavam um braço no peito do homem, para que ele não se aproveitasse).
-Hum! Hum! Meu pai está olhando!
-Posso sentar-me em sua mesa?
-Venha vou apresentá-los.
Depois da apresentação onde o prefeito faz vários questionamentos foi anunciado o torneio de dança. O locutor grita o premio e todos batem palmas. O primeiro lugar uma Lambretta cinza clara.

A lambreta deve está sobre algo móvel que a fará girar num pedestal.

Do torneio:

Tocaram então um rock e o salão encheu-se de jovens.  Ricardo usou todos os seus passos.
Tinha um que parecia um macaco com dor de barriga. Outro girava como uma hélice de ventilador de teto.

Ele deve se transmudar no cociente dos pais como um diabinho  de rabo. 

 Mas tinha um rival: O primo de Angelina, sobrinho do prefeito que até ali, torcia por ele. Mas  Ricardo como previsto ganhou por três a dois, isso porque o prefeito não conseguiu comprar o outro jurado. Vendo a derrota, o prefeito na última cartada ainda tentou desvirtuá-lo dizendo que não valia, pois o rapaz mesmo sendo filho da terra, era um forasteiro, mas a maioria foi contra essa hipótese e Ricardo levou o prêmio a despeito do sobrinho do prefeito.

(Melhorar o personagem sobrinho do prefeito fazendo com que ele seja o vilão na jornada do nosso herói).
Observação: Tratar melhor as cenas e dá um pouco de dramaticidade para não cair no lugar comum. Pode ser também o primo responsável pela primeira vez de Angelina. A tirada do cabaço.

A partir daí Ricardo passou a comparecer à casa de Angelina, aos domingos, sobre a vigilância da irmã mais nova de treze anos, e olhos aguçados que nem um lince.

Margarida poderá nutrir um amor platônico por seu cunhado.

-Parem com isso! Vocês estão se adiantando! Ela disse isso um dia na saída de Ricardo lá pelas dez horas da noite, num furtivo beijo de despedida.

                                O namoro

(Tudo se transcorrerá rápido). A travessia do limiar. Batalha contra o guardião do limiar. (Margarida e os pais).

Todo mundo sabe como é um namoro daquela época. Ainda mais com a vigilância da Irmã mais nova e os pais.
Ricardo chegava ao domingo de tarde depois da missa das cinco, entrava com a Lambreta, na garagem, subia os cinco degraus até a sala, onde encontrava os pais e Angelina já sentada na poltrona em frente deles, ouvindo o programa da rádio nacional (depois pesquisar programa da época, pois não tive tempo agora) e naquele momento era que dava um beijo de leve na face dela que se encontrava enrubescido pela presença dos pais. Ali se conversava sobre generalidades, enchia-se lingüiça, como fazem muitos escritores quando são pagos por laudas escritas, o que não é o caso aqui,e só lá para as nove horas quando se recolhiam, deixava em seu lugar, Margarida de olhos e ouvidos abertos. Era esse tempo mínimo que ele tentava alguma coisa. Segurar-lhes as mãos, roçar-lhes os seios, afagar-lhes os joelhos brancos como cera. Aí ouvia a voz incriminadora da irmã:
-Agora eu vi, dissera ela, logo que os pais fecharam a porta do quarto.
-O que tu viu Margarida? Para de inventar coisas, mulher!
-Os dedos mindinhos se tocaram. Eu vi! Mais uma vez, eu chamo meu papai! Aí Ricardo tinha de pagá-la com guloseimas.

Iniciou-se aqui o pagamento de  propina no Brasil.
                            

                                 O susto

Acontece que apesar de toda a vigilância Angelina ficou grávida. Não uma gravidez vinda do espírito santo e sim pelo espirituoso Ricardo nosso herói. Todos ficaram curiosos para saber como. O próprio Ricardo, sendo um cínico contará nas rodas de amigos. Seguindo a moral masculino que diz: “Para o homem não basta comer, tem que contar para alguém”. Assim fez. E toda a cidade ficou sabendo.
Aconteceu que todos os domingos ele levava o bolso cheios de balas. E escondia em locais escolhido, longe onde ele ia ficar com Angelina. E falava para Margarida.
-Hoje eu escondi lá no quintal! Vamos brincar de quente e frio?
E margarida ia falando, estou quente, e ele respondia, está frio. Nisso Abraçava Angelina com vigor dos vinte anos. E isso levou seis meses. Mas segundo ele, quando, colocava a camisinha, e estava perto de conseguir, margarida aparecia com a bala gritando:
-Achei!
Muitas vezes ele fora embora vestido com a camisinha. Um dia até esquecera-se de tirar e foi dormir. Quando acordou e foi ao banheiro, urinar, não conseguia e ficou preocupado.
Seria doença venérea? Depois rio muito quando descobriu o porquê.

Essa cena deve-se dá ênfase, para se criar no espectador um riso, e uma aproximação com os personagens.

Um belo domingo, Ricardo já não aguentando mais, subia nas paredes, chutava lata na rua, enfim, estava para morrer de vontade. E o que fez?
Escondeu as balas mais longe. E pediu a Angelina que viesse sem calcinha. Que cara de pau! Ele achava que ela não ia aceitar. Tinha certeza até. Mas como desconhecemos as mulheres! Só foi ele falar que era a última semana de férias e teria que voltar para o Rio, e que isso e mais aquilo, que podia lá encontrar um alguém e se apaixonar, essas coisas que os homens falam quando querem, que procuram as mulheres da vida em busca de sexo só, e que ela será diferente e blá blá BA etc etc. Nos tempos de guerra para se comer uma mulher falavam que estavam indo com o coração partido e com certeza morreria no campo de batalha. Era batata. Nunca se comeu tanta mulher nas duas grandes guerras.
Assim Angelina chegou ressabiada e calada. Ele pensou: Diabos me mordam! Ela vai acabar o namoro. E tchau fodinha gostosa! Ricardo estava a ponto de desistir, pedir desculpas, perdão, que  fora um grosseiro essas coisas ridículas. E precisando conversar sobre, pediu para Margarida procurar as balas.
Aí Angelina veio com o jeito dela e sussurrou algo no ouvido dele.

Pode ser esse diálogo:

-Coloca a mão aqui, por baixo! E guiou-lhe a mão.

Ênfase nessa cena. Aumenta as visualizações. Todo espectador gosta de uma sacanagenzinha. Aí ele assustado e feliz sente que ela não usava nada por baixo. Sente no tato ardente pelos crespos e macios. Indubitavelmente que ele não esperava por isso.
 Aqui se deve molhar a fronte do personagem para mostrar que ele naquele momento, estar suando frio.

Ricardo sabia que não podia perder tempo. Margarida estava para voltar. Assim procura loucamente o preservativo no bolso. Nada.
-Puta que pariu, resmunga.
-O que foi meu bem?
-Esqueci a camisinha!
Ela naquela aflição de mulher que decidira há séculos (mulher quando decide é foda, ninguém segura, nem mesmo a falta de uma camisinha) falou baixinho:
-Não tem problema! Coloca só a cabecinha! E ensina: E na hora bem na hora é só tirar!
Aí não teve jeito. Ricardo colocou a cabecinha e ficou ali deslumbrado e Angelina um doce de pessoa mexia calmamente para cima e para baixo. Delícia eles diziam. Ricardo explicou assim: Como estava bem bom, e pênis não tem ombro, já viu o que aconteceu, dissera ele bem depois.
-Entrou até o talo!
Lá para as dez horas, depois de tudo acabado, apareceu margarida com a camisinha na mão perguntando, o que seria aquilo. Ele teve que inventar uma estória e disse que era balão de aniversário de uma irmã que não tinha e teve que enchê-la ali mesmo para ela brincar na sala.  
Aqui se fecha a cena.
A curiosidade do espectador fica maior tentando resolver o problema: O pai encontrar pela manhã uma bola terrivelmente estranha voando na sala.

                        A correspondência
Depois da travessia do limiar vem a calmaria. É quando o herói aproveita um mês inteiro comendo a heroína.

 Logo que soube do atraso no ciclo menstrual de Angelina, dos desmaios, e dos choros contidos, uma certa manhã, Ricardo acordou com a cara estranha,arrumou a lambreta, amarrou a mochila, pegou o óculos Ray-ban  e caiu na estrada bem cedo. Como dizem hoje: Picou a mula.
Viajou o dia inteiro sem olhar para trás. Na cabeça dele passava um filme que vira recentemente, Juventude Transviada com James Dean e ele se sentia o próprio.  A BR estava tão deserta no domingo, a pista uma hora pintava-se de verde dos pastos de Minas, as vacas branquinhas e quietas pastando cercadas por arames farpados, morros, montes, pradarias sem fim, depois nublava e caia uma chuvinha fina, ou o solão abrasador, e vinha um calor como uma estufa.  Na serra de Petrópolis caiu um pé d’água que o fez parar. Será castigo? Pensou. Parou num restaurante. Vários carros estacionados. Pediu uma refeição completa, essa aventura estava lhe dando muita fome.
Lá fora a chuva passou e abriu o sol, já se deitando atrás da serra. Enquanto engolia, pensava no que hipoteticamente acontecia lá no povoado, agora todo mundo sabia, o que era de Angelina, o prefeito, a mulher, margarida. Tudo em Flash Bach.
Terminada a refeição, pediu um café e depois acendeu um cigarro e ficou olhando o movimento dos carros. Era um zumbido só. Carros pra lá e pra cá o que o fez balançar a cabeça.

A câmera se distancia mostrando quão é pequeno o homem.
Depois aproxima-se lentamente do personagem, em câmera lenta para mostrar bem a cena.

Deu um chute numa lata que estava por ali, montou na lambreta e acelerou. Logo visualizou o Rio e toda sua fauna.

               Juntada de papéis

Vinte anos se passaram. 1970. O homem pisou na lua, O escrete canarinho foi tricampeão. O governo é militar e isso tudo foi fonte de pesquisa, mas que não tem nada a ver com essa história que ainda não passa de um resumo para algo que está deformado.

Ouve uma correspondência. Que voltou ao destinatário. Tinha um carimbo dos correios de 1951.  Endereço inexistente.

Sobre o pai:

Sim ele era inexistente. Um verme. Um...
 Com mãos trêmulas um jovem lê à missiva. Vai copiando as letras e frases soltas numa velha máquina de Escrever Portátil Remington. Para um momento e olha através da janela escura. Volta a lê agora concentrado. 
Cena com pouca luz. Pode ser a luz de vela. Como gostam os poetas malditos.

O silêncio só é quebrado com as letras tocando a fita preta da máquina.
                          
                    Querido Ricardo:

Não guardo ódio. Não sou dessas. O que decidi foi ter meu filho com a graça de Deus. O que me chateou foi tua fuga. Não era necessário. Achava que me amava. Por isso me entreguei de corpo e alma. O qual não foi minha surpresa de tua fuga. O que eu fiquei pensando nesses longos vinte e poucos anos é o que acontece em nossas vidas com nossas escolhas. Por exemplo: Se estivéssemos usados camisinha?
Se Margarida tivesse voltado a tempo?
Se não tivéssemos tanta liberdade?
Se e se e se... Como dizia um amigo: Se é uma conjunção adversativa e atrapalhativa.

 Se você estivesse ficado, nos casaríamos e formaríamos uma família e talvez viesse até outros filhos. Mas você não fez essa escolha e essa família que tanto sonhei se desintegra agora em meus pensamentos. Mas quero dá notícia de nosso filho está um homenzarrão. Formou-se em cinema e está pensando em fazer um filme sobre nossa vida. O que me deixa triste é que ele nunca mencionou seu nome. E não é por minha culpa Deus é testemunha.  Um dia peguei-lhe lendo meu diário. Como ele se parece com você. Um sonhador. Vive anotando coisas, diz que é para um filme que está em mente.
Um dia desses li algo dele. Será que ele escreverá sobre nossas vidas? Tomara que não. Foi uma vida vulgar. Estou com medo. O que ele escreve são frases melancólicas e de uma ensurdecedora tristeza. O que me dói mais é imaginar que você pode está precisando de ajuda, de amor, de carinho...
“Aqui o escritor olhando pela janela para. Bate-lhe pesado, como um coice de mula o branco da lauda. Não consegue mais criar.
Toca as teclas da máquina sem emoção.
Anota do lado para recordar quando a escrita voltar aos trilhos.

Obs. Pesquisar músicas da década de cinqüenta:
Velhas Cartas de Amor - Francisco Alves
 Cigarro LS (Elegância) – 1959
Cinturita Porta-Liga Leila – 1951
James Dean .... Jim Stark – Ricardo
Natalie Wood- Angelina
Refrigerante Crush
Lambreta (concurso no baile para o melhor dançarino).
Atenção:
Prováveis finais da história:

1-      Ricardo não conhecerá o filho.  Haverá grandes hiatos. Morrerá sozinho num hospital devido ao vício do fumo. Angelina vai morar no Rio de janeiro e é dona de casa exemplar cuidando do filho de 21 anos que escreve nas horas vagas com uma máquina Olivetti. O filho é inominado. Triste mas eu existo.

2-     Ricardo acordará de um pesadelo terrível, e marca o casamento com Angelina, descobre que ela usava Cinturita Porta-Liga Leila(para afinar a cintura) mas não ligou teve dois filhos e são felizes. Eu existo e tenho um irmão.

3-     Ricardo usa perfeitamente bem o preservativo, come Angelina todos os santos dias, não têm filhos, engorda bastante, ainda não casou, vive na casa do prefeito que o fez de secretário particular, por descobrir nele um tremendo de um cínico e  está de olho na cunhada que está um pitéu e ninguém escreve a história deles. Eu não existo.

4-     O escritor anota numa pasta, para terminar depois e salva no computador e sem querer deleta o resumo que se perde nos meandros da eletrônica. Não existiremos.
5-     Sem tempo para nada o escritor dá por terminado, posta na internet a espera da crítica que não vem. Inexistentes.

Urgente: Terminar o roteiro até o final de semana. De qualquer jeito. Aceita ajuda de qualquer ordem.



Resumos e anotações & anotações




                                  

     Resumos e anotações & anotações
              
Do personagem:

Tinha fama de namorador. Já havia flertado com a filha do pastor, do vereador, do dono do mercadinho e só faltava agora, de solteira, a filha do prefeito. Afinal era um povoado pequeno e a fama ia longe.

Também pudera. Além do porte físico, tinha os predicados que as garotas do interior cobiçavam:
Uma bela cabeleira a Elvis, um sorriso mentolado com a ajuda do chiclete Adams, calça boca de sino, tamanco, óculos ray-ban e por último o relógio automático seiko. E para arrematar figura tão peculiar, usava no cabelo penteado para trás, a velha e cheirosa brilhantina Gessy(como dizia a propaganda na revista Cruzeiro, “seus cabelos ficarão mais sedosos e brilhantes”).

Essa figura para desdenhar dos conterrâneos uma noite dormindo na casa do avô paterno, amanheceu todo picado e queria saber por quem.
A tia disse:
-Oxente!  Isso ai foi muriçoca das brabas!
No que ele se fez de desentendido.
-Uê! Lá no rio, na cidade maravilhosa conhecemos por pernilongo!
Noutra ele estando na mesa para o almoço inquiriu a avó.
-Vó! O que é exta fruta branca?
-Oxente, menino, deixa de ser besta! Por acaso isso não é macaxeira?
-Uê vó, é meixmo! Tinha me eixquecido! Lá no rio chamamox de mandioca!
-Deixa de ser bexta menino! Quatro anox no rio fizeram exquecer tua origem? Larga a mão de ser bexta!
Aí ninguém se agüentou com a velha imitando o menino e todos caíram na gargalhada. O avô até então calado falou:
-Oxente mulher! O menino agora é carioca, vice! Só tome cuidado com as moças de família! Aqui a coisa é diferente. As moças aqui não são as desavergonhadas de lá não, vestindo aquela minúscula roupa de banho e em público! Tome tento, garoto! No que ele levantando-se da mesa respondeu imitando a propaganda de preservativo:
-"Eu levo uma a todo lugar onde eu levo meu pênis".

Isso se passou numas férias que ele esteve por aqui, no carnaval de mil novecentos e cinqüenta.
 Pesquisar década de cinqüenta.

Era a festa da cidade e teria o grande baile,
 Dessa feita, quando chegava às festas, geralmente em aniversários, quermesse ou no clube, deixava as mães das garotas em pavorosa.   
Por sinal os amigos já haviam notado sua grande desenvoltura nos bailes, balançava bem as cadeiras, dançando muito bem o rock and roll. Questionaram dele na época:
          -Tu foi estudar no rio pra ser doutor ou cantor de banda de rock? 
No que ele parou, bem assim, fazendo pose, Tirou do bolso um maço de cigarros parecia àquela propaganda, “Onde se divertem pessoas de bom gosto… aí se encontram os cigarros Hollywood. Chegou a hora do show…mas, para apreciá-lo melhor, acenda um Hollywood – o cigarro que dá mais realce às horas de lazer e faz passar mais rápidas as horas de trabalho”.acendeu calmamente com o isqueiro a gás, e respondeu:
-Bicho! Fui fazer ambax as duax coisax! É a onda morou?
Entrou no quarto para a sesta.

Do cenário:

Pacata cidade do interior de povo ordeiro e levado pelas circunstâncias a fofoca. Falam da própria alma. Dizem de uma moradora que se morrer vai precisar de duas urnas funerárias: Uma para o corpo outra para a língua. Tem uma igreja católica apostólica e romana, dois templos, um cinema uma sorveteria, um hospital, um cemitério tudo em volta de uma pracinha. É comum perguntarem aos gritos:
-Esse vai pra onde, pro cemitério ou pro hospital?
O assunto predileto é saber quem está morrendo e quem está nascendo.
Por essa praça a noite é que rodam o povo atrás de diversão. Povo de característica moral conturbada. De dia segue a Deus e seus ensinamentos. A noite o diabo e suas diabruras. Clima quente parece até amostra grátis do inferno. Em volta sítios e chácaras.

                               Sobre o baile

Anos cinqüenta.
Dezoito horas. Depois da ave Maria toda a cidade subia a pé para o clube. A distância era pequena e aquela época, quem tinha carro contava-se nos dedos e o prefeito era um deles.
Assim será que nosso herói, verá Angelina sair do Romi-Isetta, vestida num impecável vestido branco.
Ricardo com seus amigos haviam chegados mais cedo, e se encontravam tomando uma mistura de crush e aguardente e se postaram naquela posição privilegiada no intuito de observar mesmo quem chegava. Contavam piadas cretinas, quando os olhos dele e de Angelina por instantes se entreolharam. Aqui a câmera se aproximará dando um close.
-Uau! Quem é esta? O amigo mais chegado completou:
-É Angelina Figueira do Carmo, filha do prefeito.
-Mas que pitéu! Vai ser meu troféu dessas férias! No que os outros responderam em uníssono:
-Du-vi-de-o-dó!
Nisso a banda começou a tocar. Eram cinco cabeludos. Um baterista usando óculos, um baixista gordão, um guitarrista alto e magro, o pianista e o cantor com costeletas compridas.

Pode ser um cover dos Beatles.

 Atacaram com Asa Branca de Luiz Gonzaga. Os casais mais velhos foram se formando no centro do salão. Ao redor, nas mesas a maioria, ocupadas com as famílias.
Um garçom circula com a roupa branca e preta cheio de mesuras pelos corredores, e os jovens circulam por trás das mesas fugindo dos olhares dos pais. Uma fumaça espessa. Muita gente fuma nessa época.

Pesquisar se já fumavam maconha. Geralmente são caretas.

A banda agora ataca de brasileirinho de Waldir Azevedo, para demonstrar sua presteza com os instrumentos e os casais se desfazem da dança para admirá-los. Quando finda a música chovem palmas.
Aproveitando esse frenesi Ricardo tinha ido até o cantor e passado um pequeno papel pedindo uma música. Normalista, Nelson Gonçalves. Quando o pianista dava os primeiros acordes e a música iniciava no vozeirão do cantor, Ele se encontra á frente de Angelina fazendo um rapapé:
-A senhorita dar-me a honra desta dança?

O foco nos rostos dos pais, sobressaltados.

Ela não teve como recusá-lo. Entrega a mãozinha trêmula e vai para o meio do salão.
Os pais ficaram olhando, aliás, todo o salão.

Diálogo entre os pais.

-Maria, quem é esse rapaz, é filho de quem?
-Neto de Seu Joaquim, aquele que foi estudar fora!
-Joaquim aquele dono da terra perto do rio?
-Sim! Aquele que lutou na guerra contra os alemães.
-Boa bisca não é! Fica de olhos bem abertos.
-Pode deixar!
Aumenta-se o som da banda.
Toca agora, Jamais Te Esquecerei de Antônio Rago.

Câmeras no meio do salão e no teto para dá impressão de grandiosidade.

-Como tu chamas?
-Angelina.
Eu Ricardo muito prazer.
-Que fazes?
-Estou fazendo o normal e tu?
-Fiz o científico no Rio, e agora extou extudando muito para o vextibular. Quero ser advogado.
Toda esta conversa, dita em sussurro no ouvido. Angelina quando escutava a voz serena, e soprada com mil esses no seu pavilhão auditivo, sentia um calafrio que a deixava toda arrepiada.

Escolher bem a atriz. Deve ser uma mistura de Eva e de serpente.

-Agora que me conhece, poderia tirar essa trava?(Nessa época as garotas colocavam um braço no peito do homem, para que ele não se aproveitasse).
-Hum! Hum! Meu pai está olhando!
-Posso sentar-me em sua mesa?
-Venha vou apresentá-los.
Depois da apresentação onde o prefeito faz vários questionamentos foi anunciado o torneio de dança. O locutor grita o premio e todos batem palmas. O primeiro lugar uma Lambretta cinza clara.

A lambreta deve está sobre algo móvel que a fará girar num pedestal.

Do torneio:

Tocaram então um rock e o salão encheu-se de jovens.  Ricardo usou todos os seus passos.
Tinha um que parecia um macaco com dor de barriga. Outro girava como uma hélice de ventilador de teto.

Ele deve se transmudar no cociente dos pais como um diabinho  de rabo. 

 Mas tinha um rival: O primo de Angelina, sobrinho do prefeito que até ali, torcia por ele. Mas  Ricardo como previsto ganhou por três a dois, isso porque o prefeito não conseguiu comprar o outro jurado. Vendo a derrota, o prefeito na última cartada ainda tentou desvirtuá-lo dizendo que não valia, pois o rapaz mesmo sendo filho da terra, era um forasteiro, mas a maioria foi contra essa hipótese e Ricardo levou o prêmio a despeito do sobrinho do prefeito.

(Melhorar o personagem sobrinho do prefeito fazendo com que ele seja o vilão na jornada do nosso herói).
Observação: Tratar melhor as cenas e dá um pouco de dramaticidade para não cair no lugar comum. Pode ser também o primo responsável pela primeira vez de Angelina. A tirada do cabaço.

A partir daí Ricardo passou a comparecer à casa de Angelina, aos domingos, sobre a vigilância da irmã mais nova de treze anos, e olhos aguçados que nem um lince.

Margarida poderá nutrir um amor platônico por seu cunhado.

-Parem com isso! Vocês estão se adiantando! Ela disse isso um dia na saída de Ricardo lá pelas dez horas da noite, num furtivo beijo de despedida.

                                O namoro

(Tudo se transcorrerá rápido). A travessia do limiar. Batalha contra o guardião do limiar. (Margarida e os pais).

Todo mundo sabe como é um namoro daquela época. Ainda mais com a vigilância da Irmã mais nova e os pais.
Ricardo chegava ao domingo de tarde depois da missa das cinco, entrava com a Lambreta, na garagem, subia os cinco degraus até a sala, onde encontrava os pais e Angelina já sentada na poltrona em frente deles, ouvindo o programa da rádio nacional (depois pesquisar programa da época, pois não tive tempo agora) e naquele momento era que dava um beijo de leve na face dela que se encontrava enrubescido pela presença dos pais. Ali se conversava sobre generalidades, enchia-se lingüiça, como fazem muitos escritores quando são pagos por laudas escritas, o que não é o caso aqui,e só lá para as nove horas quando se recolhiam, deixava em seu lugar, Margarida de olhos e ouvidos abertos. Era esse tempo mínimo que ele tentava alguma coisa. Segurar-lhes as mãos, roçar-lhes os seios, afagar-lhes os joelhos brancos como cera. Aí ouvia a voz incriminadora da irmã:
-Agora eu vi, dissera ela, logo que os pais fecharam a porta do quarto.
-O que tu viu Margarida? Para de inventar coisas, mulher!
-Os dedos mindinhos se tocaram. Eu vi! Mais uma vez, eu chamo meu papai! Aí Ricardo tinha de pagá-la com guloseimas.

Iniciou-se aqui o pagamento de  propina no Brasil.
                            

                                 O susto

Acontece que apesar de toda a vigilância Angelina ficou grávida. Não uma gravidez vinda do espírito santo e sim pelo espirituoso Ricardo nosso herói. Todos ficaram curiosos para saber como. O próprio Ricardo, sendo um cínico contará nas rodas de amigos. Seguindo a moral masculino que diz: “Para o homem não basta comer, tem que contar para alguém”. Assim fez. E toda a cidade ficou sabendo.
Aconteceu que todos os domingos ele levava o bolso cheios de balas. E escondia em locais escolhido, longe onde ele ia ficar com Angelina. E falava para Margarida.
-Hoje eu escondi lá no quintal! Vamos brincar de quente e frio?
E margarida ia falando, estou quente, e ele respondia, está frio. Nisso Abraçava Angelina com vigor dos vinte anos. E isso levou seis meses. Mas segundo ele, quando, colocava a camisinha, e estava perto de conseguir, margarida aparecia com a bala gritando:
-Achei!
Muitas vezes ele fora embora vestido com a camisinha. Um dia até esquecera-se de tirar e foi dormir. Quando acordou e foi ao banheiro, urinar, não conseguia e ficou preocupado.
Seria doença venérea? Depois rio muito quando descobriu o porquê.

Essa cena deve-se dá ênfase, para se criar no espectador um riso, e uma aproximação com os personagens.

Um belo domingo, Ricardo já não aguentando mais, subia nas paredes, chutava lata na rua, enfim, estava para morrer de vontade. E o que fez?
Escondeu as balas mais longe. E pediu a Angelina que viesse sem calcinha. Que cara de pau! Ele achava que ela não ia aceitar. Tinha certeza até. Mas como desconhecemos as mulheres! Só foi ele falar que era a última semana de férias e teria que voltar para o Rio, e que isso e mais aquilo, que podia lá encontrar um alguém e se apaixonar, essas coisas que os homens falam quando querem, que procuram as mulheres da vida em busca de sexo só, e que ela será diferente e blá blá BA etc etc. Nos tempos de guerra para se comer uma mulher falavam que estavam indo com o coração partido e com certeza morreria no campo de batalha. Era batata. Nunca se comeu tanta mulher nas duas grandes guerras.
Assim Angelina chegou ressabiada e calada. Ele pensou: Diabos me mordam! Ela vai acabar o namoro. E tchau fodinha gostosa! Ricardo estava a ponto de desistir, pedir desculpas, perdão, que  fora um grosseiro essas coisas ridículas. E precisando conversar sobre, pediu para Margarida procurar as balas.
Aí Angelina veio com o jeito dela e sussurrou algo no ouvido dele.

Pode ser esse diálogo:

-Coloca a mão aqui, por baixo! E guiou-lhe a mão.

Ênfase nessa cena. Aumenta as visualizações. Todo espectador gosta de uma sacanagenzinha. Aí ele assustado e feliz sente que ela não usava nada por baixo. Sente no tato ardente pelos crespos e macios. Indubitavelmente que ele não esperava por isso.
 Aqui se deve molhar a fronte do personagem para mostrar que ele naquele momento, estar suando frio.

Ricardo sabia que não podia perder tempo. Margarida estava para voltar. Assim procura loucamente o preservativo no bolso. Nada.
-Puta que pariu, resmunga.
-O que foi meu bem?
-Esqueci a camisinha!
Ela naquela aflição de mulher que decidira há séculos (mulher quando decide é foda, ninguém segura, nem mesmo a falta de uma camisinha) falou baixinho:
-Não tem problema! Coloca só a cabecinha! E ensina: E na hora bem na hora é só tirar!
Aí não teve jeito. Ricardo colocou a cabecinha e ficou ali deslumbrado e Angelina um doce de pessoa mexia calmamente para cima e para baixo. Delícia eles diziam. Ricardo explicou assim: Como estava bem bom, e pênis não tem ombro, já viu o que aconteceu, dissera ele bem depois.
-Entrou até o talo!
Lá para as dez horas, depois de tudo acabado, apareceu margarida com a camisinha na mão perguntando, o que seria aquilo. Ele teve que inventar uma estória e disse que era balão de aniversário de uma irmã que não tinha e teve que enchê-la ali mesmo para ela brincar na sala.  
Aqui se fecha a cena.
A curiosidade do espectador fica maior tentando resolver o problema: O pai encontrar pela manhã uma bola terrivelmente estranha voando na sala.

                        A correspondência
Depois da travessia do limiar vem a calmaria. É quando o herói aproveita um mês inteiro comendo a heroína.

 Logo que soube do atraso no ciclo menstrual de Angelina, dos desmaios, e dos choros contidos, uma certa manhã, Ricardo acordou com a cara estranha,arrumou a lambreta, amarrou a mochila, pegou o óculos Ray-ban  e caiu na estrada bem cedo. Como dizem hoje: Picou a mula.
Viajou o dia inteiro sem olhar para trás. Na cabeça dele passava um filme que vira recentemente, Juventude Transviada com James Dean e ele se sentia o próprio.  A BR estava tão deserta no domingo, a pista uma hora pintava-se de verde dos pastos de Minas, as vacas branquinhas e quietas pastando cercadas por arames farpados, morros, montes, pradarias sem fim, depois nublava e caia uma chuvinha fina, ou o solão abrasador, e vinha um calor como uma estufa.  Na serra de Petrópolis caiu um pé d’água que o fez parar. Será castigo? Pensou. Parou num restaurante. Vários carros estacionados. Pediu uma refeição completa, essa aventura estava lhe dando muita fome.
Lá fora a chuva passou e abriu o sol, já se deitando atrás da serra. Enquanto engolia, pensava no que hipoteticamente acontecia lá no povoado, agora todo mundo sabia, o que era de Angelina, o prefeito, a mulher, margarida. Tudo em Flash Bach.
Terminada a refeição, pediu um café e depois acendeu um cigarro e ficou olhando o movimento dos carros. Era um zumbido só. Carros pra lá e pra cá o que o fez balançar a cabeça.

A câmera se distancia mostrando quão é pequeno o homem.
Depois aproxima-se lentamente do personagem, em câmera lenta para mostrar bem a cena.

Deu um chute numa lata que estava por ali, montou na lambreta e acelerou. Logo visualizou o Rio e toda sua fauna.

               Juntada de papéis

Vinte anos se passaram. 1970. O homem pisou na lua, O escrete canarinho foi tricampeão. O governo é militar e isso tudo foi fonte de pesquisa, mas que não tem nada a ver com essa história que ainda não passa de um resumo para algo que está deformado.

Ouve uma correspondência. Que voltou ao destinatário. Tinha um carimbo dos correios de 1951.  Endereço inexistente.

Sobre o pai:

Sim ele era inexistente. Um verme. Um...
 Com mãos trêmulas um jovem lê à missiva. Vai copiando as letras e frases soltas numa velha máquina de Escrever Portátil Remington. Para um momento e olha através da janela escura. Volta a lê agora concentrado. 
Cena com pouca luz. Pode ser a luz de vela. Como gostam os poetas malditos.

O silêncio só é quebrado com as letras tocando a fita preta da máquina.
                          
                    Querido Ricardo:

Não guardo ódio. Não sou dessas. O que decidi foi ter meu filho com a graça de Deus. O que me chateou foi tua fuga. Não era necessário. Achava que me amava. Por isso me entreguei de corpo e alma. O qual não foi minha surpresa de tua fuga. O que eu fiquei pensando nesses longos vinte e poucos anos é o que acontece em nossas vidas com nossas escolhas. Por exemplo: Se estivéssemos usados camisinha?
Se Margarida tivesse voltado a tempo?
Se não tivéssemos tanta liberdade?
Se e se e se... Como dizia um amigo: Se é uma conjunção adversativa e atrapalhativa.

 Se você estivesse ficado, nos casaríamos e formaríamos uma família e talvez viesse até outros filhos. Mas você não fez essa escolha e essa família que tanto sonhei se desintegra agora em meus pensamentos. Mas quero dá notícia de nosso filho está um homenzarrão. Formou-se em cinema e está pensando em fazer um filme sobre nossa vida. O que me deixa triste é que ele nunca mencionou seu nome. E não é por minha culpa Deus é testemunha.  Um dia peguei-lhe lendo meu diário. Como ele se parece com você. Um sonhador. Vive anotando coisas, diz que é para um filme que está em mente.
Um dia desses li algo dele. Será que ele escreverá sobre nossas vidas? Tomara que não. Foi uma vida vulgar. Estou com medo. O que ele escreve são frases melancólicas e de uma ensurdecedora tristeza. O que me dói mais é imaginar que você pode está precisando de ajuda, de amor, de carinho...
“Aqui o escritor olhando pela janela para. Bate-lhe pesado, como um coice de mula o branco da lauda. Não consegue mais criar.
Toca as teclas da máquina sem emoção.
Anota do lado para recordar quando a escrita voltar aos trilhos.

Obs. Pesquisar músicas da década de cinqüenta:
Velhas Cartas de Amor - Francisco Alves
 Cigarro LS (Elegância) – 1959
Cinturita Porta-Liga Leila – 1951
James Dean .... Jim Stark – Ricardo
Natalie Wood- Angelina
Refrigerante Crush
Lambreta (concurso no baile para o melhor dançarino).
Atenção:
Prováveis finais da história:

1-      Ricardo não conhecerá o filho.  Haverá grandes hiatos. Morrerá sozinho num hospital devido ao vício do fumo. Angelina vai morar no Rio de janeiro e é dona de casa exemplar cuidando do filho de 21 anos que escreve nas horas vagas com uma máquina Olivetti. O filho é inominado. Triste mas eu existo.

2-     Ricardo acordará de um pesadelo terrível, e marca o casamento com Angelina, descobre que ela usava Cinturita Porta-Liga Leila(para afinar a cintura) mas não ligou teve dois filhos e são felizes. Eu existo e tenho um irmão.

3-     Ricardo usa perfeitamente bem o preservativo, come Angelina todos os santos dias, não têm filhos, engorda bastante, ainda não casou, vive na casa do prefeito que o fez de secretário particular, por descobrir nele um tremendo de um cínico e  está de olho na cunhada que está um pitéu e ninguém escreve a história deles. Eu não existo.

4-     O escritor anota numa pasta, para terminar depois e salva no computador e sem querer deleta o resumo que se perde nos meandros da eletrônica. Não existiremos.
5-     Sem tempo para nada o escritor dá por terminado, posta na internet a espera da crítica que não vem. Inexistentes.

Urgente: Terminar o roteiro até o final de semana. De qualquer jeito. Aceita ajuda de qualquer ordem.