terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

A sorte









                                      A sorte



          Um rato saiu de madrugada para procurar comida, preferencialmente um queijo mineiro. Ao sair da toca olhou para um lado e para o outro e vendo que o caminho estava livre, atravessou o corredor num instante.

          -Que sorte! Essa casa abandonada toda minha e ainda  esquecem um queijo sobre a mesa!
 
          Eis que no final do corredor há um gato a espreita. Ao vê-lo o rato exclamou:

        -A vida é muito injusta! Sofro desde o nascimento!

         A injustiça só aparece quando é desvantajoso para ele.  Embora haja disparidade de coisas que parece realmente injustiça, por exemplo: saúde riqueza, poder etc. Mas no real tem menos injustiça no mundo do que parece ter.

         “Afinal tenho uma bela saúde, estou vivo por enquanto, tenho disposição e adoro queijo”.

        Assim ele deu um salto enorme para escapar e por azar caiu dentro da caixa d’água. Observou nesse ínterim que tinha mais quatro na mesma situação. Nadavam loucamente para sobreviver.

        O pior é que na caixa tinha somente uma boia e só um rato poderia apoiar-se nela. Logo surgiu um debate acalorado, que o primeiro tinha mais direito, mas todos discordavam disso, pois todos tinham direito a vida.  Assim depois de muito bate boca, resolveram que o mais justo seria uma escolha usando o aleatório. Num acordo de cavalheiros fizeram um sorteio.

Ele ganhou.

        Depois que os quatro morreram, ele usou seus corpos para sair da caixa d’água.

          Fora de perigo, deus graças a seu deus e a partir daí nunca mais reclamou da sorte, e do aleatório da vida, pois o aleatório é justo, até justíssimo, por que em sua escolha cega, não segue convicções nem preconceitos.



segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Sem palavras








                                                    Sem palavras




           Eu fiquei contrariado com uma pessoa do meu convívio quando chegou para mim, não sei se ele é ateu, e disse: Deus tem dois atributos verdadeiros que são onisciência e onividência .
          Eu imediatamente o consertei. São três atributos dados ao divino, eu disse.
          Ele continuou:
          Onisciente é a qualidade ou condição do que é onisciente. Saber absoluto, pleno; conhecimento infinito sobre todas as coisas. Isso é inegável. Afinal criou tudo.
          Onividência, diz-se do que tudo vê que tudo conhece.       Inquestionável também. Já onipotência é discutível. Ele disse.
          Fiquei de boca aberta.
          Ele disse ainda: 
         -Eu não só falo mas provo.
         -Faça isso, blasfemo, eu disse.
        -Se Deus é o todo poderoso ou onipotente pode tudo não é?
        -Claro eu disse. Sem nenhuma dúvida.
        -Assim sendo, poderá ele criar uma pedra tão pesada que nem ele conseguiria levantá-la?
        Eu fiquei pensando. Qual seria a melhor resposta? Sim ou não?
        Ele me deixou numa sinuca de bico, pois se eu dissesse que sim, que ele poderia criar tal pedra, estaria confirmando que ele não conseguirá levantá-la, percebeu? E se eu dissesse que não, que Ele jamais iria criar coisa que não tivesse poder sobre ela, eu estaria negando sua onipotência também.
        Fiquei sem palavras.