domingo, 4 de agosto de 2013

Decálogo do perfeito contista, de Horácio Quiroga

1- Crê em um mestre. Poe, Maupassant, Kipling, Tchekov, - Como em Deus. 

2- Crê que tua arte é um cume inacessível. Não sonhes em alcançá-la. Quando puderes fazê-lo, conseguirás sem ao menos perceber. 

3- Resiste o quando puderes à imitação, mas imite, se a demanda for demasiado forte, mas que nenhuma outra coisa, o desenvolvimento da personalidade requer muita paciência. 

4- Tem fé cega não em tua capacidade para o triunfo, mas no ardor com que o desejas. Ama tua arte como à tua namorada, de todo coração.

 5- Não comeces a escrever sem saber desde a primeira linha aonde queres chegar. Em um conto bem feito, as três primeiras linhas têm quase a mesma importância que as três últimas. 

 6- Se quiseres expressar com exatidão essa circunstância – “Desde o rio soprava o vento frio”, não há na língua humana, mais palavras que as apontadas para expressá-la. Uma vez dono de tuas palavras, não te preocupes em observar se apresentam consonância ou dissonância entre si. 

7- Não adjetives sem necessidade. Inúteis serão quantos apêndices coloridos aderires a um substantivo fraco. Se encontrares o perfeito, somente ele terá uma cor incomparável. Mas é preciso encontrá-lo.

 8- Pega teus personagens pela mão e conduza-os firmemente até o fim, sem ver nada além do caminho que traçaste para ele. Não te distraias vendo o que a eles não importa ver. Não abuses do leitor. Um conto é um romance do qual retiraram as aparas. Tenha isso como uma verdade absoluta, ainda que não o seja.

 9- Não escrevas sob domínio da emoção. Deixe-a morrer e evoque-a em seguida. Se fores então capaz de revivê-la tal qual a sentiste, terás alcançado na arte a metade do caminho. 

10- Não penses em teus amigos ao escrever, nem na impressão que causará tua história. Escreva como se teu relato não interessasse a mais ninguém senão ao pequeno mundo de teus personagens, dos quais poderias ter sido um. Não há outro modo de dar vida ao conto.