quinta-feira, 26 de março de 2020

 
                     


                       Em quarentena



Aos domingos  a maiorias das pessoas iam à igreja, ao clube e no final de tarde visitavam a família.  Isso desde que me entendo por gente. Hoje não.
Estamos passando por uma grave pandemia e fomos obrigado a uma quarentena. Estamos isolados em casa.
Olho pela janela o céu limpo, sem nuvens, linda manhã de domingo numa imagem plástica e bela um ambiente limpo e liso sem nuvens da cor azul turquesa.
O avião que passava  todos os  dias deixando um rastro branco as oito horas em ponto para o Rio de Janeiro que me fazia sonhar, já não passa  mais. Tudo está parado. Só o relógio em cima da cômoda ainda bate seu tic e tac frenético. Olhei em volta . O silêncio foi quebrado pelo  canto de um bem-te-vi. A pequena cambaxirra saltitava de um galho a outro perto do barranco. Incrível! Pensei.  Dava para ouvi até o farfalhar suave do vento nas folhas da mangueira. O sol com seus raios dourados chegou a queimar minha fronte.  Sentia meus pulmões processarem o ar para as minhas células. O sangue corria em minhas artérias e veias. Ouvia o meu coração.
O que estão fazendo lá fora os outros? De uma maneira ou de outra estão tentado sobreviver cada um do seu jeito., pensei. Não é que eu não goste da solidão. Tem dias que eu quero ficar só. Mas assim forçado imposto por um vírus não está sendo legal. Eu sei que é necessário e imprescindível para o combate. Mas tenho que agradecer pois estou vivo. Eu estou vivo. Vivo! Mas, tem dia que penso que não. Que já morri e essas linhas de pensamentos são processados por sinapses anterior ao caos. Que logo vão parar e virá a inercia de tudo, dos sentidos das ondas eletromagnéticas e tudo se consumirá em silencio. Mas, noutras  janelas vejo vultos por detrás das cortinas. Silenciosos...Temerosos...esperançosos...
Estamos em espera.  As borboletas voejavam sobre as flores do maracujá no quintal. Estamos no outono. À época da troca das folhagens para a chegada do inverno.
Lembrei que tenho que podá-lo se não ele esparrama as ramas sufocando as outras plantas.
Já chegamos ao cúmulo de podarmos todos os nossos contatos ditos “desnecessários” para os dias de hoje inclusive os abraços, apertos de mão e beijos.  Que dias longos e monótonos sem beijos e abraços meu Deus!
Já já entrará a primavera e tudo florescerá a despeito da vitória.  As flores abrirão suas pétalas e o perfume deixará toda a planície perfumada. As abelhas buscarão o néctar. Os ciclos passarão e tudo o mais. Até essa guerra passará.
Por ser invisível é indubitavelmente mais perigoso o inimigo. Não sabemos de onde vem nem quando vai atacar. É como tempestade de verão. É como saltar de paraquedas no escuro. É como um parto normal onde o ser ao sair do conforto para o mundo, chora ao sentir um abandono e o oxigênio pela primeira vez nos pulmões.

A forma que eu achei nessa espera soturna, foi escrever essas linhas, lê um bom livro, dá um oi pela janela ao vizinho , ter bom senso...e gritar a plenos pulmões e cantar na chuva se possível, com a plena certeza de que com fé em Deus o homem vencerá essa batalha mais uma vez.