quinta-feira, 18 de outubro de 2018

A nova vida de Samuel Trevor







          Samuel Trevor sentiu a tontura de sempre, ao volver a cabeça para o sol essa manhã.  Enquanto recuperava o equilíbrio, murmurou uma oração de infância que o salvou outras vezes.

           Porém dessa vez a dor fora mais intensa o que o fez levar a mão  ao peito, enquanto a outra procurou apoio- será que chegou a minha hora, pensou contrafeito.
  Passaram pela sua mente num lapso, os filhos, os amigos e todas essas coisas saudosas, que nos vem em horas de aflição, quando de alguma forma a morte espreita.

           “Diabos, pensou, será que agora me vou sem despedidas sem nada, aqui distante de tudo, nesse local ermo onde me encontro”.

          Para sair do estresse, escolhera uma cidade do interior longe de tudo.
Arre! Sussurrou, afastando tais pensamentos. Muitas vezes ao longo da vida pensei na morte, mas uma coisa distante, que acontecia com os outros, não comigo, esse cara forte, pensava, insensível a dores e quaisquer outras coisas terrenas.

          Samuel não acreditava em nada, era por assim dizer um ateu. Muito raramente se deixava levar por alguma conversa religiosa e quando acontecia, parecia que ia se deixar levar, mas logo a ideia se esvaia no momento em que as pessoas se afastavam.

           O que acontecia era ele ser uma pessoa volúvel e assim o pensamento dava uma guinada ao contrário como uma pipa solta ao vento.

          Muitos o chamavam, aqueles, que o olhavam de viés, de “ateu de merda”, “incrédulo nojento”, e outras coisas mais. Porém ele dizia a seus botões que ninguém sabia ao certo “a verdade” e que as escrituras eram coisas inventadas pelos homens e qualquer um poderia ter escrito tais histórias, óbvio que com certeza fora um excelente escritor, por ser o livro mais lido do mundo, mas, o duro era vê as pessoas usando o enredo, dessa escrita ditas “sagradas”, loucamente, para se beneficiarem e enriquecerem de alguma forma. Isso o deixava louco.

          Diziam também dele que era filho de judeu, um degredado, um cigano herege e etc e etc.

          Contudo, ele, Samuel Trevor, tinha a certeza que na hora da morte tudo, como um passe de mágica se descortinaria, e o segredo seria revelado de uma maneira ou de outra acabando todas as dúvidas. Afinal dizia ele: “Ninguém voltara do alem para falar algo. Nos cemitérios reina o silencio”.

           Assim seguia vivendo dessa forma, para ele o que importava era respeitar as pessoas e ajudá-las quando precisassem. Em fim, tratá-las como irmãos.

          Havia participado de varias igrejas e até terreiros. Mas “infelizmente, em todas, havia encontrado erros e ilusões”. Dissera ele um dia.
 E quando chegavam para pescá-lo ele repelia com a frase, o chavão, com a voz alta e em bom som: “A religião é o ópio da humanidade”.
  

          As pessoas explicava que de certo ele não entendera a palavra e provavelmente se perdera de alguma forma. No fim diziam: É uma pena. Vais queimar no fogo do inferno. Ele sorria. E dizia que no  seu entendimento, o criador, deveria ter mostrado mais do que milagres. Gritavam que ele era igual Tomé. Ele contestava: Quem prova que ele atravessou mares, curou doente?  Não deixou provas irrefutáveis.  Segundo ele era preciso mais, não custava deixar uma grande marca numa montanha, crer somente nas convicções de outros para ele, eram provas fracas e banais.

           A natureza é bela sim, mas tão cruel que certamente não tem duvidas, o criou quis o caos, pois ao contrário, não teria criado o homem, os carnívoros, predadores, as catástrofes e afins.

          Sua crença era que fomos soltos pela terra como animais, com a única diferença de sermos racionais e termos o arbítrio das escolhas, de viver livre e bem em toda grandeza, mas, usávamos a inteligência para o mal. Deus, dizia ele, se existisse, teria mais o que fazer ao invés de ficar cuidando de meros humanos sórdidos e egoístas.

          E assim seguiu a vida, mas agora nesse momento de dor, tudo o que ele vivera, toda sua vida começou a passar vertiginosamente em detalhes, com curiosa lucidez e seus olhos castanhos claros via tudo aquilo com certa ironia num sorriso calmo de canto de boca e de lábios. Como ele gostara da vida, das mulheres, do mundo. Mas agora sozinho via que tudo que dera importância era nada perto das coisas que eram tudo.

          Com freqüência deslumbraram-se, com o brilho de emoções vulgares, afagos e gozos. Mas agora via nitidamente que o que tem valor não custa nada.

          Pegou a lembrar coisas quase esquecidas como o sorriso de uma criança, um abraço apertado, um carinho, um beijo na boca. Lembrou dos amores. Até pensou numa menina que tanto a fez sofrer e por isso escrevera um poema este premiado num festival, segundo os críticos “um poema cheio de versos vivos e ao mesmo tempo secos, de ironias cruéis”. Não entendera na época, pois estava cego pelos aplausos.
          Mas o verso tocou tão fundo o coração da menina que ao lê-lo naquelas horas mortas do dia, ela suicidou-se uma semana depois a pequena menina que ele tanto amou, e escrevera no final do poema:  “olhos claros e vulva da cor de cebola roxa”.

          Recordava com a respiração ofegante, as coisas impuras e impudicas, as roupas íntimas da menina, as transparências, aderidas à silhueta, a bunda, a vulva, seios, aquela manhã em que ela se foi precipitadamente sem um adeus...Sem um adeus...

          Nesse desespero notou a memória excepcional. Claro que isso tudo poderia ser um mero pesadelo.  Impossível está morrendo quando essas coisas passavam tão reais. Sentia o olfato tão grande como o dos lobos em caça. A pele eriçava-se.

          E se a vida tivesse sido outra?

           Outras escolhas?  A profissão, as viagens, as mulheres, os filhos os parentes, aderentes e mais e mais... Outras vidas se desenrolariam. Todas essas questões o confundiam.

          Se tivesse casado com a primeira?  E com a segunda? E com a décima?

          Se nas vezes que teve que decidir algo não tivesse sido por sua propensão a tomar resoluções  irracionais, e explosões imaturas. Se não tivesse sido tão tímido?  Se tivesse provado de tudo?

          Quem o criou com tal arbítrio para tais escolhas?  Que desígnio o havia feito de tal forma e defeitos? O que o levara a ter tais escolhas e o desejo de sempre procurar coisas novas?  A quem interessava essa busca infernal por toda sua vida? Essa curiosidade? Tantos amores? Toda ansiedade?

          Lembrou-se, de quando se tornou tão sonhador, tão emotivo e racional. –  quando criança teve uma grande queda para a leitura de romances e leu com afinco quase todos os poetas possíveis e impossíveis. Os livros proibidos. Todos os filósofos e  livros de auto- ajuda. Mas não lera tudo o que gostaria.

          Considerações a parte, sempre foi um sentimental incorrigível.

          De repente ouvira um ruído. O que seria nessa hora terrível, perguntou-se estupefato. Gente não era com certeza, pois quando fora comprar aquela propriedade escolheu a dedo nos classificados: A propaganda dizia: O mais bucólico, silencioso recanto para quem quer ficar longe do barulho da cidade e de tudo. Dizia o anuncio em letras garrafais.

          Será algum animal silvestre, pensou.  Lembrou-se do primeiro dia que estivera ali e aparecera , um lobo, uma raposa, até cobras e tejuguaçus.  Ninguém mais viria a essa hora da tarde, lamentou.

          O sol estava para se pôr.

          Virou-se a muito custo, graças a um grande esforço, já que a dor agora descia pelo braço e vislumbrou uma mulher branca e alta.

          Não era a mulher que contratara para lhe servir, pois ela vinha sempre no início do mês, e vestia com uma calça de malha apertada. Esta se vestia com um vestido preto que ia até a altura da panturrilha tatuada com uma foice. Uma  capa  transparente de  cor azul celeste,  leve e agradável , por cima do ombro  algo  que o fez empalidecer. Não viu seu rosto, pois estava em pé, de costas, mas perscrutou sobre o trapézio a penugem  dourada e asas  brancas que o cegou a luz do sol.

          De imediato e sobressaltado, gritou “um anjo alado!”. Inspirou profundamente o oxigênio bendito que entrou em seu pulmão mais calmo.  
“Quem poderia ser? Seria alucinação?”.

          A mulher se voltou, e Samuel Trevor viu que ela era linda, da cor de cera, a menina do poema, o anjo da morte – a própria morte da qual sempre temera a única certeza da vida. Com tristeza, tentou acostumar-se com a idéia da morte iminente e ainda assim, com todas as forças tentou lutar contra esse ardil, mas  sua força se esvaia.
           Logo, pensou, acabou-se a angústia da vida inteira.  Queria falar-lhe, porem estava mudo.


          A menina não pronunciava palavras. Seus olhos serenos, tinha  uma expressão na qual passava significados profundos, sem esconder   seu encanto e sua formosura. Assim Samuel Trevor ficou muito quieto, lutando com uma escura e admirável perplexidade.

          Afinal, conforme julgava, depois da passagem, teria todas as respostas, e assim foi sentindo-se mais frio os pensamentos dúbios e vagos e sentindo cada vez mais perto sua inexistência, os órgãos em falência  e foi percebendo tão quão era seu tamanho no universo, um mero grão de areia e sua visão fora cortada da luz e ele foi jogado num escuro profundo e sentira-se planando,leve, livre, sem dor, sem pecado, sem nada, e seus sentidos aumentara assustadoramente e veio uma enorme onda de claridade, uma luz difusa e ao mesmo tempo contínua como  uma infinita página em branco.

          Como o maior temor dos escritores. A terrível página em branco. A morte da criação.


          -Ei, pode-me dizer onde estou? Perguntou a alguém depois de tudo.

          -Onde? Onde? Não sei. Cheguei agora também.

          Uma mulher surgiu da neblina.
          Uma criança brincava ao lado. Disse:

          -Pelos meus cálculos, aqui é onde ficamos depois da passagem.

          -Que passagem?

          -A morte, claro! Essa é uma das inúmeras figuras de linguagem que inventamos para abrandar a morte, chama-se eufemismo. Algumas delas:  A passagem dessas para melhor, Abotoou o paletó, Dormiu o sono dos justos, vestiu pijama de madeira, comeu capim pela raiz, cumpriu sua missão, foi para a cidade dos pés juntos, virou presunto, esticou as canelas etc. Cada um desses eufemismos são criados dependendo do respeito pelo morto.-Veja com seus olhos esse abismo, tem muita vida aqui...


          -Vida! Mas acabei de morrer!

          - Ah! Não se preocupe! Nossa vida real é aqui. Temos tempo para aprender. Aqui o tempo  não passa.Aqui é nossa morada. Veja o que podemos fazer.

          O menino correu para o abismo e saltou de braços abertos.

          -Cuidado! A mulher gritou! O menino planou no abismo.

          -Nossa! Que bacana! Você flutua! Disse Samuel. Você é um super herói?

          - Que herói que nada! Isso é só o início. Tudo para mim é novidade aqui.

          -Posso também?

          -Claro! Você agora é um dos nossos!
          Samuel saltou.

          -Puxa vida! Que adrenalina!

          -Você não viu nada...-Está vendo aquela parede? Olha!
          E atravessou correndo.

          -Puxa vida! Então eu morri? Disse Samuel consternado.

          -Negativo. A mulher abanou a cabeça. - Você simplesmente voltou ao estado natural?

          -Mas, e o que somos?

          -Chama de espíritos! Somos imaterial.

          -E minha família, como fica?

          -Eles se viram! Quer vê-los?

          -Posso?

          -Claro! Só quando queremos! Mas nunca queremos. Para não saber das coisas...

          -Ah! Entendo.
          Mas eu quero ver...

          -Então se afaste do seu corpo.  Disse o menino. Isso. Não tenha medo. Não dói.

          -Certo! -E aquele ali, sou eu?

          -Sim. Quer dizer. Sua carcaça disse o menino rindo. Samuel rio também. A mulher também. Caíram os três na gargalhada. Depois Samuel ficou sério.

          -Mas estou sozinho! Se não me acharem vou apodrecer ali!

          -Logo acham bobo, não se preocupa, o cheiro, os urubus, alguém chamará a polícia para as  coisas de praxe. Avisarão a tua família, aos teus filhos...Tudo se resolve. Como dizem: Tem jeito para tudo, só não para a morte. E riram novamente.

          - Eu estou igual carro velho quando tiram o motor. Só a carcaça!

          -Isso mesmo! O que fica é só a carcaça.

           Olhou em volta. Continuou:

          -E eles vão sofrer...Meus filhos a família?

          -Sim! Depende das afinidades. Uns mais, outros menos. Mas você pode ajudar.

          -Como?

          -Vamos até lá. Fique ali. Sua mulher vai atender ao telefone. Vai ser um baque. Aproxime-se dela, vai. Abrace-a.

          Samuel chegou por trás da mulher. Ela sente um calafrio. Levanta-se para vestir algo mais quente. Ao passar pelo corredor vê Samuel  de terno sorrindo no retrato pendurado na parede. Parou um instante. Súbito sentiu a presença dele. O telefone tocou três vezes. Atendeu.

          -Sim! Sou a esposa dele! O que aconteceu?

          Do outro lado da linha uma voz calma dizia que o marido falecera, mas que estava tudo bem, tudo se resolveria...

          -Sim! Sim! Sentou-se. Eu estou calma! Obrigado. E desligou afirmando seus sentimentos.

          “Agora tenho que ser forte. Meu Deus tive  pressentimento desde que olhei o retrato dele na parede”.

          -Está vendo! Com sua ajuda espiritual ela aceitou mais tranqüila. Sempre podemos fazer isso. Através da energia da oração.

           -Precisamos ir agora! Disse a mulher.

          -Prá onde?

          -Prá fila!

          -Que fila?

          -A de nascimento!

          -Mas acabei de chegar!

          -Você que acha! Contando como contamos na terra já se foram séculos!

          -Mas por que só agora percebi?

          -Tem pessoas que demora mais...Estão muito agarradas entende?

          -Sim, entendo!

          -Mas é assim, temos que voltar outras vezes?

          -Claro como a luz do sol.

          -E você, qual o seu nome?

          -Amália! Fui sua esposa em outra vida!

          -Jura?

          -Está vendo esta cicatriz bem em cima de meu peito?

          -Um tiro?

          -Sim! Dado por você num dia de fúria!

          -Qual o motivo?

          -Ciúmes!

          -Puxa vida!

          -É minha redenção.

          Não falaram mais nada.

          Saíram voando.

          Chegaram ao topo de uma montanha. Nuvens em volta. Fazia frio.
           Uma luz intensa em volta.

          -Adiante-se filho! Disse uma voz.

          Ele adiantou-se.

          -Já escolheu seu destino?

          -Estou em dúvida, posso pensar um pouco?

          -Claro disse o ser na linguagem dos anjos. Todos tem o livre arbítrio.
Ele e a mulher saíram para um canto. Perguntou a mulher:

          -Você já escolheu?

          -Sim! Já pensei em todas as possibilidades!

          -Eu também! Já decidi! Não quero ir!

          -Mas isso é impossível! Temos que pagar nossos pecados...

          Foi assim que Samuel Trevor nasceu novamente. Primeiro era uma semente trazida no bico de um pequeno passarinho. O passarinho comeu a fruta e feliz cantava num galho e defecou a semente em terra boa e logo se transformou numa frondosa árvore. Mas tinha outras sementes. Era uma parasita chamada erva-de-passarinho que nasceu no tronco sendo hospedeiro, atingindo o sistema vascular e retirando a seiva de que precisa para nutrir-se.  

         Essa era a nova vida de Samuel Trevor.








terça-feira, 16 de outubro de 2018

Vem cá fé








                                                    Vem cá fé



          Num encontro de pastores dois conversavam em separado, a respeito de seus ministérios. Eles eram daqueles que a obra era menos importante que o dinheiro. Mas isso só Deus sabia, pois eles enganavam os justos muito bem.

          -Você sabe pastor Abílio que temos diariamente vários pepinos para resolver não é?

          -Claro Pastor Alfredo, o mesmo digo eu em meu salão.

          -Pois bem Disse Abílio, vou contar o último caso.

          -Que tens agora de bom, sorriu o Pastor Abílio.

          Ambos se aproximaram mais e a conversa correu solta.

          – Você conhece Arnaldo aquele cadeirante, que sonha em andar de novo?
          -Sim!

          -Pois bem, ele apareceu no meu salão e eu estava no início, tinha aberto a igreja aqueles dias...precisando de dinheiro, você sabe...aluguel, obras, essas coisas consome muito não é?


           Pastor Abílio não respondeu, apenas acenou com a cabeça.

          -E aí ele chegou com a história dele e eu impetuosamente  prometi que ele ia andar, bastando para isso colocar no nome da igreja a pequena casa que ele vivia. Veja que loucura!

          -Continua.

          - Ele topou na hora, sabe como são essas pessoas de fé...eu quase não acreditei! Mas era uma grande oportunidade de pagar todas as dívidas, entende?-Mas o que mais me chamou a atenção... os olhos pastor. Se encheram de lágrimas... o dele claro... e esperança! Brilharam.

          – Continua.

          – E ele vinha descrente de tudo, da ciência principalmente... e você sabe é nessa hora que temos a oportunidade...Quando ele me entregou a escritura da casa vi que ele tinha chorado... Mas o brilho no olhar permanecia. E isso tudo me alegrava pastor, a fé que ele tinha sua inocência... Precisava vê... E é aqui que nós aproveitamos.

          – Quanta frieza - disse o pastor Abílio. Deu uma risada. Segurou na barriga com as duas mãos, pois o riso causava-lhe  dores.

          -Melhor, continuou pastor Alfredo,eu fui dia a dia vendendo todas as coisa possíveis no salão: Água milagrosa  do Jordão, terra onde Jesus caminhou na palestina, areia do deserto, madeira da cruz e até veja só, um vidrinho vazio onde eu digo que tem dentro o ar que Ele respirou.

          -E a mulher dele o que diz disso tudo?

          -A mulher falou o que todos falam: Que melhor a saúde que o dinheiro! Que com saúde se pode trabalhar e recuperar tudo, já sem saúde fica difícil. Os olhos dela bem abertos, embora estivesse escuro para ver. No dia do descarrego eu falei que Deus estava olhando para eles naquele momento, que a energia era forte sobre eles, que a salvação no fim viria numa grande luz incandescente...

          -Mas você não tem nenhum temor a Deus?

          -Eu oro em silencio, Pastor, pedindo perdão... Mas eu disse-lhe, Deus devolverá teus movimentos, e agora tenha fé, ande até aqui...

          -Ele andou?

          -Tentou com todas as suas forças, mas quando soltou as mãos caiu por terras chorando.

          - E você, o que disse seu parvo?
          -Ora ora! Disse aos brados! Homem de pouca fé! E o levantei. Pedi para ele orar mais e que voltasse na semana seguinte.

          – E se Deus te castigar?

          -– Oro muito para Deus.  -Disse na ocasião à mulher:
“Vai e leva ele contigo. Fá-lo jejuar por sete dias. Fá-lo levantar cedo todo dia e tentar mexer os dedos. A fisioterapia ajuda bastante quando não se tem tanta fé eu disse por fim.

          -E a mulher concordou com tudo?

          -Cegamente pastor!

          -E ele curou-se?

          -Estamos na luta pastor, oramos bastante e ele teve avanço.

          -Que avanço ele teve?

          -Num outro dia ele fez sua declaração em frente ao povo de Deus! Que uma certa manhã ele acordou sentindo um leve formigamento no dedo médio do pé esquerdo. E todo o povo gritou: Aleluia! Aleluia! Glória a Deus!

           Ambos caíram na gargalhada.

          -Você não presta! Mas me diz aí pastor Abílio, como termina essa história?

         Eles se tornaram os melhores dizimistas da congregação.