sexta-feira, 7 de outubro de 2022

O serial killer

 





Eu já o estava seguindo há um bom tempo. Já conhecia todos os vícios e gostos. Todos os lugares que frequentava. 


Estava de campana  em frente ao motel desde a noite anterior. Queria pegá-los de jeito. Sem testemunhas. Um serviço bem feito. 


A mulher eu a conhecia há tempos. O homem pouco, mas o que sabia, bastava.


Quando saíram ele parou o carro em frente ao meu de maneira que eu estava cercado e debruçou na porta do meu carro. 


          -Que carro chifrim! Vejo que seu último livro não lhe trouxe o sucesso que buscava.

-Porque está me seguindo?

Senti seu hálito azedo de uisque barato. Passou a beber também. Disse:


          -Você não me esquece? Me deixa em paz!

Saiu da janela e ficou olhando para o céu de  nuvens esparsas. Acendeu um cigarro.

          

          -Mas como esquecer o principal motivo do meu fracasso, eu disse.


Ele sorriu,  pareceu mais uma careta. Puxou a porta e entrou. Não era culpa dele eu expliquei. Isso acontece com a maioria. Você cria coisas que depois arrepende. Foi assim com o criador da bomba atômica. Sempre vai ser assim. 


         -Você compreende né?Ele ficou calado. Olhou para mim. Como está parecido comigo. Os olhos castanhos, corpo rígido. O sentimento dele dar para compreender quando se está a beira da morte. E ele não era o primeiro nem seria o último. Já matei uma criança também. Faz tempo mas não esqueço. Uma criança cheia de sonhos. Era um menino saudável que gostava de jogar o pião. Ele começou bem, com uma coragem genoína, se mostrando, fazia poesias, desenhos nos rodapés dos livros, gostava de desenhar coqueiros, aves geralmente em dupla voando no firmamento. 

         Aí mostrei o livro " O apanhador no campo de centeio",Depois que ele leu, sem vê nem  quê começou uns desenhos esquesitos,  ficou reprimido, sem fala e tive que eliminá-lo.


Desde que comecei a matança já são mais de cinquenta.

          -Você não tem dó de ninguém?

Ele perguntou.


Cheguei a ficar com remorso. A mesma voz quando eu era jovem. 

Mas esse é  um dos erro dos novatos. Se mostrar demais.


         -Você é desumano - disse ele, - -Não! Não sou! Quase baqueei.

Ele me olhou dentro dos olhos.

No início estava tudo certo,

parecia que a coisa ia fluir do jeito que eu ansiava. 

Ele ficou em silêncio. 

Continuei:


Mas essa mania de querer andar com as próprias pernas. Parecia um sósia. Mesmo andar, mesmos pensamentos, mesmos anseios. 

Não suporto ser desnudado.

Uma lágrima caiu de seu rosto. Só tenho vinte e três anos, ele disse.

          -O que você tem para me oferecer? Eu repliquei.

O mesmo de mim, minha farsa, insegurança...

Ele sorriu agora mais confiante.


Felizmente todos que eu matei ninguém veio reclamar.

Você jamais era para ter saído com ela. 

Ele olhou para o carro onde a loira fumava um cigarro.

Não sei se você sabe mas demorei a tomar tal decisão, mas quando tomo não tem volta. Foi assim com os outros. É folha jogada no lixo.

O pior é que já sentia algo por eles, não sei dizer se era amor se era ódio ou as duas coisas juntas.

Tem gente que joga é toda uma vida fora, eu disse.

"Jogue tudo fora, quando eu morrer, disse Kafka ao seu secretário.

Felizmente ele não cumpriu a promessa."


Ele acendeu um cigarro. O nome dele é Roberto. Tenho problemas com nome. Acho tudo artificial.

          -Posso ir ali falar com ela? Ela eu ainda não denominei.

Travei a porta.

          -Não tem necessidade de despedidas. Vou mata-la também! 

          -Mas você disse que ela era sua musa, sua paixão!

Porra! Ele queria me desorientar.

Ele sabia  que sou um romântico inveterado, apaixono-me fácil, quando penso num personagem, antes de colocá-lo no papel, faço um desenho, uma maquete, durmo na mesma cama, quero saber do cheiro, do que gostam...


Eu saquei a pistola, calibre quarenta e cinco. Encostei em sua testa. Ele fechou os olhos contrito. Parecia que rezava. Ele era católico não praticante. 

          -Sabia que eu escrevi algumas coisas também?

Ele queria me emocionar. 

Já era tarde. 

Abriu os olhos em desespero.


          -Por quê? - gritou.

Ele amava a vida que eu inventei. Mas estava saindo do eixo. O que eu programei era algo totalmente diferente.Eu tinha perdido o controle. Escrevia os diálogos ele falava outros.


          -Eu só queria ser livre! Ter livre arbítrio. Tenha humanida... 

Não o deixei terminar a frase. Apertei o gatilho. Um tiro. Só. No meio da testa.

Soprei  a fumaça.

Ele caiu de lado, com a boca aberta. Faltavam quatro dentes.

 

Depois dessa eu aprendi que ao criar um personagem tem que leva-lo a eito, de cabresto e tudo, do meu  jeito, sem dar-lhe corda, no fio da navalha.


Já a loira do carro peguei simplesmente a página dela e joguei no lixo.

Isso tudo deu a catarse.


Iniciei imediatamente outra história.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Assim e assado

 



                       



                     Assim e assado




      Já fazia um tempão que eu vinha matutando o assunto. Aliás, foi desde que me entendo por gente. A cidade que eu nasci foi propícia para isso.

Era uma cidadezinha pacata, interiorana, as duas praças viviam lotadas principalmente de crianças jogando o pião, a bola ou a barra bandeira e os maiores rodando o coreto atrás de namoradas.

Isso tudo claro, aos olhos das mães que ficavam sentadas nas calçadas e dos pais a maioria pitando o cigarro de palha.


Lembro quando dei meu primeiro trago. Estava saindo do cinema, tinha passada um filme com Gregóry peck um bang bang dos bons e aí deu vontade de fumar igual ele. Do outro lado da rua, bem em frente da sorveteria,meu pai me  olhava . Rápido eu joguei a binga no chão e pisei com o sapato de bico fino. Quando cheguei em casa ele falou uma vez só: 

-Se eu te pego  com aquela porcaria de novo na boca eu faço você engolir a brasa!

Foi a primeira e última vez.


Isso tudo era motivo de contentamento. Mas o sino da torre da igreja era meu pesadelo. Naquela hora morta que o sol estava  à pino vinha as doze badaladas. Os sinos vieram da Holanda com os dois padres. Tocava nas datas festivas e nas mortes.

Quando ouvíamos um toque solene vinha a pergunta: Por quem os sinos dobram?

Foi o filho de fulano que morreu!

Foi o pai de sicrano! Diziam.

O toque de bronze tocou toda a minha infância.

O que eu mais via era o cortejo  lento com os homens suados de chapéu na mão e as mulheres se abanando com o leque e na frente  o morto carregado para o cemitério municipal ao som das badaladas.

As andorinhas aproveitavam o voo e sobre o cortejo despejavam uma saraivada de fezes.


                       ****


No meu aniversário de seis anos ganhei um relógio. "O ponteiro menor marca as horas o grande os minutos!" Disse minha mãe colocando no meu pulso. Diacho! Ficou folgado! Tem que tirar um elo disse minha mãe!

Meu pai providenciou na hora e assim saí todo orgulhoso pela cidade, esperando o primeiro me perguntar as horas.

Foi com esse relógio que marquei quatro minutos cravados debaixo d’água. Era uma aposta. Quase morri sem fôlego.

Gostávamos de ficar  no limiar entre a vida e a morte.


                     *****

 

Mudamos para a capital.

          Aqui fiquei mais escravo do tempo. Um despertador tocava todo dia as cinco horas, para eu pegar dois ônibus para a faculdade. 

Formei. Continuei escravo do tempo. Tudo era agendado. De Segunda a domingo, de janeiro a dezembro.


                    ######

Agora resolvi cortar o tempo pela raiz. A primeira coisa que fiz foi jogar todos os relógios fora. O da sala foi o primeiro. Um carrilhão de madeira escura. Depois os de pulso.

Sem relógio mudei drasticamente. Agora sou acordado pelo canto do galo, levantava-me ao canto dos bentevis, tomo o  café quando os canários descem  para catarem as pedrinhas e durmo com as galinhas.

Sobre o clima aprendi a observar os sinais: Uma brisa gelada, um vento constante, umas  nuvens pesadas, uma chuva de molhar bobo, um frio de enrijecer o costado do cachorro, um calor sufocante, um  céu de brigadeiro. Tudo diz algo. A natureza comunica o que vai fazer.

No inverno a chuva, no verão o calor no outono o vento, na primavera as flores.

Ano após ano sem começo nem fim.

E se por acaso perguntarem a minha idade eu respondo: depende do curioso.

E vou vivendo. Mais leve.

Afinal o que  vale é o que nos resta para viver. 

Como Mário Quintana bem disse:

"Se me fosse dado um dia,outra oportunidade, eu nem olhava o relógio."

Estou assim e assado.








sexta-feira, 24 de junho de 2022

O primeiro amor


 


                 O primeiro amor



A brisa da manhã forçou a janela soltando a taramela deixando-a aberta ao vento ou a deus dará e por ela entrou a vida: a paisagem avançou pela fresta, o sol esticou-se no lençol da cama e os pássaros cantou nos remansos.


 O menino levantou e lavou o rosto na fria tina, da água do pote da varanda, os da cozinha era para beber e cozinhar, dizia a mãe. 


O menino tirou as remelas dos olhos com o próprio xixi, 

receita das tias. Bater e valer.


Era o primeiro dia de escola

O coração aos pulos

Deu um capricho nos dentes

Sorriu duas vezes no espelho

Arrumou os cadernos no embornal ia contente

Lapinzeiras, borrachas e cadernos empilhados.

O livro o pequeno príncipe com a página marcada, com uma fita "lembrança de Nossa Senhora Aparecida" que a tia trouxe de São Paulo e por fim um pão com salame bem guardado no fundo da lancheira azul.


Logo ao chegar ao pátio

No final da fila uma menina

Com laço nos cabelos

Uma Catita, os olhos pousou na menina

Uma pequena 

Com olhos de ressaca

Que se encantou

Como uma flor

Que a partir dali

Foi musa de seus sonhos

E a  amou

Sofregamente

Silenciosamente

E levou,

Escrito no rodapé do caderno

Dentro de dois corações,

O dizer:

"Amor para sempre"


Um segredo prá toda a vida, guardado a sete chaves. 




 Poema para as crianças Ucranianas.


Foi numa tarde silenciosa

Que a bomba estourou...

Ensurdecedora.

E doeu os tímpanos

E doeu na alma

Levou a calma

Do povoado.


Em instantes o verde tornou-se cinza

O céu já não era anil

Era vil quando viu o menino


As paredes assustadas tremeram de pavor e caíram enfareladas como pão seco

As ruas vazias como uma boca sem dente

Ninguém corria de vê o vento balançar as rosas

Nem em vê a borboleta voar

Para lá e para cá

Essas coisas miúdas que nos faz feliz, agora eram tediosas

Caiu a tarde e as paredes das casas

Elas ficaram como feridas abertas mostrando as intimidades: via-se as cortinas vermelhas e azuis, as camas desfeitas e fumaças saindo das chaminés sem cheiro de comida, que pena! fedia isto sim, a pólvora e gás


A noite as estrelas caíram do céu e brilhavam nas poças pelo chão e no céu um gosto amargo na boca da noite gosto de fruta trevosa

Ah! Estou tão triste de vê minha cidade toda moída

Os prédios sem formas,

Amontoados de lixo

Os pássaros assustados não revoam mais

Só os pássaros metálicos defecando bombas sobre as pessoas, sujando as ruas

E eu senti-me  tão doído dessa vida...

Que não ouvia meu coração soluçar baixinho.

A pelada

             


          

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                             A pelada


Os meninos todos juntos e misturados no quintal. Colocaram as traves. Dois paralelepípedos  cerca de dois passos. Sem goleiro. Cada um gritava seu ídolo.

 

-Eu sou Pelé!


-Eu Mané Garrincha!


-Eu Zico!


No primeiro chute Pelé arrancou o tampo do dedão. Correu para colocar mercúrio cromo. Estava fora de combate.

Gols eram muitos. Sempre 6 a cinco. Um dia um ganhava outro perdia.

Hoje por azar acabou empatado. A bola furou num espinho de Xique Xique.

Depois todo mundo correu para tomar banho de rio.

Eh vida boa a de muleque.


               

A mariposa

                    


 A mariposa


Pela rua triste e escura e silenciosa

Vem uma mulher 

Segura de sua insegurança

No feitio de sua sombra 

Magrinha, uma penumbra




Quando pára debaixo do poste

E se vê iluminada pelas  luzes de neon as mesmas que 

Ludibriaram as mariposas.

As casas escoradas uma nas outras para não ruirem,


Ela espera o cliente chegar

Sem alarde olhando para o chão branco de mariposas caídas. Todas perderam as asas

Não voam mais em liberdade

Em direção a luz que a iludiu

E que a largartixa encheu o buxo

Com regalo

Ela vende o prazer

Que  ousa dar

Com seus braços delgados

Os seus olhos tristes

Que vêem o brilho das estrelas

Num céu longe, muito longe.


A mudança

                        


                       


 A mudança


De pensar morreu um burro. Dizem.

Mas quem um dia não pensou uma besteira do tipo: Como seria a vida de uma pedra se ela vivesse? "Pra mim no mínimo uma vida estranha!" Pensou Joaquim no instante em que num passe de mágica foi transformado numa pedra. 

Ele tomou um susto. Não é pouco.

O que é isso? Pensou. Sonho ou realidade?

Realidade está fora de cogitação embora janais

sentiu tanto peso nos ombros. 

Olhou de soslaio e viu seu dorso enrugado da cor cinza.

Era uma grande pedra encravada na mata, perto de sua casa. 

 Ia rotineiramente ali pelo meio dia fazer suas necessidades debaixo da goiabeira. 

Estava um dia bonito até o sabiá deu o ar de sua graça e veio cantar ali perto. 

Será má digestão? Tentou levantar-se mas era como mover uma montanha.

Tudo bem disse, Com certeza é um sonho e o melhor que eu tenho para fazer  será curtir da melhor maneira possível. Afinal ser uma pedra não será ruim de tudo. Afinal estaria livre dos problemas do dia a dia.

Pensou. Adeus as contas de  água, luz, telefone, prestação do carro, escola dos meninos, condomínio, etc e etc.

Assim ao invés de se sentir triste, estava até feliz com a sua sorte.

E quando tivera sonhos assim,  logo sacara a verdade aproveitando,isso sim, de toda extravagância possível. 

Saltou de prédios, nadou em águas profundas, se jogou em frente de carros, correu em meio de tiroteios, comprovando assim que era apenas uma farsa de sua mente doentia. Sim. Ele sempre achou que sua mente gostava de pregar- lhes peças.


Teve um sonho que para ele voar bastava agitar os braços vigorosamente.  Fez muito sucesso com as garotas. 


Olhou para o sol quase se pondo. Porra! Já faz umas seis horas que estou aqui. Adelaide deve está preocupada, coitada.


A brincadeira já está indo longe demais. E se for um sonho dentro de um sonho e o pesadelo for  que jamais acordarei?  Teve uma vez que precisou fazer um esforço sobrehumano para acordar e com medo buscou ajuda médica para saber se tinha catalepsia.

Qual parâmetro  usamos para medir a realidade?

No meu caso desconfio de tudo que ultrapassam a barreira das coisas plausíveis: penso lcom meus botões: isso não é real.

Porém, se pensarmos bem, toda a tecnologia que existe hoje não passaram de sonhos que tornaram realidade devido a pessoas que ousaram tornar seus sonhos em realidade?

Mas convenhamos, se transformar numa pedra é descabido por  demais. Não é todo dia que temos sonho assim.  

Fez um esforço enorme para se esticar na relva onde estava encravado e viu que não tinha membros.  Nada de anormal, afinal pedras não tem braços nem pernas. Sorriu consigo mesmo. 

Uma largartixa caminhou em seu dorso. O pequeno animal balançou a cabeça e ficou olhando em volta para achar algo para comer. Uma borboleta passou voando fora do alcance da largartixa e saiu sacolejando as asas amarelas. Um mosquito voou perto e o pegou com um só golpe de  língua. Mastigou devagar e engoliu remexendo os  olhinhos pretos. 

Estava observando o bichinho quando o ronco de motores e dois homens falando o fizera fugir para debaixo da pedra .

      -Patrão, fim da linha! Tem uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tem uma pedra. Já ouvi isso em algum lugar ele tentou lembrar.

Mas, e minha consciência... Eu perdi e agora tenho a da pedra?

Ou...


-Ou dinamitamos essa pedra ou a estrada dá uma pequena volta e segue adiante.

Joaquim ficou mudo de espanto. Sabia como era feito a coisa. Enfiam brocas enormes e fazem furos e  colocam dinamite dentro delas e as explodem em pedacinhos. A dor deve ser horrível ele pensou.


-Damos a volta, gritou o patrão!Não temos tempo a perder.

Ele se sentiu aliviado.

Tempo! Tempo pensou Joaquim. Quanto tempo durará uma pedra? A eternidade?

Os homens há muito que tentam serem eternos. Desde os  faraós. Nessa saga construíram pirâmides, sarcófagos se mumificaram buscando a eternidade. O que buscam os escritores se não o reconhecimento e a eternidade! Verdade seja dita. Quando ele Joaquim e Adelaide escreveram há vinte anos no tronco de uma árvore, dentro de um coração a palavra "eternamente" não estavam querendo justo isso? A eternidade do amor. Do seu amor?

O retrato de Dorian Gray não é sobre isso? A imortalidade.

Fez-se silêncio.


E eu consegui isso assim de uma forma tão inusitada.

Sorrio de si mesmo. 


Acontece que com o seu sumiço as autoridades locais procuraram por meses até um dia que abandonaram as buscas. 

Adelaide demorou a acostumar-se. Passava ali, todos os dias olhando em volta da pedra e depois seguia o caminho cabisbaixa.

Ele tentou várias vezes chamá-la  de alguma forma sem resultado.  Afinal as pedras não falam e isso o deixava bastante desolado. As pedras ecoam.


Nesse ínterim a estrada foi asfaltada e agora pertencia  a uma grande malha rodoviária. Por ali passou muita gente que ele conhecia. 

Adelaide mudou- se para a capital desiludida de seu abandono. 

Por aquela estrada passaram os filhos, os netos , bisnetos, tataranetos...toda uma geração e várias outras.

E ele ali incólume, as leis dos homens e dos deuses. 


Com o passar dos séculos  ele foi se tornando por assim dizer, insensível, agregando rochas sedimentares em sua crosta, trazidos pelos vento que ora batia frio ora batia quente, forte ou ameno pelas chuvas finas, torrenciais.


Um certo dia apareceu um cara barbudo com uns aparelhos e vaticinou: Essa Rocha deve ter mais ou menos milhões de anos. 

Meu Deus! Ele exclamou.

Chega! Agora vou acordar como fiz das outras vezes.

Forçou levantar-se. Nada. Tentou de todas as formas possíveis. Nada.

Aí pensou mortificado de medo:

E se não for sonho e  sim minha terrível realidade de vida em outros corpos.  

Já leu em algum lugar que o ser humano para avançar em sua jornada em direção a luz, terá que  passar pelas três fazes: mineral, vegetal e animal.

Pobre homem que nasceu com o pecado.

                          ···


Há muito que aceitou e tenta compreender sua triste verdade.


"Como somos insignificantes!" Pensou Joaquim já bastante acostumado com a vida de pedra. 

Todas as suas reminiscências ficaram num passado remoto.


Chegou o tempo em que já não pensava em mais nada, não via mais nada, não escutava nada. 

Tudo era escuridão. 

Era finalmente uma pedra.