sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Todos pela educação

Quando o galo cantou a primeira vez, eles já estavam longe na estrada. Já havia descido o morro do biscoito e agora vinha em fila indiana caminhando para o centro. Acordaram cedo, o homem a mulher e os filhos. Gabriela de seis anos levava consigo uma boneca despenteada, pendurada pelos pés; Letícia de três anos roia um biscoito de polvilho, Fabrício de dois anos, de vez em quando choramingava querendo colo.

Ele (O homem) servente dos bons, já ajudara a construir vários prédios naquelas redondezas, se orgulhava disso, inclusive a escola para onde eles estão indo. Nunca deixou faltar massa isso não. Era sua fama. A mulher catava papelão para ajudar na renda da família.

Desde a última segunda feira que faziam este trajeto, montaram acampamento em frente à escola municipal “Educação para todos”, em busca de uma vaga para os filhos. Têm que dar valor ao estudo, isto tem.
O cartaz na parede dizia que o processo de inscrição começaria dia onze de janeiro, mas estavam ali na fila há três dias, mineiro não perde o trem, uai! Alguns com cadeiras, colchonetes, barracas, guardas chuvas (para se protegerem do sol que estava de lascar) e até pedras como acentos. O sol fritava até ovo no asfalto.

A chuva que caíra dias antes não fora suficiente para amedrontá-los. Houve filante(Palavra nova que significa quem vive em fila), que teve que dormir em pé, pois ficava no final da ladeira e a enchente chegava já , a altura dos joelhos. E as autoridades locais depois de reuniões, acharam por bem prover a remoção desses, deixando nos lugares marcas, para que não perdessem a vez, pois se continuassem ali, ficariam totalmente submersos.

Trabalham o ano inteiro de sol a sol, como verdadeiros cidadãos que são. Isto eu sei. Agora, espalhados pelos passeios, uns sentados outros deitados, olhando da visão dos políticos, quando passam ali de carro, parecem menores e mais tristes. Nem votos são.

A maioria dorme no local e pela manhã são rendidos como fazem as sentinelas, revezando-se entre parentes e amigos. E todos mesmos cansados de tão longa vigília, mantem o bom humor como é próprio dos brasileiros e gozam da própria dor. A mais nova anedota era contada pelo ultimo da fila.

-Dizem que a Dilma Rousseff pegou gripe suína e está se tratando com Tamiflu. Todos em uníssono:
–Oh!
-Mas se ela for eleita presidenta, haverá somente um tratamento para nós!
Todos:
-Qual? Qual?
- “Tamos fu”.
E todos sem distinção, caíram na gargalhada, esquecendo-se por instante, da própria dor.

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