terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Do lar


Foto retirada do site  https://br.123rf.com/photo_12488692_casal-se-beijando.html?fromid=Rk9NNVppOXZ2aXF0QVBTSGRqNFVaQT09



                                                                   Do Lar

         Casados há pouco, eram como dois pombinhos. Viviam se beijando pela casa. Já tinham experimentados todos os cantos para o amor. Muitas vezes pegávamos suspirando “o amor é lindo”. E assim se passou longos anos.

          De resto que Marina agora mãe de gêmeos, achou por bem arrumar uma empregada, tinha muito trabalho, estava fazendo a faculdade uma pessoa  para ajudá-la nos afazeres. 

        O marido era empresário no ramo de exportação e passava quase o dia todo fora. Ele prontamente aprovou, seria também uma companhia. Ele disse. As amigas é que não. Disseram: 

          -Outra Mulher em casa! Menina! Lá em casa não. Nem morta!
A outra:

          - Ainda por cima tão linda! Vejo falar tantas coisas, tem muito homem aí com filhos fora que a trouxa da mulher só sabe no velório. Como dizia meu pai, o porco e homem só se conhece depois de morto.Comigo não jacaré!

          Marina não deu ouvidos, afinal confiava em seu marido. E dele tinha sempre ouvido coisas boas do tipo, um homem elegante respeitador e de família.

          Assim se passaram os anos. Os filhos formaram e na formatura estava lá, a babá que os criara. Recebeu de gratidão buquê de flores e menção no convite.
Era um convite preto, de veludo, com letras desenhadas em dourado muito bonito por sinal, devem ter gastado uma grana. Dizia na folha interna:

“Agradeço aos meus pais Marina e Sérgio, pelo apoio e dedicação,
 “Aos amigos por nos aguentarem esse tempo todo sem reclamar,
“Aos avós tão fofos,
As namoradas,
“E principalmente a Patrícia, nossa segunda mãe, esse anjo que caiu do céu em nossa família, obrigado por toda amor, dedicação e paciência”.

          Marina sorriu no dia, vendo os gêmeos dançando a valsa com Patrícia.As namoradas enciumadas.

          Marina, num vestido longo da cor azul, enfeitada de pedras, deixava partes dos seios a mostra, sem lascívia, somente parte física  formosa que os gêmeos mamaram até os três anos. Pareciam dois bezerros, ela dizia  rindo, com os dentes branquinhos e o lábio rosado. A festa estava linda ela falava e seus olhos brilhavam. As amigas estavam iradas. Uma chutava a canela das outras. Apontavam com acenos.
No outro dia não falavam outra coisa.

          -Como pode tanto “topete”!    Tomando o lugar da mãe na hora mais sublime e orgulho, que é a hora da valsa.
Marina dava gargalhada.
          -O que é que têm meninas, eles a adoram! E ela é uma querida!
          -E você não tem ciúmes?
          -Mas de que? Ainda mais que sou péssima partner. Piso sempre no pé de quem eu danço.

          Diferente de Sérgio. Ele sentiu um baque. Não demonstrou. Na hora até aplaudiu demoradamente. Foi até exagerado. Continuou sozinho depois que os outros pararam. Tinha tomado uísque a mais. Depois da valsa, ele saiu do salão para fumar um cigarro, eu o observei bem,  os ombros um pouco caídos. Debruçou-se no parapeito e ficou olhando as roseiras. A menção do seu nome foi mínima, ele que morria de trabalhar ficando até tarde no escritório, para dar-lhes todo o luxo, carros, faculdade particular, e quem ganhara os elogios, os holofotes, merecido claro, mas ele merecia mais.
Assim decidiu que a partir daquele dia, iria dedicar mais tempo à família, e naquela mesma segunda- feira fechou mais cedo o escritório de importação e exportação e veio com seu carro pela avenida, sentindo-se mais leve, a brisa do ar estava gelada, choveu, as luzes da cidade refletiam as cores vivas nas poças do asfalto repetindo cenas de filmes. Estacionou na garagem. A luz do quarto estava acesa. “Será uma surpresa e tanto para Marina!  Ela vive me cobrando, que eu trabalhos demais, que isso e aquilo...
Subiu os últimos degraus assoviando a música tocada em seu casamento.  “Can I Have This Dance”. Lembrava bem.Marina estava linda de branco. Foi à maior festa dos últimos tempos.

          Empurrou levemente a porta. Só as luzes do abajur. Um vinho aberto pela metade, duas taças.
         Na cama um casal inusitado:

          Marina e patrícia beijavam-se loucamente. Ele nem sequer foi notado.

          Fecha a porta.

          Entra no escritório e dá um tiro na cabeça.

          Isso foi tudo.






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