sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Liberdade







                                   Liberdade


          
            Hoje dia 22 do ano...  Iniciei a grande viagem da minha vida. Assim icei a vela e puxei a âncora. O oceano estava cálido. O sol era de dezembro. Gaivotas voavam em pares. Ouve questões do tipo:
           - Estais louco! Deixar tudo para trás?

           A essa indagação exclamei:

           -Por acaso não sou dono da minha vida!

                Assim singrei mares. Aprendi anos após anos que o vento sopra nos empurrando furiosamente, mas quem dirige o barco na direção que queremos somos nós.

          Quando estamos no mesmo sentido do vento é fácil. Tudo ajuda. É questão de segurar o leme. Difícil é navegar contra. Aqui temos que buscar as forças e usá-las em nosso proveito.  “Cambar”, ziguezagueando em uma série de movimentos curtos e angulares. Se o vento ruge pela esquerda camba para bombordo; se pela direita camba para boroeste.

          Para alcançar as maiores velocidades temos que ir ajustando as velas.

          Ao mudar o rumo, a vela oscila na transversal, panejando por um momento ao ficar de face para o vento. O barco diminui a velocidade  na zona morta, até ser de novo colhido pelo vento, no lado oposto.

          Muitas noites escuras eu segurei forte o timão para não perder o rumo. Mesmo parecendo  que a tempestade ia me afundar. Mas todas as manhãs depois das tempestades o mar fica liso,  limpo e lindo. Dá para vê as estrelas. 

          A proa com o tempo vai gastando, as mãos enchem de calos, os olhos fixos no horizonte vão ganhando rugas, mas os olhos não se cansam das belezas.  Quando aparecem problemas jogo para a popa e ficam submersos servindo de leme, experiências vividas. Mantenho a quilha bem contrabalanceada. Em qualquer situação a vela mestra esta desfraldada. Vou devagar. Mantendo a velocidade em dez nós. Vou seguindo a luz dos faróis. Ou das estrelas.

          Aonde vou atracando as pessoas passam as mãos pelo rosto como se acordasse de um sonho.  Uma noite dessas num longínquo cais, fui abordado por três homens uniformizados.

          -É você o homem que anda nesses mares, atravessando limites, insuflando os povos nessa  orgia de liberdade?

          Não soube o que dizer. Fiquei mudo. O que eu fazia era somente viver. Como qualquer ser vivente nessa terra.

          -Tem que nos seguir disseram friamente.

          -Que crime cometi?

           Não responderam. Eram estranhos. Ombros caídos, cansados.

          Trancaram-me numa masmorra. Agora passo o dia planejando minha fuga. Um livro que li recentemente diz no final de um conto:

          -Que povo é este? Pensa também, ou apenas se arrasta sem sentido pela terra?

                                           ***

Obs. Encontrei esse escrito, dentro de uma garrafa.

Marinaldo L Batista
01 de fevereiro de 2019




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