quarta-feira, 19 de maio de 2010

Nem só de amor...


Uma ratinha, por incrível que pareça, amava uma serpente. Acreditem! Há na natureza essas coisas inexplicáveis. Um porco que mama numa vaca, um cachorro vive pertinho de um gato. Exemplos não faltam.

Por sorte que souberam que Jesus amou a Judas. Que o povo preferiu Barrabás e que aquele dia sombrio, Nero lavou as mãos. É o que faço agora na vossa presença sem escrúpulo nenhum, naquela de que vamos ver o que acontece.

E foi isso. Diariamente a ratinha em cima do muro, note bem, via seu amor deslizar calmamente entre a grama do quintal, soberba. Oh! Serpente, bicho peçonhento, se ama, qual a natureza de teu veneno. Fora culpada em desencaminhar no paraíso. Era assim que a ratinha a via.

De tanto se encontrar aconteceu a paixão, e da paixão para o amor foi um pulo. Desesperada ficava a pensar, por que Deus na sua onipotência não a presenteava com o amor entre outras espécies.

-Senhora cobra, tenho muita curiosidade em conhecê-la, mesmo sabendo que em séculos sou de longe a preferências em suas presas.

-Oh! Ratinha. Peço-te perdão pelos meus. Desce daí e vem para a relva conversarmos melhor.

-Minha cara! Sou tímida, mas te confesso sem pudor. Amo-te loucamente, como Romeu amou Julieta, desde o primeiro dia que te vi.

-Eu de minha parte já a amo também. Vem mais perto, pois o amor é carente de afeto e de toques. Quero sentir teus pelos macios, teu pequeno coração bater perto do meu.

Desceu um pouco desconfiada e quase se sentiu desfalecer, como que hipnotizada.
-Oh! Que pele sedosa. Tuas escamas são lisas.

Nisso a serpente deu o bote. Em segundos o veneno iniciou a paralisia. A ratinha se enrubesce.

-O que é isso? Dou-te afeto tu me picas! Por que fazes isso? Não me amas como eu?

-Eu te amo bem sei, mas meu instinto... Meu instinto! Oh!

E foi engolindo devagar, degustando a presa.

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