quarta-feira, 19 de maio de 2010

O caminho



Um menino, os seus sonhos, era diferente de todos. Queria ser escritor. Então os pais contrataram os melhores professores, que deram pilhas e pilhas de livros para ele ler. Primeiro os clássicos de todas as escolas, e épocas. O menino descobriu que se lesse um livro por dia teria que viver quatrocentos anos.

Então pediu o menino: “Resumam essa lista”. E os professores de imediato o fizeram. O menino calculou que desta maneira teria que viver ainda até os trezentos anos. E rira de si mesmo. Não era nenhuma tartaruga para viver assim, tanto.

“Diminuam mais pediu. Senão passarei minha vida estudando e não sobrará nenhum dia para o grande ofício.”

E assim fora feito. A lista diminuíra drasticamente. Mas o menino já era homem. Lia desesperadamente contra o relógio.

Um professor dera a idéia de ler poucos livros, mas esmiuçando, descarnando, desossando. Sabia de cor todas as passagens, as cenas os cenários as reflexões.
E isso fora feito. Lento, gradual, suando em gotas, deslumbrado. Parecia estar pronto.

No grande dia, a página branca. Branca e branca. Quando escrevia, parecia outro, era como tivesse encarnado em seus ídolos.

Recorreu a um velho escritor. Ele dissera. “Escreva, escreva e escreva. Hoje mudo, às vezes com vozes de outros, vá em frente sem medo, escolhendo as palavras. Um dia, para seu espanto, descobrirás tua voz.”

Depois da voz, escreva, leia e escreva. Depois corte, corte e corte. Leia e escreva.

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