sábado, 8 de setembro de 2018

O simulacro







                                                                 O simulacro

Não sei quem inventou o trabalho. Com certeza um filho de uma ronca e fuça, só pode. Porque eu, nos meus vinte anos completados domingo passados, em vez de ir me divertir, tipo pescar, caçar e depois, comer até encher o bucho e dormir, tenho que ralar, tenho que levantar cedo, tenho que  defender meu sustento, meus vícios? O caralho! O caralho!
O que eu gosto muito é pegar umas minas e foder. Isso é o bicho,eu gosto por demais. Essa é a maior diversão.
O resto foi invenção desses capitalistas selvagens, esses gringos filhos de uma puta, os europeu, eu li em algum lugar, eles mesmos não gostavam de trabalhar, eles foram escravocratas, e só deixaram livres quando precisavam  vender suas bugigangas e ganhar dinheiro só pensam em expandir, colonizar , essas porras todas, por isso que inventaram produtos dos mais diversos só para os bestalhões crescerem os olhos e desejar. Os preços são exorbitantes e o camarada tem que trabalhar como uma mula, a vida toda, até a morte, no intuito promíscuo de possuí-los.
Comigo não cola.
Não uso esses produtos.

Fico puto quando vejo aquelas propagandas de refrigerantes,  de cigarros de tênis, de celular, de computadores,etc e etc.. É somente para enganar.
Sabia que os americanos, principalmente os americanos querem tomar conta de tudo e de todos e usam a democracia para fazer guerras. Eles são belicosos. Muito. Fabricam bombas e mais bombas. Tem a atômica a de nêutrons, e o escambau. Já usaram contra o Japão. Uns bastardos é que são. No Vietnã. E tem muito corno que os aplaudem. Eu quero é que eles se fodam.  Fodam-se capitalistas. Trouxas, tem muitos trouxas, por aí nesse hemisfério. O cigarro que eu fumo é natural.  Só de rolo. Cigarro de papel não. Faço por aqui mesmo enrolado numa palha. O sabor é indescritível. Refrigerante eu não tomo. Prefiro o caldo da cana caiana. O cigarro dá câncer. O refrigerante diabetes.
Mas e que demora é essa? Estou nessa campana a exatos noventa minutos.

Da esquina Everaldo viu Adelaide apagar a luz. Minto. Ele viu a luz apagar-se e imaginou o que ela estava fazendo. Agora ela iria colocar comida para o gato, tomar banho e depois trocar de roupa.
 Acendeu um rolão. Há meia hora tinha começado a enrolá-lo. Primeiro picou o fumo na palma da mão. Depois o juntou com os dedos desfiando um a um meticulosamente. Escolheu a palha.  Usou a saliva para lacrar a ponta.  Tombou a cabeça fechando um dos olhos, deu um  longo trago e soprou  apagando o fósforo.
Da janela de onde estava vi a luz do fósforo apagar-se e toda sua ansiedade. A rua estava tranquila.
Fechou a janela e saiu.
Ela agora deve está saindo exalando aquele cheiro característico de puta. Todos os movimentos de Adelaide  cronometrei, desde que ela fora contratada pela mãe para ajudar a cuidar do seu pai.
Velho rabugento da porra é meu avô, custou a me emprestar essa lata velha. Veja. É da época do toca fita. Esse opala é de mil novecentos e sessenta e oito. Bem conservado.
Depois do derrame ele ficou pior ainda. Ele é um desses canalhas que trabalharam a vida toda, sendo escravizado pelos patrões que pagavam uma merda de salário.  Hoje parecia mais um vegetal recebendo uma merreca de pensão enquanto os patrões  vivem viajando, comendo caviar e as melhores mulheres, as putas que desfilam na sociedade, usam perfume francês, tem as  bucetas raspadas, e no entanto  gemem mesmo sem prazer.
  Os médicos na época foram categóricos: Andar jamais, agora com fisioterapia teria uma vida regular. Assim falou a médica de plantão, outra canalha, os olhos inchados de trabalhar, ela disse, segurando no ombro do velho, para demonstrar empatia, um sorrisinho maroto, não me engana, disse ela,  “seu Joaquim a vida é muito boa, o senhor teve sorte, a precisão do atendimento deixou poucas sequelas.  Sorte! Sorte! Dele. Azar o meu. O velho morrendo eu teria direito a parte que me tocava. Uma terrinha e uma casa no interior. Uma merreca mas, melhor que nada.
 Sorte de pobre, só se for.  O velho muitas vezes, não foram poucas, acordava gritando e  contava  entre lágrimas que sonhara correndo pela praia. Nunca mais. Essa porra é assim mesmo. Não damos valor quando temos tudo no lugar as pernas os braços a cabeça.  
Deve ser por isso que Adelaide sentiu pena e  leva agora  o velho todos os domingos para passear no calçadão. Dizia sorrindo:
- Vamos seu Joaquim... Vamos dá um passeio na praia para refrescar as idéias.
A primeira vez foi como dizem, foi um pé no saco. Ela me empurrou até a areia. Eu estava envergonhado com a minha situação. Mas ela tinha jeito. Era carinhosa. De volta quando me deu o primeiro banho eu senti a mão macia em minhas partes. Ela dizia que era acostumada. Enquanto contava as suas histórias lavava minha bunda, meu rego, meus sacos. Depois ela colocava talco nas dobras para não assar sua pele, ela dizia. Assim com o tempo eu fui ganhando intimidade. Fui ficando mais bem humorado, e agora já não me considerava um inválido.
Olha ela apagou a luz e vinha silenciosa pelo corredor. Meu coração fcava contrito e em disparada, eu parecia um menino, um jovem.

 O velho essa hora gargalhava. Tinha poucos dentes, o pobre.  Se fosse um escravo, agora não valia nada, nenhuma pataca. Um na frente, além disso, cariado. E para o azar dele toda semana doía. Não escolhia dia.
Ela agora deve está se trocando.  Tirou o vestido.   Vai olhar-se no espelho detalhadamente, de um lado e do outro, e vai sorrir para si mesmo. Ela sabia ser gostosa. Vem pro papai vem!
Quando o velho teve o derrame minha mãe tomou um baque. O mesmo ou maior do que quando soube que meu pai tombara na rua aqui perto de casa com um balaço.  Depois que a polícia prendeu os meliantes soubemos como foi. Eram dois menores. Um deles batia pelada comigo. Das duas uma. Matou meu pai ou para manter o vício ou para comprar esses produtos que já falei.
Depois que ele foi solto me pediu desculpa, disse que foi um acidente de percurso, disse que meu pai tentou tomar a arma dele, disse que não queria matar, disse que meu pai era “bocudo”. Eu deixei para lá. Meu pai era sim um sujeito ignorante. Batia na minha mãe e em mim. Mesmo ele sendo assim, ela andou  uns meses inconsoláveis, mas com o passar do tempo  foi se acostumando. Agora ia ao shopping com as amigas viúvas, deixando para Adelaide o serviço sujo. Dá banho no velho, limpar sua bunda e alimentá-lo nas refeições diárias. As amigas até diziam a boca miúda, que a senhora Maria do perpétuo Socorro minha mãe tinha até remoçado.
Um dia eu a ouvi dizer a boca miúda, que meu pai era um miserável de marca maior, ignorante e sovina. Aí pensei, como pode uma pessoa odiar tanto a outra e mesmo assim fazer sexo com ela. Mas o problema é deles. Ela tem suas razões. Eu tenho as minhas. Foda-se.
No dia que Adelaide chegou, o velho deu uma diarréia tão braba que pensei que Adelaide não ia voltar mais.  Errei o prognóstico. Falou que estava acostumada, e que o velho a partir dali seria seu bebê. Ela dissera rindo:
-Seu Joaquim, a partir de hoje o senhor é meu bebê! O velho sorriu encabulado.

Tem que ser hoje, esse era o pensamento de Everaldo quando pegou a chave do carro do “velho”. Planejara tim-tim por tim-tim. Adelaide saia às dez horas em ponto, depois de trocar a roupa e já devia estar passando  aqui para o ponto de ônibus.
 Deve ter havido algo. O velho pode ter se sujado todo novamente. Velhos constantemente borram-se nas calças. Só pode ser isso. Meia hora de atraso.  Se foi só isso ela agora deve está indo para o banheiro, vai ficar só de calcinha e mirar-se ao espelho, vício das mulheres, e depois colocará sua roupa, aquela calça jeans comprada no Brás, mas que lhe deixava um” pitéu”.  Agora  passará pelo corredor dando tchau a minha mãe, entretida vendo  a novela das dez. O velho estará lendo o jornal e apenas resmungará um boa noite baixo. Ela pegará o cinzeiro cheio de bingas fedorentas, dirá seu Joaquim, meu bebê, você tem que parar esse vício, ajeitará o travesseiro do velho na cabeça, jogará as bingas no lixo e sairá para a rua.
Porra, só em pensar meu pau está ficando duro. Vai ser aqui no carro mesmo. Ele é espaçoso. O banco de trás é inteiriço.
Dias duros passamos. Lembro que quando o velho chegou, ao quarto vindo da cirurgia, minha mãe deitou- se com ele na cama, acariciou o seu rosto, sentindo a barba para fazer.  Ficou junto com ele olhando o teto muito tempo em silencio. Naquele dia ela não conseguiu dormir. Nem ele. Nem eu.  Eles dois ficaram quieto, os olhos abertos, eu escutava minha respiração e até o tic tac do relógio da sala.
Naquela noite o velho deve ter tido a consciência de tudo e começou a gritar, a tremer,  e com os braços inarticulados sem controle a enfermeira achou melhor amarrar-lhe  a cama para segundo ela, não machucar- se  a si mesmo. O que fez minha mãe questionar, Meu Deus ele vai ficar amarrado assim? Até ele se acalmar dissera a enfermeira.
Igual bicho raivoso. É foda.
Eu não tinha costume de ter pena dele não, mas esse dia, aliás, essa noite eu senti. Senti pena de mim também, da minha mão e chorei. Vida que segue.
Depois a enfermeira o colocou numa posição confortável.  Então ele estendeu o corpo, e dormiu a base do tranquilizante.  Teve uma hora que mamãe pensou que ele havia morrido. Parou de respirar. Mas alguns segundos depois ele emitiu um suspiro. Ela ficou ali por horas, vendo o movimento de sobe e desce de seu tórax. Às vezes ele sorria. Deve está sonhando coisas felizes minha mãe disse. Coitado.  Depois, acordou chutando as grades e forçando as amarras.
E assim dois dias depois recebeu alta e teríamos que arrumar uma cuidadora e aí entrou  Adelaide na história. Veja como são as coisas. Tudo parece está escrito num enredos e  as jornadas se iniciam, cabe somente colocarmos os personagens nos seus devidos lugares e nominá-los um a um, sem dó nem piedade. Essa é a vida.
Uma semana depois que ela chegou tudo corria diferente. Após o banho, ele ficava de bom humor e ia tomar o sol da manha na varanda. Ela ligava o rádio no jornal que ele gostava. Ele até voltou a fazer poesias.
Mamãe já não se preocupava tanto com ele.  Adelaide tinha trazido a paz aquela casa novamente. As noites de angústias finalmente acabaram  e o velho  dormia bem todos os dias e até roncava alto. 
Hoje de manhã minha mãe levantou-se, fez um café forte, e o tomou em goles fartos saboreando-o lentamente.
Esses passos de veludo sei de quem são. Está vindo do quarto. Será? Não acredito! Sei que meu pai nunca foi flor que se cheire, já traiu minha mãe muitas vezes.
 A casa estava diferente.  
Antes vazia e triste.
Quando Adelaide entrava, o sol vinha com ela.
 E nossa vida passou a isso: Papai lutava pela vida, mamãe nos shopping e eu doido para comer comê-la. Até sonhei um dia desses. Amanheci todo melado.
Assim estou ansioso  nessa esquina  para o bote final.
 Liguei o som. Tocou o início da música e depois a voz foi afinando e aumentando a rotação. Puta que pariu! O toca fita engoliu a fita. Tirei cuidadosamente e enrolei com uma caneta. Joguei no porta luvas. Fiquei olhando um tempo a palma da minha mão.
Quando dei por mim tinha passado uma hora  e nada de Adelaide. Aí deixei o carro  ali mesmo e fui caminhando.  Um gato atravessou correndo e saltou o muro.  Será que o velho passou mal e minha mãe pediu para ela  dormir no serviço? Já acontecera outras vezes.
Alem do derrame, meu avô tem asma.  Lembro o dia que Adelaide dormiu a primeira vez no serviço.  Eu fui à ponta do pé vê como ela dormia. Só por curiosidade. Ela estava deitada de bruços, a camisola um pouco levantada deixava vê as coxas grossas e cheia de pelos. Ela mexeu-se indicando que estava acordada. Eu sentei na beira da cama e peguei no pé dela. Ela recuou, cheia de cócegas. Ao fazer isso abriu um pouco mais as pernas. Eu falei baixinho. Se eu fizer assim e passei a mão devagar  corri a mão por sobre a coberta e a apalpei. Ela ficou calada. Não disse sim nem não. Só suspirou. Tateei toda sua perna desde o calcanhar, passei pela panturrilha e até chegar entre as pernas ela balançava-se cheia de cócegas . Até eu chegar na vagina foi um arrodeio só. Mas tava  como dizem, totalmente úmida.  Enfiei o dedo. Entrou tudo. Nesse momento o velho deu uma crise de tosse. Eu corri para o corredor. Ficou nisso. Depois da crise do velho passar, Adelaide fechou a porta com a tranca. Eu fui para o banheiro e bati uma punheta oferecida para ela. O jato sujou os azulejos. Deixei ali para ela limpar. Ela limpa o velho, melhor limpar isso também, pensei. Saí pra rua puto. Tenho que dá um jeito nesse velho.
Entrei.  A TV estava  ligada. Minha mãe dormia no sofá.  Avancei pelo corredor.  Empurrei a porta.  Adelaide não dormia. Deve está no quarto do velho. Empurrei a porta devagar. Tive que fechar e abrir os olhos para acostumar-se na penumbra. Adelaide e o velho abraçados. Ele pegando pegando as nádegas dela, enfiando os dedos, manipulando todo trêmulo e ainda por cima sugando os peitos dela.   Eles não me viram.  O velho estava com os olhos fechados,  gemendo de prazer,  e Adelaide repetia pausadamente:
 -Mama tudo meu bebê!
Eu saí puto.
A noite estava fria era junho e o  céu todo estrelado.  O velho estava cada vez mais vivo. Puta merda! Tenho que dá um jeito. Veja como é a vida.

O velho tava fodendo comigo e com Adelaide.





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