terça-feira, 22 de janeiro de 2019

O que és?








                                                                O que és?




O que és, senão, um personagem num cenário eterno e hostil refém de uma história sem fim? Observem em volta do mesmo modo os outros. Todos habitam casas de quatro paredes, um teto, janelas e portas não importa.  Tem como principais utensílios, um fogão e uma cama para comer e descansar respectivamente e vez em quando, fazer sexo e o resto da noite as mãos enfiadas na cabeça, sem  conclusão alguma.
Toda a vida passa debatendo-se os corpos para lá e para cá na  amplidão dos espaços, nas praças, nas ruas, sem direção alguma,  realidade virtual, com escassez  de afeto,  mãos que não se tocam, que não abraçam, mentes embriagadas  num labirinto.  Meros engôdos, iscas para predadores. Predadores de si mesmo.
Nas casas, sobre colchões frios, em janelas gradeadas, em portas lacradas, sob os lençóis de suas vergonhas sentem-se seguros.  Ao amanhecer saem, à caça das vítimas prediletas, o resto são estorvos, almas perdidas.
No alto o céu cinza, sem cor, se colorido for, é frio e indiferente, terra ardente, sal da terra, que limpa, que esteriliza etérea terra. Nela o verde brota viçoso, o visgo, a vida.
Os olhos encovados de esperança, não alcançam a generosidade do ser. Um a um se recolhe e se nega a espargir o amor e sofrem, e padecem, e morrem como ilhas.
A necrópole está repleta de boas intenções.

Como bem dissera bem Zygmunt Bauman:

“O amor é mais falado do que vivido e por isso vivemos um tempo de secretas angústias”



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