terça-feira, 12 de novembro de 2019

O Alfa e a menina









                                            O alfa e a menina



Sou aquele homem que perdeu a virgindade na vila boêmia da cidade natal. Todas as putas do lugar eram conhecidas. Cruzavam conosco na missa dominical. Elas doavam o dízimo semanal. Já falei disso antes. Foi em setenta e quatro. Estávamos na ditadura de Geisel. Ele oferecia uma abertura para a volta da democracia. Eu estava mais preocupado em outras aberturas. Havia treinado bastante com as prostitutas e já era hora de comer minha namorada eu pensei esse dia. Nessa época nossos pais diziam “segurem suas cabritas que meu bode está solto”. Foi assim que eu aprendi.
Estávamos no sofá. Não sabia se ela queria, eu queria e isso bastava. Ela era linda. Criada totalmente ao contrário. Enquanto eu passava o dia treinando sexo ela treinava ser mãe com as suas bonecas. Vamos vê o que vai dar essa disparidade.
Nesse dia foram dormir mais cedo. O pai era retireiro, tinha cem vacas para tirar o leite bem cedo. A mãe igualmente ajudava o velho na lida. O irmão mais novo ficou me vigiando até quando pôde. A gente sempre inventava algo para ele fazer. Buscar um copo d água, Ir lá fora vê se ia chover, mas aquele dia ele dormiu como uma pedra.
Só ficou acordado o bode e a cabrita, o lobo e a ovelha.  
Ela levantou-se como fazia todas as noites e veio beijar-me na boca longamente para despedir-nos. Eu agarrei-a pela cintura e disse ao seu ouvido, hoje eu quero mais. Ela disse que não, que o que eu estava pensando, só depois de casados.  Que jamais ia ceder, que sabia como eram os homens etc e etc.
 Eu estava mais seguro, sabia o que a mulher esperava nesse momento. Já tinha praticado de tudo com as prostitutas.
Quero comê-la eu disse.   
Ela hesitou um pouco, mas me beijou longamente. Avancei a mão por entre suas pernas.
Ela tinha o sonho de casamento com véu e grinalda, na igreja, leu todos os livros dos autores românticos principalmente Shakespeare e os primeiros de Machado de Assis. Eu lia somente os romances de Machado em sua fase realista.
Mundos diferentes. Ela fora criada brincando de boneca. Tomar conta da casa, da cria. Eu fui criado como bode solto. Como Alfa.
Com muito custo consegui que ela deixasse colocar por cima da calcinha. Ela estava excitada também. Perguntava toda hora se eu a amava. Eu te amo, te amo, te amos eu teria dito mil vezes mil  enquanto ela deixava-me avançar mais.
Falei a frase crucial. Deixa eu colocar só a cabecinha...
E deixar colocar a cabecinha não tem mais volta ou tem ida e volta.
Enquanto ia e voltava ela não parou de falar um minuto:
Você promete não me abandonar ela dizia. Prometo, prometo, prometo mil vezes mil, um milhão ai gostosura eu dizia.
Ela ficou com uma cara de Madalena arrependida.
Depois chorou em meu ombro lágrimas mornas não sei se de felicidade ou de tristeza.
Não achei muito interessante, devia ser porque era a primeira vez dela.  Ela limpou as lágrimas, jogou os cabelos para traz com um pouco de timidez.  Ela quis beijar mais, mas eu estava satisfeito e a beijei na testa.
Ela não dormiu essa noite.  Eu dormi um sono pesado.  


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